segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A QUARENTENA DE SILÊNCIO QUE NÃO CONSEGUI CUMPRIR

Fonte: Google


A QUARENTENA DE SILÊNCIO QUE NÃO CONSEGUI CUMPRIR


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)


                Havia me atribuído um propósito no último réveillon: envolver-me o mínimo possível, no início do ano seguinte, em assuntos de cunho político, tantas foram as ocasiões em que fiz isso em dois mil e vinte e um. Não consegui. Como não falar de política, se o tempo todo, tudo que por aqui se fala, culmina por esbarrar ou desaguar nela?

                Pensei que poderia ser caso superado as falas ou posicionamentos intransigentes do comandante do governo brasileiro a respeito das vacinas. Não era, pois, nem bem expirou o ano anterior, lá vinha o cidadão tecendo comentários críticos desairosos acerca do tema, ao deixar claro – não subentendido nem subliminarmente -  que, na sua opinião, vacinas só seriam eficientes se quem as recebesse jamais contraísse ou fosse infectado pela patologia à qual ela pretendesse imunizar. Se isso não é uma tolice, é algo pior: uma sandice. Até onde se sabe, cientificamente, as vacinas são instrumentos utilizados para combater entes patogênicos com alto potencial de letalidade ou infecção, como vírus, responsáveis por adoecer contingentes populacionais em processos de epidemias ou pandemias; a extinção das doenças por eles causadas somente ocorre quando a quantidade deles, na natureza, passa a ser irrelevante, invariavelmente, graças à imunização, ou tratamento em massa aplicados nos possíveis ou prováveis infectáveis. Foi assim com a varíola e a poliomielite, consideradas já doenças extintas; tomara possamos dizer o mesmo da COVID-19, daqui a algum tempo.

                Ainda teria dito sua excelência sobre a vacina, que o fato de haver providenciado a aquisição de centenas de milhões de doses delas, contra o coronavírus, não significava que os mais de duzentos milhões de brasileiros, a população do país, seria obrigada a utilizá-las. Será que isso não soa tão leviano e perigoso quanto afirmar que o poder público estaria nem um pouco preocupado se houvesse jogado no lixo bilhões de reais em recursos do contribuinte gastos em imunizantes, caso o povo preferisse ignorar ou se negar – atendendo sugestão governamental ou de ignorantes – a receber as vacinas adquiridas?

                De fato, não deu para ficar calado, até porque, todas essas idiossincrasias, quase oficiais, foram propaladas quando já se tinha conhecimento de que o coronavírus se havia metamorfoseado em diversas variantes - com centenas de mutações -, desde a denominada delta: a ômicron – menos letal, mas extremamente contagiosa -, ihu e, supostamente, a deltacron.

                Também nesses dias iniciais de dois mil e vinte e dois, dentre outros disparates legislativos, o parlamento editou norma legal que o poder executivo sancionou, lecionando ética, ao obrigar profissionais públicos ou privados das áreas médicas ou de saúde, de estabelecimentos de ensino, da administração pública, inclusive de segurança, a manter sigilo, quanto àquilo que vierem a ter conhecimento, descobrir ou testemunhar, seja via processos judiciais, seja por meio de mídias escritas e audiovisuais, relativamente a pessoas infectadas ou portadoras do vírus HIV, de hepatites crônicas e hanseníase. Ninguém me pediu opinião a respeito das proibições impostas na intempestiva norma, mas me adianto dizendo que, sendo fato o que se diz a respeito dela, caso “pegue”, prestará um desserviço público. Que malefício pode haver em compartilhar com o maior número de pessoas e entidades interessadas em estudar, mensurar, pesquisar, cuidar, tratar, enfim, acompanhar da melhor forma possível, informações abalizadas sobre tais patologias, ou tudo que for disponibilizado a respeito delas, com potencial capaz de mitigar o sofrimento daqueles que das mesmas são vítimas? Em que estudo sério sobre medicina ou saúde estaria dito, escrito ou consignado que esconder e/ou negar a doença e o doente seria a melhor forma de tratá-los?  

                É, infelizmente, não foi possível fazer a quarentena de silêncio sobre política. A propósito, descobri, outro dia, que alguns dos filiados – sou instado a citar o nome da legenda para não truncar a informação – do Partido Liberal não se consideram liberais, mas “bolsonarianos”. E olhem que à legenda, há muito tempo criada, apenas ontem, filiou-se a figura que lhe deu o novo gentílico. Quanto a isso, garanto que me calo: não falar da ideologia política, nem da história do citado partido, em respeito e para não macular os dois vocábulos: Ideologia e História.

                Interessante, como o livro Teresina Educativa - de autor pouco conhecido, e alvo de questionamentos de tribunais de conta e ministério público, em razão da forma como teve cem mil cópias fornecidas, supostamente, com dispensa do cabível processo licitatório, ao poder público municipal da capital - não figurou entre as obras de não ficção mais vendidas, segundo a Revista Veja, em dois mil e vinte e um. Será que a editora que o produziu não figura entre aquelas que prestam informações das vendas feitas, à Editora Abril, dona da revista citada? Ou, na verdade, livro vendido a um só adquirente, mesmo que às centenas de milhares, não entra naquela estatística? Para quem não queria falar nada sobre política, já falei até demais. Fim.    

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