quinta-feira, 23 de julho de 2020

ONDE ESTÃO MEUS AMIGOS

Fonte: Mensagens com amor/Google

ONDE ESTÃO MEUS AMIGOS

Carlos Henriques de Araújo
Memorialista e cronista

Hoje faz setenta dias de “quarentena” por conta dessa pandemia. Entre todos os problemas advindos por ela e com ela, o que mais me envolveu foi a ausência dos amigos – a solidão. Por ironia do destino, há alguns meses, eu fiz a crônica “Procura-se um amigo”, mas só, vamos dizer assim, de brincadeira. Mas agora se tornou de verdade. Vou reescrevê-la porque agora ela é pertinente.  

                         Procura-se um amigo
                                                                  
Domingo à tarde. Estou só, na varanda de um apartamento na praia do Coqueiro. O dia está se despedindo e o sol mergulhando no mar sob um céu avermelhado, ao longe, escuta-se o ruído das ondas se quebrando na praia.

Diante desse espetáculo maravilhoso da natureza, um sentimento de solidão me invade o peito e me traz à lembrança uma carta que Vinicius de Morais mandou para Tom Jobim, quando morava sozinho em Paris. 

Da varanda do quarto do hotel de frente para uma praça, em que estava hospedado, ele refletia sobre a solidão das pessoas. E para descrever aquele momento de solidão que sentia, ele atribuiu à ausência de amigos. 

Eu, como ele, também, longe dos meus amigos e nesta praia deserta, sem ninguém, apenas algumas canoas de pescadores amarradas, faço esta crônica, eivada do mesmo sentimento - a solidão.

Procuro um amigo que goste de viajar, de conhecer outros lugares e outras culturas. Que goste de ler de poesia, de ouvir uma boa música, de conversar, de tomar um bom vinho, de ver a lua cheia, de fazer uma seresta, de curtir o pôr do sol.

Um amigo que goste de campos verdes, de montanhas, de cachoeiras e rios. Que goste de ouvir o canto dos pássaros, o murmúrio silencioso da brisa da madrugada. Que goste de um barzinho, de cidade pequena e de ruas tortas, de uma casa no campo e do cheiro de terra molhada depois da primeira chuva.

Um amigo que respeite a natureza, que proteja os animais, que goste ver os bichos brincando e os pássaros cantando. Que ame o próximo e respeite a dor alheia. Que seja solidário e paciente. Que tenha piedade das pessoas tristes e compreenda a solidão dos velhos, dos doentes e dos sozinhos e sem amigos.

Um amigo que tenha um sonho, um ideal e que lute por ele. Que se emocione com as coisas simples da vida. Que tenha prazer em fazer o bem a todos sem esperar retorno. Que se realize com suas realizações e com as dos outros.

Um amigo que curta a vida e diga que vale a pena viver, porque a vida é bela e uma dádiva divina. Um amigo que entenda que a vida é hoje, é agora, é já. Que o amanhã é uma esperança que temos em nossa mente e que o passado é um retrato de tudo que fizemos, pintado com os pincéis das nossas ações, atitudes e escolhas.

Diferente do Roberto Carlos, eu não tenho um milhão de amigos, mas sou grato a todos os meus amigos, pois eles são parte da minha felicidade.

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