AVENTUREIROS DO TRÂNSITO E SUAS VÍTIMAS
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com
Nisso me especializei durante a pandemia pelo coronavírus, eis que já era graduado na percepção do fenômeno antes dela: observar condutores de caminhões, vans, enfim, veículos de entrega, mudança, acharem que, nos espaços pelos quais transitam, seriam os únicos a utilizar seus veículos como ferramenta de trabalho; eles e os motociclistas, mototaxistas – mas, principalmente, os motoqueiros – entregadores de produtos e mercadorias em domicílio, ou prestadores de serviços diversos; logo, cada um a seu modo, entende que detém a preferência sobre os demais meios de transporte ou pedestres; esses, pelos mesmos circulariam por esporte ou mero diletantismo. Interessante é que, dentre os aventureiros do trânsito, donos das ruas, para os quais, a fim de não perderem tempo, ideal seria que avenidas e demais logradouros públicos ou privados, estivessem, necessariamente, sempre à disposição deles, há os que, mesmo cometendo barbaridade às pampas – avançando sinais, ziguezagueando, trafegando pela contramão ou por faixas proibidas, nestas também estacionando -, hipocritamente, ainda pedem feedback sobre seu modo de condução: “como estou dirigindo?”; “estou dirigindo bem?”
Também tenho percebido que, a despeito de regras existirem para ser seguidas por todos no trânsito, além daquela espécie de condutor que, invariavelmente, age de maneira irresponsável, naturalmente, há os que, mais que compreensão, esperam da parte dos companheiros de tráfego, quando, deselegante ou, criminosamente, tomam ou adotam atitudes incabíveis às vias que ocupam, por ações cavalheirescas, anuência, permissão automática deles para, por exemplo, mudarem de faixa, sem antes sinalizar; cruzá-las, desavisadamente, transversal, verticalmente, ou a fim de fazerem proibido retorno, independentemente, de observarem o posicionamento de quem trafega, ou atrás deles, ou em sentido contrário; avançarem sinais fechados. Provavelmente, se perguntassem a alguns de esses péssimos condutores por que estariam fazendo aquilo, a justificativa, certamente, seria por estarem muito apressados, senão atrasados para compromissos anteriormente assumidos. Cavalheirismo, elegância e respeito no trânsito, conseguem aqueles que, como fazem em qualquer nicho social, ético ou moral em que se insiram, também ali, obedecem e cumprem leis válidas para todos.
Seria leviano se afirmasse ou negasse, até porque, no auge da pandemia – como, acredito, muitos também fizeram - pouco transitei por movimentadas vias públicas, que nelas haja sido respeitada a regra de não estacionamento em locais onde os mesmos seriam proibidos; chego, todavia, a desconfiar de que isso não teria ocorrido, pois, recorrentemente, o que se observa são indivíduos descumprindo essas determinações, usando e abusando de sua vocação em burlar normas legais. Não seria imprudente, penso, se afirmasse que, à maioria de nossas principais avenidas, de duas ou mais faixas por via, não faria nenhuma diferença se tivessem uma delas, permanentemente, disponibilizada para estacionamento normal e regular, até porque, em muitos daqueles logradouros, é isso que, realmente, na prática, acontece. Quem quiser conferir, para comprovar ou desmentir o que falo, basta trafegar por uma delas, mesmo fora dos momentos de pico, e perceberá que, invariavelmente, uma de suas faixas, a mais à direita da via, geralmente, é utilizada ou serve de estacionamento, e pouco importa se nelas houver sinalização informando que, ali, naquele espaço, seria proibido estacionar; uns, estacionam em cima das faixas ou embaixo das placas indicativas da proibição; outros as eliminam, a fim de agirem mais tranquilamente.
Não diria que o período de pandemia, que ainda estamos vivenciando, por si só, haja potencializado as ações desrespeitosas que ocorrem no trânsito; nem sei se outros têm a mesma visão do problema que eu; por outro lado, creio que o aumento de acidentes nas vias públicas decorre do fato de que muitos as veem como espaço sem lei, destinado aos mais corajosos ou audaciosos; infelizmente, dentre esses aventureiros motorizados, muitos são abatidos antes de chegar ao final do percurso planejado; o pior é que, não raro, muitas vítimas inocentes de suas aventuras sucumbem com eles.
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