CARTA A UM CERTO GESTOR PÚBLICO
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Saudações, senhor gestor municipal. Sei que o pronome
de tratamento que lhe deveria dispensar, fosse acatar as normas gramaticais e
sintáticas da última flor do Lácio para esse tipo de vocativo, seria um
excelentíssimo; mas qual o quê? Que de excelente, notável ou notório tem feito
vossa senhoria – a propósito, parece já mais que ideal, também essa forma de
tratamento ou, talvez nem dela se faça merecedor, por não pouca razão e motivos
– por essa entidade estatal cuja administração lhe caiu às mãos que, até agora,
mostraram-se modorrentas ou pouco afeitas ao exercício do trabalho exigido? Acaso
estaria o senhor despreparado para exercê-lo? Não? Então, a que se deve tanta
reticência protelatória?
Segundo disse seu companheiro de cédula eleitoral, ainda
em tempo de campanha, a instituição cujo povo lhes delegaria o comando
integral, não se bancava em termos de arrecadação tributária própria, gastava
mais do que obtinha em receitas, estava, pois, quebrada; há que se dizer, por oportuno,
não ser verdadeiro o estado de falência
pregado por seu auxiliar, e se torcer para ter sido meramente demagógica a
afirmação de que as aplicações de recursos seriam inferiores às origens, pois
isso significaria a existência fática de crime, haja vista, contabilmente,
ativo e passivo terem que se equivaler; todavia, se arrecadação superior a gastos
e/ou dispêndios for um privilégio, poucas cidades brasileiras são detentoras
dele; a maioria é bancada pelos fundos constitucionais e outros complementos
financeiros públicos disponibilizados pela União; mas, a despeito de essa
lengalenga, há que se dizer que a cidade que receberam para administrar,
comparada a tantas outras país afora, estaria acima da média, se não
autossuficiente, longe das condições que assolam muitas de suas congêneres;
tanto que sempre se manteve entre as melhores em se tratando de educação e
saúde públicas, referência mesmo, em certos casos; adredemente, não seria cabotinice
nem leviandade de não eleitor, afirmar que, à caça dos votos que conduziriam o
senhor ao comando dela, lançou-se vossa senhoria, voluntária e, espontaneamente;
portanto, se há alguém com direito a reclamar, e muito, não é o prezado; portanto,
pare de fingir que visando ao céu, ganhou o inferno. Hora de se lançar ao trabalho,
cidadão.
Agora, falarei sobre o desmantelamento administrativo
propriamente dito, observável sem grande esforço visual ou mental, por qualquer
cidadão minimamente atento. Parece um desejo ignóbil, inexplicável, autocrático,
tirânico, talvez – não venha dizer que é para melhorar a mobilidade no trânsito
– dessa lógica padecemos em governos anteriores -, essas estapafúrdias
reengenharias intervencionistas em importantes vias que unem áreas muito
populosas, e que culminam, sim, por facilitar congestionamentos e aumentar a
recorrência de acidentes -, ilhar
determinadas regiões da cidade; no bairro Morada do Sol, só para citar um
exemplo, é como se o poder público quisesse impor a seus moradores o castigo de
não lhes permitir chegar e/ou sair, com celeridade e segurança, de seus lares
para o centro de suas ocupações laborais; se não, por que as instituições de
trânsito têm buscado eliminar quase a totalidade dos retornos e conversões de
alguns logradouros, como os da avenida Dom Severino, da Homero Castelo Branco –
pegando apenas um trecho – até o balão final daquela via pública, sem oferecer
alternativas viáveis? Está, praticamente, sem conversões simples à esquerda quem
naquela trafega naquele logradouro. O que deveria fazer para melhorar a mobilidade
e o deslocamento dos habitantes da área servida pelas ruas e avenidas citadas?
Uma alternativa elementar seria tornar acessível, reparando ou substituindo o péssimo pavimento
das ruas Mundinho Ferraz, Senador Luís Gonçalves, paralelas à dom Severino:
isso diminuiria o fluxo em parte desta via; nem ousaria exigir tal gentileza
para com a rua Assis Veloso que, além de ainda estar com a pavimentação
poliédrica da década de oitenta, do século passado, portanto, há quase quarenta
anos e, por conseguinte, em péssimas condições físicas, vez ou outra serve de
desvio de tráfego e trânsito para outras vias, como aconteceu dias atrás, quando
ela recebeu de uma de suas vizinhas, que passava por reparos no sistema de
fornecimento de água, grande parte do fluxo de caminhões, ônibus, excetuando-se
aviões e trens, até barcos, pequenos iates e embarcações do tipo jet ski, por
ela trafegaram rebocados por pesadas camionetas; com o sobrepeso imposto ao
velho e caquético pavimento, coitada da rua, passaram a nela ser recorrentes os
vazamentos na rede de água; a propósito, a concessionária do serviço, seja para
colocar na gestão do senhor mais um senão, seja porque fora contagiada por sua
modorra e passividade, tem sido bastante negligente e/ou despreocupada com os necessários
reparos, que, mesmo após insistentes reclamações dos moradores, demoram semanas
para serem feitos.
A princípio, havia pensado em tecer críticas e
reclamações mais ácidas sobre temas como saúde, educação, segurança,
transporte, dentre outros, mas não o farei agora, tantos são os cidadãos insatisfeitos,
arrependidos da má decisão eleitoral tomada que, recorrentemente, vêm se
manifestando, onde podem, a respeito da falta de atenção e de interesse do
senhor para com as necessidades da população; citá-las, possivelmente, só recrudesceria
a falta de paciência com sua gestão.
Despeço-me esperando que algum discernimento e tino administrativo lhe sobrevenham, de modo que, imbuído deles, possa olhar com maior atenção o que ocorre a seu redor, torne-se mais operoso em suas atribuições, e zele pelo órgão ao qual, apesar de o senhor diagnosticar como canceroso metastático, espontânea e, voluntariamente, arvorou-se a dele querer cuidar. Faça-o, pois, da melhor forma possível; aplique-lhe a medicação adequada. Que Deus lhe (e nos) proteja, amém!
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