quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Espetáculo serrano




Espetáculo serrano 


Carlos Rubem

Articulista e cronista 


Parece que foi ontem o falecimento do Joca Oeiras (01.11.1947 - 09.11.2017), vítima de complicações respiratórias.


Nestes 03 anos de encantamento, a lembrança do “Anjo Andarilho” me é recorrente. Interessante é que muita gente ao me ver desperta a lembrança dele.


O nosso relacionamento fraternal durou 15 anos desde o dia 27 de dezembro de 2002 quando nos conhecemos no Café Oeiras, data  da sua chegada em nosso meio. Apaixonou-se pela cidade e sua gente. 


Deixou sua terra natal, São Paulo, e veio morar no Piauí. Abandonou o emprego, vendeu imóveis, fixou-se em nossa terrinha.


Formamos uma dupla de sonhadores. Encampamos muitas batalhas de interesse coletivo. Promovemos e participamos de muitos eventos culturais. Viajamos muito Piauí afora.


Porém, em julho de 2008, fomos assistir ao Festival de Música, em Viçosa, Ceará, cidade encravada na Serra da Ibiapaba. Naquele ano se celebrava o cinquentenário da Bossa Nova.


Informaram-nos que no interior daquele município havia várias fábricas de cachaça caseira e atrativos naturais, cachoeiras... Deram-nos as coordenadas.


Na minha velha Blazer, fomos conhecer estes pontos turísticos. Joca curtia uma bruta ressaca. Estava com sono. Nem havia tomado café. 


Logo que deixamos o perímetro urbano, deparamo-nos com uma indizível paisagem. Ao lado esquerdo da pista de rolamento, grande penhasco donde brotava esguichos d’água.


Estacionei o carro no acostamento. Peguei minha máquina fotográfica para registrar aquele belo cenário serrano. Extasiado com o que descortinava, ouvi estridente buzina de carro.


Quando volvi meu rosto, deparo-me com um fato inusitado. Joca, completamente nu, tomava banho à margem da estrada.


Cidadão espaçoso, espandongado, continuou a banhar indiferente à reação daqueles que por lá trafegavam. Os passageiros de um lotado ônibus que subia vagarosamente ladeira acima fizeram a maior algazarra. Seus celulares foram acionados. Ri muito daquela palhaçada!


Perder um amigo dói muito...

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