quarta-feira, 7 de abril de 2021

Todo poeta é eterno

Jorge Carvalho em foto recente

Casa dos pais dos poetas, onde morava
Grupo de intelectuais da Geração 70, a que pertencia o poeta. Ele tem poemas em vários dos livros acima.



Todo poeta é eterno

Luiz Ayrton

Médico, poeta e escritor


Morreu um poeta. Desses parnaibanos cheios de cenários. Dr. Jorge Antonio da Costa Carvalho com as mãos vazias fazia poesia, com as mãos atiradas tirou de si a tirania. A vida. Semana passada havia conversado com ele. Ansioso com a Covid, fechava sua casa às 17h todos os dias. Não queria andar mais nem no jardim. Nos quarenta minutos que ficamos juntos, lavou as mãos várias vezes. Lamentava não dominar mais o computador e nem as mídias sociais. Em qual mundo estamos? Tinha um carinho por esse meu primo hiperlativo e curiosamente ininteligível para os simples mortais. Lembro dele segurando a bandeira brasileira bem no alto de um caminhão no centro do Recife em 1977. Era líder na Faculdade de Direito e, nos finais da ditadura militar, ao lado do Senador Marcos Freire, conclamava a juventude a lutar pela anistia. E nos deixou poemas. E nos deixou uma das maiores coleções de arte do Piauí. Quando soube de sua morte, veio-me o silêncio do casarão onde morava, uma das casas mais belas do Estado, que guarda histórias nas paredes, no sótão e no chão. Que guarda histórias nas suas portas de vitrais austríacos. Quando morre um poeta, morre-se parte de uma cidade. Ele sabia de toda a genealogia piauiense, poesia que não escrevia. A Covid não o atingiu, mas escolheu tirar sua vida pela depressão. Armas não computadas nessa pandemia. Que Deus guarde nosso Jorge! Ficaram os poemas no chão voando como folhas secas na bela Parnaíba...  

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