DIÁRIO
[O estudo de Literatura Piauiense nas escolas]
Elmar Carvalho
29/06/2020
Em nossa
última reunião online, o presidente Zózimo Tavares nos anunciou que neste
sábado, dia 27, o Prof. Dr. Francisco Soares Santos Filho, presidente do
Conselho Estadual de Educação – CEE, iria proferir uma palestra denominada
“Ensino médio pós-BNCC: tem vaga para literatura piauiense?”, através da
tecnologia de videoconferência.
Abrindo a
reunião virtual, o presidente da APL nos explicou que a palestra duraria cerca
de dez minutos, e que, após, cada um dos acadêmicos teria direito a fazer breves
considerações e perguntas. O presidente do CEE, Francisco Soares Filho, foi
exemplar, porque foi claro, objetivo, didático, elucidativo e teve notável
capacidade de síntese. Usou cartelas esquemáticas e infográficos em sua
explanação, de modo a atrair mais ainda a atenção dos virtuais participantes.
Disse que
foi muito importante a reunião, em 13 de fevereiro, da Comissão de nossa
Academia, composta por Zózimo Tavares, Magno Pires, Dílson Lages Monteiro e
Elmar Carvalho, com os membros do Conselho Estadual de Educação, para que o
ensino de Literatura Piauiense passe a ser posto em prática, como determina o
artigo 226 de nossa Constituição Estadual, que lhe instituiu a obrigatoriedade.
Disse também ter sido da mais alta relevância a audiência pública realizada em
20/02 para esse objetivo, da qual participou a nossa Academia Piauiense de
Letras, representada pelo seu presidente, o confrade Zózimo Tavares.
Em sua
elucidativa explanação, o professor Soares Filho falou dos objetivos e
diretrizes da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, de seus garantidores
legais, além de ter se referido a outros dispositivos legais, que fundamentaram
juridicamente a tese de sua palestra. Explicou que a BNCC buscou a equidade,
que é a sua palavra chave. Ilustrou e reforçou sua abordagem com infográficos e
dados estatísticos.
Explicitou que a BNCC comporta o
percentual de 40% para a parte diversificada; que dentro dessa significativa
fatia cabem disciplinas de caráter regional (estadual), entre as quais
Literatura, Geografia, História e Outros aspectos da Cultura Local.
Dessa forma, ante esse cenário de
abertura para a cultura do Estado, o professor Soares Filho, na sua qualidade
de presidente do Conselho Estadual de Educação entende que a Literatura do
Piauí pode e deve ser matéria curricular obrigatória em nosso estado, e está
adotando todas as providências necessárias para que esse sonho dos poetas e
escritores piauienses se concretize, finalmente pondo em prática o que
determina o artigo 226 de nossa Constituição Estadual, promulgada e publicada
em 1989.
Além desse dispositivo
constitucional, que determina ser obrigatório, nas escolas públicas e
particulares, o ensino de literatura piauiense, o professor Francisco Soares
Santos Filho também invocou a Lei Estadual nº 6.563/2014, que “dispõe sobre a
preferência pela adoção de autores piauienses”. A propósito desta Lei, relembro
que outrora, no tempo dos célebres e fatigantes vestibulares, alguns autores
piauienses eram estudados em sala de aula, sempre os mesmos, e que não passavam
de meia dúzia. Mesmo assim, isso contribuía para uma maior divulgação e estudo
de nossa literatura.
Mas, não bastasse o permissivo legal
da BNCC e dos diplomas legais referidos, o ilustre palestrante ainda invocou
várias outras razões para o ensino de literatura piauiense, tais como: 1) “A
literatura é a manifestação da cultura de um povo na forma de expressões
faladas ou escritas.” 2) “Exprime o perfil cultural de uma sociedade.” 3) “É a
expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem (Louis Bonald).”
Por fim, Soares Filho proclamou, de
forma muito clara, enfática e peremptória, que não há nenhuma desculpa para que
não seja implementado na forma insculpida no texto constitucional o ensino de
Literatura Piauiense.
No debate, em suas considerações,
todos os acadêmicos elogiaram a palestra, o esforço e o zelo do professor
Soares Filho em acatar o pleito da gestão do presidente Zózimo Tavares, no
objetivo de que o ensino de nossa literatura seja efetivamente implementado nas
escolas, e deixe de ser uma letra morta de nossa Constituição piauiense.
