Elmar visto pelo Gervásio Castro, na condição de literato, juiz, blogueiro e flamenguista |
SERVIDOR
PÚBLICO
Elmar Carvalho
O texto abaixo faz parte do meu livro Confissões de um juiz, que recentemente publiquei na loja Amazon, no formato e-book, através da qual pode ser adquirido. Faz parte do meu Diário Incontínuo, conforme pode ser visto na nota de rodapé. Resolvi republicá-lo em homenagem ao meu filho João Miguel, que recentemente aniversariou. Quando o escrevi, em 15/09/2011, João Miguel se preparava para iniciar o curso de formação de oficiais da PM/AM, sendo hoje capitão dessa briosa corporação militar.
Faz
hoje 36 anos que ingressei no serviço público, quando fui admitido na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos, lotado na Diretoria Regional do Piauí, no
cargo de monitor postal, após ter feito curso de três meses, em Recife. Amanhã,
por coincidência, meu filho João Miguel de Sousa Carvalho segue para Manaus,
onde será aluno do curso para oficial da Polícia Militar do Amazonas, depois de
ser aprovado em difícil e concorrido concurso público. Após as provas, foram
exigidos rigorosos exames e laudos referentes à saúde, além de um extenuante e
reprovativo exame de resistência física, em que muitos não lograram êxito. Por
último, ainda houve teste psicotécnico.
Após
deixar a ECT, ingressei na SUNAB, no cargo de fiscal, através de aprovação em
concurso público, no dia 10 de agosto de 1982. Se não tivesse seguido outro
rumo, hoje seria auditor-fiscal da Receita Federal. Em 19 de dezembro de 1997,
tomei posse junto ao egrégio Tribunal de Justiça do Piauí, no cargo de Juiz de
Direito. Hoje, sou o titular da Comarca de Regeneração, desde 3 de abril de
2007.
Na
minha vida, desde muito cedo, senti atração pelo serviço público, pois nunca
tive vocação nem para empregado e nem para patrão. Também nunca tive desejo de
ser rico. Confesso que sempre desejei ter um bom emprego público, em que
pudesse me sustentar e sustentar minha família com dignidade, sem maiores
sobressaltos financeiros. Deus me concedeu isso, não, talvez, exatamente no
modo e na velocidade em que o almejei, mas me atendeu esse desejo de forma gradativa
e ascendente, como a me moldar, a me aperfeiçoar na experiência e nas lições de
vida.
Não
vou aqui ser um cabotino, e dizer que tenho sido um bom servidor; afinal,
parafraseando Cristo, quem quiser ser o maior, deverá ser aquele que melhor
serve. Portanto, deve ser o melhor servo, aquele que serve, e não o que é
servido. Direi apenas que tenho me esforçado para ser um bom servidor, para
cumprir da melhor forma possível o meu dever, dentro de minhas limitações
físicas e intelectuais, e de acordo com as condições que me são oferecidas, que
certamente não são as ideais.
Considerando
meu tempo ficto na magistratura e no serviço público em geral, tenho mais de
quarenta anos de serviço, e, portanto, já posso requerer minha aposentadoria.
Como gosto do que faço, e continuo estimulado a bem desempenhar o meu ofício,
ainda pretendo seguir na ativa por mais alguns anos. Desde que assumi minhas
funções judicantes, compreendi que a Justiça tardia é muitas vezes injustiça;
que minha maior preocupação não deveria ser o formalismo dos ritos e das
decisões, mas a essência, e a essência é exatamente fazer justiça, agir com
justiça, e com a possível celeridade.
Nem
sempre isso é possível, pois a parte, embora possa ter razão, nem sempre
consegue provar as suas alegações. Mas, digo sem empáfia, tenho buscado
alcançar esse desiderato, analisando as provas carreadas para os autos e
procurando bem instruir o feito. Em meu mister de julgador, com modéstia o
digo, não tenho remorso, pois nunca violentei a minha consciência e jamais
cometi injustiça deliberadamente. Os erros que devo ter cometido foram
involuntários, e se devem à minha condição humana, pois todos os seres humanos
somos pulvis e somos falíveis.
Neste
momento em que o João Miguel se prepara para ingressar no serviço público, peço
a Deus que ele seja um bom servo, seja um bom servidor público, quando estiver
no seu cargo de oficial da Polícia Militar do Amazonas; que tenha prazer em
servir, pois para isso será um servo/servidor público; que cumpra as suas
funções com correção, justiça e bondade. Já tive oportunidade de dizer que quem
é justo é bom, e quem é bom é justo, embora tendo a humildade de reconhecer que
verdadeiramente bom é o Senhor que está nos céus.
Mas
nos esforcemos para sermos um pálido reflexo de sua bondade e justiça. Exorto
meu filho a seguir os princípios estampados no caput do artigo 37 da
Constituição Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência), procurando sempre ser justo e bom, para ter a proteção do
Onipotente, que não vela pelos iníquos e perversos.
(Texto
extraído de Diário Incontínuo, de 15 de setembro de 2011)
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