O VELHO ANCIÃO
Elmar Carvalho
No sábado
passado, estive na Oficina da Palavra, pertencente a Cineas Santos, para tirar
fotografia de um belo quadro do Amaral, em que aparece um goleiro em um voo
espetacular e talvez um tanto espetaculoso, para ilustrar uma crônica que fiz
em homenagem a dois grandes goleiros de nosso estado: Coló e Beroso, que
marcaram época, o primeiro a defender o Caiçara, e o segundo, como guarda-meta
do Comercial.
Como goleiro,
com atuações quase sempre regulares ou boas, ao menos segundo meus amigos, fui
admirador dos dois, embora, por ser caiçarino, tivesse certa predileção pelo
Coló, goleiro estiloso, cujas enfeitadas “pontes” admirava e aplaudia. Também
queria fotografar um quadro do saudoso Fernando Costa, que conheci, cujo
talento artístico apreciava. Lamentei sua morte trágica e precoce, décadas
atrás, em pleno carnaval.
Quando eu
estava nesse mister, chegou o Cineas Santos, que foi meu professor em 1976, no
Cursão. Nós, todos os alunos, o admirávamos, mesmo os que não eram tão
interessados em literatura. Garoto interiorano, fanático por literatura,
gostava imensamente de suas aulas. Acompanhei o lançamento de Ciranda, no
Theatro 4 de Setembro, e com muito gosto li suas páginas. Rapaz um tanto
tímido, um dia criei coragem e lhe mostrei alguns poemas e um ou dois contos
meus.
Cineas os leu,
e com a sua proverbial franqueza me disse, com ênfase, que eu tinha “garra”,
mas me aconselhou a ler os poetas modernos, dos quais, entre os que ele citou,
me lembro bem de João Cabral de Mello Neto. Nessa época, deslumbrei-me com o
jornal de cultura Chapada do Corisco, editado pelo Cineas, que estampava os
belos versos do poeta Paulo Machado, intelectual do mais alto valor e honesto,
como cidadão e como ser cultural.
Entretanto, já
no início do ano seguinte (1977) retornei a Parnaíba, para cursar Administração
de Empresas, pois fora aprovado no vestibular, bicho papão na época, uma vez
que existia apenas, como entidade de ensino superior, a Universidade Federal do
Piauí.
Devo
acrescentar que Cineas era um verdadeiro mestre; suas aulas eram fascinantes e
atraíam o aluno, mormente aqueles que, como eu, amavam literatura. Como pessoas
físicas, e não instituições, ele e o professor Raimundo Nonato Monteiro de
Santana são os dois maiores editores do Piauí. Apesar de vigoroso, enérgico e
dinâmico em seus sessenta e poucos anos de vida, em auto-ironia ou talvez como
catarse, para afastar o fantasma da velhice, que ainda vem longe, deu para
chamar-se a si mesmo de o “velho ancião”, com a proposital ênfase da
redundância.
Conquanto,
pelas circunstâncias da vida, não tenha sido um amigo próximo, acompanhei os
seus permanentes e constantes sucessos, como escritor, editor e promotor de
eventos culturais. E sempre lhe reconheci e aplaudi os méritos.
24 de março de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário