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Lamentos de Mãe-da-Lua
Hermes Vieira (1911 - 2000)
"No sertão, nos matagais,
Quando vai no céu a lua
E nas fontes cristalinas
O luar meigo flutua,
Um silêncio agreste e doce
Deixa tudo extasiado;
Pelo espaço enluarado.
E uma voz dolente ecoa
Essa voz que dissimula
Uma dor a gargalhar,
É notória no sertão
Pelas noites de luar.
É a voz da Mãe-da-Lua
A chorar o ausente esposo
Que, segundo afirma a lenda,
teve um fim misterioso.
Era um pobre lenhador;
Certa vez, indo lenhar,
Por motivo inexplicável,
Não voltou mais ao seu lar.
Mãe-da-Lua, em desespero,
Coração angustioso,
Atirou-se pelas brenhas
A procura do esposo.
Andou muito, mas, debalde:
O marido não encontrou,
E por isso nunca mais
A cabana ela voltou.
E depois, num ramo nu,
Sob um manto de luar,
Outras aves encontraram
Mãe-da-Lua a soluçar.
Não querendo a infeliz ave
Pelas outras ser zombada,
Logo o pranto simulou
Numa triste gargalhada.
E num galho, solitária,
Mergulhada no luar,
Ela ainda continua
Com seu triste gargalhar.
Como oculta a Mãe-da-Lua,
Gargalhando os seus tormentos,
Muitos riem, assim também,
Ocultando os sofrimentos".
Fonte: Cecordel, acesso em 03/04/2022
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