A volta do Boêmio
Sousa Filho
É engraçado. Há momentos em que acontecem coisa em nossas vidas que se parecem muito com fatos ocorridos nos textos literários, guardadas as devidas proporções. Ontem me senti o próprio Quincas Berro d’Água. Não que meus amigos tivessem me levado para passear pelas ruas de Salvador e nos prostíbulos dentro de um caixão depois de morto.
Acontece que eu que sempre gostei de noitadas e bebedeiras, há
muito tempo não sabia o que era isso devido a um problema de saúde que não vale
a pena relatar o tipo de moléstia. Para aguçar a sua curiosidade, direi apenas
que era um problema físico, sem maiores detalhes por enquanto.
Devo dizer que me deu uma vontade danada de tomar umas e requerer
da boemia “minha mais nova inscrição”. Comecei então a pensar numa forma de
como faria isso, uma vez que estou há algum tempo usando muletas. Mas como
fazer isso? Lembrei do meu irmão, liguei pra ele para lhe contar minhas
intenções de voltar pelo menos por algumas horas à boa a velha vida boêmia.
– Preciso de sua ajuda, irmão!
– Diga lá, irmão, disse ele.
– Você lembra o que os amigos do Quincas Berro d’Água fizeram com
ele após a morte dele?
– Lembro, respondeu meu irmão já um pouco curioso com aquela
proposta que fiz.
– Quero fazer parecido, falei.
– Entendi. Respondeu.
– Só tem um pequeno problema: onde vamos encontrar um caixão para
lhe colocar dentro?
E mais: todos cabarés estão fechados devido à pandemia. Todos:
Zilda Pé de Cansanção, Stefane Boca de Lata, Raimunda Cospe Fogo, Mata Cratera…
– Calma!
– Não precisa pegar as coisas ao pé da letra. Só preciso que você
venha me buscar para que eu saia desse cárcere quase privado.
Enfim, deixando o entreatos e indo aos finalmente, saímos para
voltear e tomar umas, escondidos, devido a um bendito decreto governamental,
consequência da pandemia de corona vírus.
Depois de um nem tão breve regresso à boemia, eu já estava
chamando cachorro de cacha, Jesus de Genésio e urubu de meu louro. Lembrei do
Raul Seixas, tipo: “parem o mundo que eu quero descer”. Mesmo assim, ficamos
mais algumas horas papeando; conversa de bêbado.
Decidimos ir pra casa. Não chegamos nem perto de fazer as loucuras
que os amigos do Quincas fizeram com ele. Tudo bem. Não podia ser igual. Eu
estava vivo. No caso do Quincas…
Cheguei em casa com minha cabeça latejando de dor, consequência do
álcool ingerido. Parecia que o Hulk tinha dançado ula-ula em cima dela…
Depois dessa, acho que vou passar um bom tempo sem querer dar uma de Quincas Berro d’Água. Galinha que acompanha pato morre afogada. Por fim, nessas andanças, embora não tenhamos andado em nenhum “quebra”, acabei mesmo foi dormindo com uma puta dor de cabeça.
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