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DE LÍDER A MÁRTIR - 24 DE AGOSTO DE 1954!
Jônathas de Barros Nunes
Membro da Academia Piauiense de Letras
O BRASIL, em instantes críticos de sua história, tem exigido de alguns de seus filhos, as formas mais desumanas, de desagravo à alma da Nação brasileira, quando ela é vilipendiada por forças nocivas ou estranhas. Foi assim em agosto de 1954.
A crise politico-militar brasileira
se aprofunda com o assassinato do Major
da Ativa da Aeronáutica Rubens Vaz, ocorrido em cinco de agosto, em
companhia do Senhor Carlos Lacerda, de quem era segurança. As primeiras
conclusões do IPM instaurado na Base
Aérea do Galeão apontavam o envolvimento direto de elementos da Guarda pessoal do
Presidente Vargas no crime. Oficiais Generais
da Aeronáutica, arvorando-se em donos da situação no Rio de Janeiro, lançam
ultimato exigindo a renúncia do Presidente Vargas. Na esteira da Aeronáutica, o
Almirantado majoritariamente também se
manifesta pela renúncia do Presidente. Na raiz de tudo o ódio explosivo alimentado pelas duas derrotas eleitorais consecutivas
impostas por Getúlio à candidatura udenista do lider da Aeronáutica, Brigadeiro
Eduardo Gomes. Este Oficial exercia grande liderança na Força Aérea Brasileira.
No pano de fundo emerge a figura de Carlos
Lacerda, líder radical da oposição nacional a Getúlio. Extremista de Direita,
radical e incendiário, inoculou na mente de umas duas centenas de Oficiais das
Forças Armadas, a firme convicção de que o Brasil estava dominado pela
corrupção e pelo comunismo, sendo Getúllio o grande responsável por essa
situação. Não media as consequências dos
ataques por ele desfechados contra a pessoa e a família do Presidente. Uma
espécie de Bolsonaro da época, mas intelectualmente anos-luz mais preparado. E
o Exército?
O Ministro da Guerra, General
Zenóbio da Costa, veterano da FEB, sentiu-se entre a “cruz e a espada”. De um
lado, sua fidelidade ao Presidente constitucionalmente eleito. E de outro lado,
a posição dos colegas de farda da
Aeronáutica e da Marinha, fanatizados pelo ódio udenista e lacerdista a tudo
que representava o getulismo. Com a Vila
Militar em prontidão rigorosa, sob o
Comando dos Generais Nelson de Melo e Odilio
Denys, à espera das decisões do Ministro Zenóbio da Costa, este na reunião ministerial
no Palácio do Catete(que se prolonga pela noite adentro), assim se manifesta: “Presidente,
o Exército está com a Constituição, está com o Senhor. Agora Presidente, muita gente tá
achando que talvez seja bom o Senhor tirar uma licença.” O velho Getúlio(GêGê) entendeu
tudo! E foi contundente na resposta :
“Não renuncio!...E se esses amotinados vierem até a porta do Catete, daqui só
me levarão morto!” Pouco depois, o General Zenóbio deixa a reunião do
Ministério e se dirige à Vila Militar, com o Presidente ainda em plena reunião
ministerial. Ao deixar o Catete, o
General é indagado por um repórter da Folha da Manhã, hoje Folha de São Paulo:
Ministro, a situação agora parece que está normal, não é?
“Parece não, normalíssima. Enquanto
eu for Ministro da Guerra não haverá golpe nem desrespeito à Constituição. A
ordem será mantida e a Constituição respeitada”.
Mas ontem, Ministro, as coisas
estavam pretas, não acha?
“Preta por que?” responde o
Ministro, alteando a voz. “Não tenho medo de cara feia. Já lutei na Itália a
frente de meus comandados e nunca tive medo. Pode a nação ficar tranquila que o
Exército saberá cumprir o seu dever. E quando falo, não o faço em meu nome, mas
no do Exército que está coeso para defender a Constituição”.
Entrementes, os militares
amotinados em assembleia permanente no Clube da Aeronáutica, recusam, claro e bom
som, até mesmo uma licença do Presidente.
Às 08 horas e 35 minutos de 24 de agosto de 1954, o Presidente Getúlio
Vargas pressente a chegada iminente dos protagonistas da República do Galeão! Em seu quarto, no Palácio do Catete, toma a
pistola automática e atira contra o
peito. Consumatum est. Como rastilho de
pólvora, os “Miseráveis” de Vitor Hugo”,
nesse lado do Atlântico, observam no céu
cinzento e triste daquela manhã de agosto carioca, raios inesperados cortando o céu pra todo lado com a mensagem mais triste que o
canto da Acauã... “mataram Getúlio!” Num piscar de olhos a região do Catete,
Largo do Machado, Flamengo Passeio Público, Cinelândia, estavam com dezenas e
dezenas de milhares de pessoas, a imensa maioria formada pelos “miseráveis de
Vitor Hugo” descendo das favelas dos morros cariocas. Praticamente todos os
efetivos do Exército e da polícia tiveram que ser mobilizados para tentar conter
os justos excessos do estado de comoção da população com o sacrifício de Getúlio. O Senhor Carlos Lacerda,
um dos principais alvos da ira popular, ao que se soube foi se refugiar no
recinto da República do Galeão.
Certa feita, quando servia na Escola
de Material Bélico do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, de 1961 a
1964, meu Comandante, o então Coronel Vicente de Paulo Dale Coutinho comentando a situação do
seu grupo politico-militar, radicalmente
anti-getúlio, dentro do Exército, por sinal muito bem articulado, comentou:
“...pois é, em 54, estava tudo preparado
para a gente assumir tudo por dez anos, mas ai o Getúlio se suicida e estragou
tudo.”
O silêncio de Getúlio não terá sido em vão! Até no instante supremo, conseguiu dar uma rasteira nos inimigos da Pátria com incrível maestria.
Comandante Elmar, é uma honra para mim ocupar espaço no blog do amigo.
ResponderExcluirJônathas Nunes
Fui eu quem se sentiu honrado em publicar um texto do nosso comandante em chefe.
ResponderExcluirFui eu quem se sentiu honrado em publicar um texto do nosso comandante em chefe.
ResponderExcluirMeus caros Jonathas e Elmar, vivi, de perto, estes momentos. Era eu interno do colégio Pedro II, no Rio de janeiro, em 1954, fazendo o curso científico . No dia da morte de Getúlio Vargas o diretor do internato, prof. Wandick Londres da Nóbrega liberou todos os alunos para participarem dos funerais daquele homem público que ficou gravado na história do Brasil. Permaneci uma semana no apartamento do meu tio e de lá acompanheitodos os acontecimentos.
ResponderExcluirNildomar Silveira
Caro desembargador já está na hora de o amigo nos contar esta e outras coisas através de um livro de memórias. O amigo tem o que contar e com certeza saberá contar de forma atraente e instigante.
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