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LEGADOS E/OU LEMBRANÇAS DA PANDEMIA
Antônio Francisco Sousa – Auditor
Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Escolhi
o dia em que estava completando cinco meses de reclusão e total isolamento,
plena e vigente quarentena, dezoito de agosto, para arrolar, já, alguns legados
desta pandemia, que, logicamente, serão consumidos ou se esfumarão com o passar
do tempo, e lembranças que, se ficarem indeléveis, que o seja somente como
tristes reminiscências, recordações, não feito cicatrizes, tatuagens, sinais
dolorosos no corpo e na alma.
Nesse
período, como, praticamente, não saí do meu canto, nem para ir à casa dos pais;
por umas duas horas e não mais que a dois quilômetros, dele me ausentei para
vacinar-me com o antigripal atual; por não interagir com outras pessoas, e
imunizado, não contraí gripe, não me envolvi em assaltos ou violência no
trânsito – apesar de, na própria garagem caseira, por inatividade do nosso
automóvel, haver perdido uma bateria -; sem correr atrás da sagrada bolinha,
nas igualmente santas peladas, não me contundi, não torci tornozelo nem joelho
– em compensação, não vibrei com os “belos gols” marcados, nem participei, com
os colegas, de animadas resenhas; não fui vítima de problemas gastrintestinais,
mas engordei uns dois quilos - que pretendo perder até o final do cárcere
sanitário -, graças às comidinhas encomendadas; a pele deu uma clareada, e até
os calos diminuíram ou murcharam, o que parece autoexplicável: não calcei
sapato nem chuteiras, ora.
Durante
o recolhimento, mas, mesmo que não estivesse, veria ou tomaria conhecimento, do
ror de profissionais, notadamente, da mídia – alguns, despreocupando-se dos
riscos e minimizando a própria segurança, levaram boas traulitadas -,
criticando governantes que cismaram em não liberar a população para ir ao trabalho, produzir
e/ou se divertir, como eles, os críticos e uma porção de indivíduos ou
empresários pouco preocupados com a virose, gostariam de que fosse a decisão dos
gestores; que, claro, não foram na conversa dos apressadinhos e continuaram
pensando na maioria da população, pois sabiam que, de prontidão, estava, e
ainda está, um vírus que não brinca em serviço, nem respeita ninguém; vi e
ouvi, nesse interregno, político e seu amigo, tipo figadal, governante, com
quem caminhava e cantava, falavam a língua dos homens, dividiam dores e gozos,
de repente, romperem uma aliança que parecia sólida; e o cisma os levaria,
então, a tomar por inverdade, o que nos tempos de dourada parceria e de
práticas subterrâneas, fora verdade. E tome demagogia. Pode até ser, não
duvido, que antes de finda a pandemia, eles façam as pazes ou, quem sabe, de
tanto acusarem-se, despertem o interesse de autoridades policiais ou judiciais
em saber que verdades, inverdades ou lorotas seriam as que, por tanto tempo,
escamotearam, negacearam.
Como
não lembrar deste fato hilário que ocorreu nestes tempos pandêmicos? A pública
cobrança por mimos feita por um articulista da mídia impressa que, em razão das
restrições causadas pela pandemia, não poderia fazer sua tradicional festa de
aniversário. Enquanto pôde, até o dia do evento natalício, alertou àqueles
amigos que poderiam esquecê-lo, de que, caso necessário, enviar-lhes-ia
mensagens contendo as contas que deveriam receber os presentes, lembranças,
recordações. Chegaria a fazer “doces ameaças” aos “fãs” com algo do tipo: uma
mão lava a outra ou, é dando que se recebe; aos teimosos ou indiferentes nada
recomendou. Ou será que pensou em “todo cuidado é pouco? ”. Parabéns para você!
Não
tenho dúvidas, quanto a estes legados, quão difícil será esquecê-los: aumento
dos níveis de estresse, nervosismo e de tensão arterial; medo sofrido ante a
possibilidade de poder ser infectado por alguém da família que, sem saber nem
apresentar qualquer sintoma aparente – exemplos contava-se aos montes -, bem
que poderia haver contraído o vírus, por aí, o que, felizmente, não aconteceu;
o dissabor, por ter acusado de que iria espalhar o vírus aquele parente, com
todos os sintomas de estar infectado, mas que se mantinha cético e
despreocupado; e que, de fato, não estava, para o bem de todos.
Até
agora, os piores legados foram, infelizmente, as perdas de parentes, amigos,
conhecidos, camaradas, ídolos; mas, também a partida de gente desconhecida,
seres humanos queridos dos seus próximos, como todos os nossos,
inesperadamente, abatidos por esse demoníaco coronavírus. Esses demorarão a
esfumar-se da memória, provavelmente.
Entre os bons, elencaríamos a recuperação de amigos, parentes, gente do nosso convívio ou fora dele, salvos das garras da insidiosa e traiçoeira COVID-19; todavia, o maior legado ainda está por vir, e tomara isso ocorra sem muita tardança, melhor que seja antes de finda a pandemia, para o bem geral da humanidade: a disponibilização de uma ou de várias vacinas, comprovadamente, eficazes na imunização, colocando um ponto, senão final ou ad aeternum, por uma longa e pacífica temporada, em tanto sofrimento causado pelo maldito coronavírus.
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