Félix Pacheco. Fonte: Wikipédia/Google |
Piauienses no jornalismo
brasileiro do século XX
Daniel C. B. Ciarlini
Escritor
A história do jornalismo no
Brasil não pode prescindir de avaliar o devido lugar e importância de sete
piauienses que, em diferentes períodos históricos do século XX, escreveram seus
nomes no periodismo nacional. Cada um em uma esfera de interesse; três
teresinenses e quatro parnaibanos: Félix Pacheco, Mário Faustino e Carlos
Castelo Branco; e Berilo Neves, Martins Castelo, Assis Brasil e Renato Castelo
Branco.
Félix Pacheco, tendo seguido a
carreira política, foi um dos empresários que tinha a imprensa como tribuna e
promoção. Apesar de ter migrado para o Rio de Janeiro no final do século XIX,
foi na década de 1920 que se tornou chefe de redação, dirigente e um dos
proprietários do Jornal do Comércio – folha das mais influentes e importantes
do Brasil. No campo literário, traduziu e estudou Baudelaire, foi poeta de
vertente simbolista e o primeiro piauiense a alcançar a imortalidade simbólica
na Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de número dois.
Berilo Neves, menos prático, fez
do periodismo espaço de atuação literária, tornando-se cronista e contista dos
mais lidos do país, e um dos autores fundantes, no Brasil, da ficção
científica, que em sua acepção moderna legou nomes como Jerônimo Monteiro,
Menotti del Picchia e Monteiro Lobato. Até a metade do século XX, mantinha-se
seguramente como o escritor piauiense mais fecundo da imprensa brasileira.
Embora a carreira nas letras
tenha iniciado em 1921, quando participou da redação do jornal A Boa Semente,
de Parnaíba, foi por volta de outubro de 1924 que Berilo estreou na imprensa
carioca, viabilizando sua assinatura nas mais importantes revistas ilustradas
da época, como Careta, Revista da Semana e O Malho, periódicos redigidos por
conhecidos escritores da literatura nacional.
Martins Castelo, por sua vez,
além de poeta foi cronista radiofônico de larga audiência e jornalista de
atuação internacional, compondo o seleto time de redatores de algumas folhas do
meio carioca, a citar Vamos Ler!, Carioca, Diário Carioca, A Batalha, Light,
Beira- -Mar e Noite Ilustrada. Foi ainda tradutor, compositor e publicou na
imprensa contos sob a rubrica de seu principal pseudônimo, Mário Castellar.
Em sequência, Mário Faustino,
poeta que nos anos de 1950 levaria a poesia piauiense ao periodismo das
principais cidades do Brasil, assinou durante alguns anos a coluna
“Poesia-Experiência”, no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, dirigido por
Reynaldo Jardim – caderno de grande valor à crítica, principalmente por lançar
diagnóstico da vida literária brasileira entre os anos de 1956 e 1961. Nesse
mesmo periódico, Francisco de Assis Almeida Brasil sairia do anonimato com a
coluna “Ficção”, tornando-se em pouco tempo romancista premiado.
Renato Castelo Branco, outro
romancista piauiense de grande valor e prêmio, se tornou empresário no setor da
propaganda, ocupando o posto de presidente da agência publicitária J. Walter
Thompson. Sua atuação rendeu referências em importantes jornais como Diário
Carioca, Jornal do Comércio, Diário da Noite, O Jornal, Jornal do Brasil etc.
Além disso, era respeitado e bem quisto pela intelligentsia brasileira, que não
economizava elogios ao seu nome. Gilberto Freire, por exemplo, o definia como
“pesquisador honesto e lúcido”, quando do lançamento do ensaio Piauí: a terra,
o homem, o meio (1970). Como poeta, gênero cultivado desde a juventude, Renato
teve alguns de seus poemas traduzidos para o italiano e reunidos na coletânea
Poesia del Brasile d’oggi, organizada por Renzo Mazzone e publicada na Itália
em 1968.
Por último, Carlos Castelo
Branco, filho do escritor Cristino Castelo Branco. “Castelinho”, como era
conhecido, se tornou o jornalista político mais importante de sua época, tendo
acompanhado todo o período de ditadura no Brasil. Seus posicionamentos em prol
da liberdade e da democracia valeram a morte de um filho, Rodrigo Lordello
Castelo Branco, em 2 de maio de 1976, suposta vítima de um acidente
automobilístico em Brasília. Como informa o jornalista Carlos Marchi, que
conviveu e estudou a história desse piauiense, “sua persistente pregação
democrática constrangia a ditadura e irritava o seu pior lado, a linha dura”.
Antes de jornalista combativo, na
juventude Carlos enveredara pelas linhas literárias, produzindo contos, alguns
publicados no ano de 1948, na Revista Branca, fundada pelo escritor carioca
Saldanha Coelho. Sempre atuante, angariou o respeito e a admiração de nomes do
meio político e cultural, dentre eles o ex-presidente João Goulart (seu amigo)
e o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. No auge dos 61 anos de idade, em
4 de novembro de 1982, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tomando
posse, no ano seguinte, da cadeira de número 34. Foi o segundo piauiense nessa instância
de consagração.
Fonte: Correio do Norte
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