Participaram do debate virtual, além deste cronista e do presidente Zózimo, os acadêmicos
Felipe Mendes, Paulo Nunes, Nildomar da Silveira Soares, Itamar Abreu Costa,
Jônathas Nunes, Oton Lustosa, Fonseca
Neto, Francisco Miguel de Moura, Socorro Rios Magalhães, Dílson Lages Monteiro
e Plínio Macedo.
Aproveito a deixa, para expandir (aqui)
o que disse de forma sintética em minha participação no debate, quando me foi
facultada a palavra.
Parabenizei o Prof. Dr. Francisco
Soares Santos Filho por sua excelente palestra e por seu zelo e dedicação no
exercício de seu cargo público, e sobretudo por ter acolhido essa
importantíssima meta da gestão do presidente Zózimo Tavares. E por isso mesmo
sugeri lhe seja concedida nossa honraria máxima, a Medalha do Mérito Lucídio
Freitas, e, se ainda houver disponível, a do Centenário.
Disse que em meu biênio na
presidência na União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE/PI (1988/2000),
sucedendo Francisco Miguel de Moura (1986/1988), tive como principal desiderato
conseguir fosse insculpida no texto da Constituição Estadual de 1989 a obrigatoriedade
do ensino de Literatura Piauiense. Inclusive consegui produzir um
abaixo-assinado, com mais de quinhentas assinaturas, reivindicando a inclusão
desse pleito em nossa Carta Magna. Tive o apoio dos colegas de diretoria e dos sócios
mais assíduos a nossas reuniões semanais, cujos nomes passo a citar: Francisco
Miguel de Moura, Hardi Filho, Adrião Neto, Rubervam Du Nascimento, Herculano
Moraes, José Pereira Bezerra, Bezerra Filho, Osvaldo Monteiro, fora outros que
não recordo no momento.
Contudo, o que foi decisivo para a
consecução desse objetivo foi meu contato e de minha diretoria, além de outros membros
da UBE/PI, com o ilustre deputado Humberto Reis da Silveira, que era o
relator-geral da Constituinte. Ele achou uma excelente ideia, e a adotou quase
como de sua iniciativa, passando a tomar todas as providências cabíveis e
necessárias para que nosso sonho se tornasse realidade, não poupando nenhum
esforço para isso. Mas não foi uma tarefa fácil.
No início mantive contato com
presidentes de entidades afins, que não demonstraram o menor interesse pela
causa. Talvez porque a ideia não fora sua, ou talvez porque a achassem
desnecessária ou pequena. Também alguns políticos, deles alguns vinculados à cultura,
não lhe deram importância e mesmo a julgaram indigna de ser posta em
dispositivo constitucional. Tanto que o dispositivo foi rechaçado no primeiro
turno.
Todavia, Humberto Reis da Silveira,
na condição de relator-geral, tinha a prerrogativa de poder reapresentá-lo para
discussão e votação em segundo turno, e assim o fez, conseguindo afinal a sua
inclusão na Carta Magna, cuja redação, na época, se não estou enganado,
continha apenas a obrigatoriedade do ensino de literatura piauiense.
Por seu interesse, zelo e esforço na
consecução desse objetivo, homenageei Humberto Reis com os Diplomas do Mérito
Da Costa e Silva e de Sócio Honorário (ou benemérito) da UBE/PI, honrarias
criadas em minha gestão, e que ele mantinha expostas, em lugar de honra, em seu
gabinete, em que cheguei a ver vários livros e antologias de nossa literatura.
Logo no primeiro encontro que tive
com ele, contei-lhe que meu pai, Miguel Arcângelo de Deus Carvalho, natural de
Barras, havia sido seu colega no Colégio Diocesano, nos idos de 1939/1940.
Imediatamente seu semblante mudou, e ele se tornou ainda mais cordial para
comigo.
Iniciamos uma forte amizade, que
perdurou até seu falecimento. Promovi o encontro dele com meu pai. Em resumo e
para finalizar, sua amizade para comigo se tornou tão sólida, que basta que eu
conte o seguinte: quando fiz a cirurgia, em virtude de meu primeiro CA, durante
duas semanas, todo dia ele ia me visitar no apartamento do hospital, o que
muito me sensibilizou, bem como minha mulher, Fátima, e meus pais. Foi um político
probo, que em mais de 50 anos de vida parlamentar não amealhou cabedais.
