terça-feira, 13 de outubro de 2020

LAMBUZOU-SE NA LAMA PARA NÃO SER PRESO

 

Dourado e Augusto, em charge de Gervásio Castro

LAMBUZOU-SE NA LAMA PARA NÃO SER PRESO


Antonio Gallas

Contista e cronista

  

Quando alguém recebe uma ordem de prisão, quer seja por mandado ou em flagrante, procura sempre dar um jeito de escapar das garras da patrulha. É o famoso jeitinho brasileiro. Na verdade, ninguém quer ser preso, ninguém quer ficar atrás das grades para ver o sol nascer quadrado.

 Nos noticiários da televisão, temos acompanhado as artimanhas criadas por políticos, empresários, médicos, "laranjas", religiosos, traficantes e outros que para não serem levados ao xilindró inventam de tudo.

Alguns apresentam atestados médicos dizendo serem portadores de doenças crônicas, ou fogem para outros países, e em muitos casos até se fingem de mortos como foi o daquele prefeito de uma cidade no Peru, que se fingiu de morto para evitar ser preso após sair para beber em meio à pandemia, fato narrado em episódio já publicado neste blog.

 A história que vou contar aconteceu aqui mesmo na querida Parnaibinha de Nossa Senhora da Graça e teve como cenário o "cheira mijo" -  Bairro São José.

O personagem principal foi o nosso amigo boêmio, carnavalesco e humorista José Dourado Filho, Zé Dourado, ou simplesmente Douradim, como o chamávamos na intimidade.                                                                                                                                                                                                                                         

 Frequentador assíduo do Bar do Augusto (in memoriam) ou “ Bar Recanto da Saudade” e de outros pontos da boêmia parnaibana, foi o próprio Douradim (in memoriam)  quem narrou o fato para o escritor José Luiz de Carvalho numa das costumeiras reuniões da Forja no bairro São José bem aos fundos da Fundição Perseverança, uma das pioneiras metalúrgicas do Estado do Piauí .

 O Bar Recanto da Saudade ou Bar do Augusto ficava no Bairro São José na região conhecida por Munguba, outrora frequentada por embarcadiços ou porcos d’água por se tratar de uma Zona de Baixo Meretrício próxima ao cais onde atracavam as embarcações vindas do Porto de Tutóia e de outras reo Piauí.

 O nome  Forja dado a esses encontros, faz alusão ao conjunto de equipamentos utilizados pelos ferreiros na fundição de metais. Na Forja reuniam-se intelectuais, boêmios, empresários, aposentados e outros contadores de histórias... E dentre eles estava o nosso Douradim a contar suas bravatas.

Num desses encontros, sempre realizados no final das tardes e regados a churrasco, cerveja gelada compradas no Bar do Augusto, o Douradim contou ao escritor José Luiz de Carvalho que certa vez,  após tomar umas  e outras, excedeu-se  e começou a  abusar no bar onde estava inclusive provocando outros fregueses que só  não o bateram em consideração à dono do estabelecimento.

Segundo ele mesmo contou, abusou tanto, que a dona do bar não teve outra alternativa a não ser chamar a polícia.

 Era início da década de 1970, inverno vigoroso e como sempre àquela época o bairro São José sofria com alagamentos. Em frente ao bar onde estava havia criado uma lagoa cheia de lamas. Mais lamas do que água. Local predileto para os porcos se refrescarem do calor ao meio dia.

 O governador do estado, o parnaibano Alberto Silva havia destinado duas viaturas de Rádio Patrulha para sua cidade natal. Dois fusquinhas zerinho da silva e como se diz popularmente, ainda  cheirando a leite para o serviço da segurança em Parnaíba.

 Ao ouvir o barulho da sirene dos carros, Douradim pensou... pensou...

 E foi então que teve a brilhante ideia:  Entrou na lama e começou a rolar pelo chão, lambuzando-se todo.

 Quando a viatura chegou e os policiais desceram para efetuar a prisão perguntaram: ­"cadê o meliante"? Dona Graça responde: tá aí  se lambuzando com os porcos.

 Cabo Élcio então olhou, sorriu e ordenou:   vambora negrada. Deixa esse porco aí. Ele vai é sujar  completamente os bancos da viatura.                   

3 comentários:

  1. Caro Gallas,
    Acredito que o episódio que você conta foi apenas um fato isolado na vida do Dourado. Na verdade, ele bebia com educação e era bem visto pelas pessoas em geral. Inclusive, ele era amigo de pessoas bem sucedidas em suas profissões, como médicos, engenheiros, advogado, professores, etc., e que gostavam de sua companhia. Tinha senso de humor e era pessoa cordial e agradável.

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  2. Não tenho dúvidas de que ele era uma boa pessoa. Não quis aqui mostrar um lado negativo dele mas apenas relatar um fato humorístico, dentre tantos outros narrados por ele próprio. Douradim era muito querido de seus amigos.

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  3. Sei disso. Você era um admirador do nosso bravo Douradim, boêmio na boa acepção do vocábulo,além disso carnavalesco e compositor, e que poderia ter sido um humorista se o desejasse:⁶, pois talento não lhe faltava.

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