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SACRIFÍCIO
Elmar Carvalho
Abrir meu ventre
como uma rosa de carne
e de suas vísceras multicores
pétalas dispostas em arabesco
projetar uma poesia
feita de flores e de fezes.
Cortar meu corpo
e retalhar minha alma
e fazer uma poesia
de matéria e de espírito
e morrer na última palavra
do último verso por nascer.
Drenar
minhas veias e
com seu sangue
regar um poema canibal
que não fale de morte.
E escrever a obra-prima
com o sangue da alma.
OUTONAL
Clóvis Moura
Depois da primavera o caos no
mundo
e uma nuvem deitada nos meus
braços,
criança abandonada que regressa
até o tempo de voltar criança.
Depois da primavera um lance
apenas
de resto para viver um pouco
tarde:
as tardes que perdemos são
memória
e as mãos acordam para um abraço
calmo.
Depois da primavera uma esperança
de tudo ser tranquilo e
repousante,
ser como aquilo que sonhei um
instante.
E depois deste outono a vaga
espera,
um sabor de passado sem memória
ou só memória, após a primavera.
TÚMULOS
H. Dobal
Trovões distantes trazem
de um horizonte escondido uma
tarde de chuva.
A chuva transforma a tarde
nas trevas da noite.
A noite traz de novo os amores
perdidos,
uma ambição abandonada
o tremor das almas transidas no
túmulo dos corpos.
PARA ILUDIR O CORAÇÃO
Da Costa e Silva
Como me enleva e quanto me
impressiona
Conservar sempre nítido comigo
O teu perfil judaico de Madona
Na iluminura de um missal antigo!
A saudade, que nunca me abandona,
(Oh! sombra de minh'alma, eu te
bendigo!),
Ficando a tua imagem se fez dona
Do pensamento em que te dei
abrigo...
Para iludir o coração que pena,
No espelho móvel da memória trago
Teu vulto amado, na expressão
serena...
E iluminas meu ser, num sonho
vago,
Como estrela a abrir-se em luz
serena
Sobre a quietude límpida de um
lago...
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