Apesar do meu esforço pessoal e de
outros valorosos companheiros, infelizmente o mandamento constitucional se tornou
uma verdadeira letra morta, nunca vindo a ser implementado, exceto por
iniciativa pessoal dos dirigentes de algumas escolas. Quando ingressei em nossa
Academia, em 19/11/2008, em algumas reuniões, inclusive em meu discurso de
posse, tratei desse assunto, tendo o acolhimento solidário de vários colegas,
que reconheceram o alto valor da colocação em prática desse dispositivo, entre
os quais Herculano Moraes.
Quando Zózimo Tavares, com o seu
carisma, simpatia, amizades pessoais e esforço, no começo deste ano, assumiu a
presidência da Academia Piauiense de Letras, colocou como sua meta principal o
cumprimento efetivo do artigo 226 de nossa Constituição Estadual, na parte
referente ao ensino de Literatura Piauiense.
Adotou as providências já referidas
acima e partiu para a luta, porque teve a compreensão da importância e alcance
dessa desejada conquista. Fez desse objetivo um verdadeiro cavalo de batalha. E
tudo indica, pelo que já expus, que essa meta de sua gestão já está quase
alcançada. Como na parábola de Cristo, foi uma semente que caiu em terreno fértil,
e o terreno fecundo foram a vontade, a persistência e o trabalho bem organizado
de Zózimo Tavares e de Soares Filho.
Na minha opinião, será a mais
importante conquista da Literatura Piauiense, e consequentemente de nossos
escritores. Porque a nossa literatura se tornará mais conhecida, e porque
nossos escritores serão lidos por mais e novos leitores, muitos dos quais serão
formados a partir dessa implementação.
Lembro que quando fiz o 1° ano do ensino médio, há 20 anos, tive a disciplina de Literatura, onde, se a minha memoria não falha, tivemos um pouco de literatura piauiense. Acho que deveria ser obrigatório essa disciplina no contexto regional, podendo ser ensinada ou no antigo primário ou no antigo ginásio, assim como a disciplina de historia e geografia. Lembro também que na 3° série do antigo primario tive a disciplina de Estudos Sociais, que era sobre o estado do Piaui, e até hoje guardo na memória os ensinamentos que contam a origem de alguns fatos e personalidades do nosso estado.
ResponderExcluirSe Deus quiser breve será implementada essa grande conquista, qual seja,o ensino de literatura piauiense.
ResponderExcluirGrande e valoroso, poeta Elmar, é o seu artigo' fortemente. Vou tranceve-lo no meu blog. Abracos
ResponderExcluirMuito obrigado, caro Chico.
ResponderExcluirCaro amigo, Elmar Carvalho, iniciei meus estudos, no ano de 1971, em Parnaíba, na Escola São Francisco dos Capuchinhos, não se ouvia falar e nem se lia autores piauienses, com raríssimas exceções. Nos idos de 1975, como o meu pai trabalhava com juiz de direito, o escritor e professor João Nonon de Moura Fontes Ibiapina, como titular das disciplinas de Educação Moral e Cívica-EMC e Organização da Política Social Brasileira-OSPB nos colégios Ginásio São Luiz Gonzaga e Padre Vieira, ele foi presenteado com um livro que o professor tivera lançado recentemente naquele ano: “Passarelas de Marmotas”, logicamente, em seguida, meu pai repassou-me para que eu lesse. Foi o primeiro livro literário que li, foi bem oportuno para aquela época que as crianças ouviam muitas histórias de trancoso como lazer (Lobisomem, Não Se Pode, Porca dos Dentes de Ouro, Mula sem cabeça, Assobiador etc), ficávamos sentados em bancos de madeiras sem encosto, a minha prima Neguinha contava para nós essas histórias. Íamos dormir em redes com um frio na barriga enrolado em lençóis.
ResponderExcluirPensava que esta questão da Literatura Piauiense nas escolas já estava resolvida, pois por volta do ano de 1999, quando minha esposa fizera alguns cursinhos aqui em Teresina, havia uma apostila, do Colégio Sapiens, de autoria do Professor Luiz Romero Lima, que se estudava e tinha o nome “A Literatura no Piauí” (talvez ele tenha transformado em livro): Assis Brasil, Da Costa e Silva, O. G. Rego de Carvalho, Francisco Miguel de Moura, Fontes Ibiapina, Mauro Faustinho etc, e até porque na época já estávamos sobre a égipe da nova Carta Constitucional Piauiense de 1989. Contudo, é louvável a luta da atual gestão da Academia Piauiense de Letras em conseguir este grande feito para que nossos descendentes conheçam os escritores e poetas de nosso Estado e nós sejamos uma “sociedade dos poetas e escritores vivos”.
Abraço,
Everardo de Oliveira
Parnaíba-PI