Bernardo Silva, ou simplesmente B. Silva |
BERNARDO SILVA, UM MESTRE DA VIDA INTEIRA
Kenard Kruel
Eu nasci em São Luís, a 30 de julho de 1959. Meu pai Antônio de Souza Santos ali estava a trabalho, como polícia especial, em missão espinhosa para a época, e ainda para os dias de hoje (um dia eu contarei tim tim por tim esta história...). Obrigado mamãe Maria do Socorro Fagundes dos Santos por ter me tido. Com dois anos de idade, nos mudamos para Parnaíba, onde passei a minha juvenília estudando o primário no Grupo Escolar José Narciso, o ginásio no Clóvis Salgado e o curso técnico em Administração de Empresa no Colégio Estadual Lima Rebelo.
Entre o brincar, com as cobras e outros bichos que nos rondavam, estava sempre com um livro nas mãos e a ideia fixa de ser escritor na cabeça. Aos 10 anos de idade, fui ao jornal Folha do Litoral, do Batista Leão, pedir uma vaga na redação. Deram, mas para eu limpar os tipos (letra por letra, de A a Z) usados nas páginas do jornal, tendo como meu chefe o Xixiinol (Sic???). De quebra, limpava, também, todo o jornal do jornal. Principalmente os banheiros. Sempre gostei de ser limpeza, DNA da família Fagundes dos Santos. Esperava uma oportunidade para publicar um texto meu. O meu ídolo era o jornalista Bernardo Silva, que agia como se fosse editor chefe e mandava e desmandava no pedaço.
Nunca deixei faltar o cafezinho quente, com os bolinhos de goma, comprados no Bar Parnaíba, ali pertinho. Também não lhe faltava mimos como os discos do Waldick Soriano, de quem meu pai era fã e super amigo e os ganhava de cortesia. Bernardo Silva, ao final da labuta, descia as ruas da Parnaíba, com um gravadorzão, fita do Waldick Soriano na agulha, e tomando uma branquinha para aliviar a tensão do dia. Era fã do Waldick Soriano, Evaldo Braga, Lupicínio Rodrigues, Nelson Gonçalves, Nelson Ned, Maysa, Clara Nunes, Dalva de Oliveira e outros e outras que pontificavam na ocasião. Fizemos várias serenatas, às tantas namoradas dele, ao som do Roberto Carlos, que era genial e virou apenas um grande nome na MPB, atualmente. Como dói, CDA. De tanto segui-lo e persegui-lo, um dia a recompensa veio. - "Menino, escreva o editorial de amanhã". Imperativamente.
Escrevi sobre o Apogeu e a Decadência da Parnaíba. Não esperava publicação, porque parnaibano é bicho bairrista. E, se fosse publicado, os exemplares das bancas voltariam e os das assinaturas seriam devolvidos, craniei. Não fui para casa. Fiquei de tocaia. Até que o Xixinol peguei a minha lauda, e fez o sinal positivo. Mesmo assim, não arredei o pé, até vê-lo paginar o texto e iniciar a impressão. Peguei 100 exemplares e levei para a escola. Passei pela casa de uma jovem, para quem eu poetava, e entreguei, a ela, pessoalmente, um jornal. Todo feliz, até cair na real de que editorial não é assinado. De quando em quando, o Bernardo Silva me pedia um editorial, que eu já fazia sem o menor ânimo, porque queria ver era o meu nome estampado, em letras garrafais, no jornal. Até que o dia veio.
Bernardo Silva pediu para que eu opinasse sobre o romance Tombador, 1971, de Fontes Ibiapina. Ele sabia que eu vivia socado na biblioteca do Fontes Ibiapina e já tinha lido-a toda, bem como os livros que ele já havia publicado: Contos - Chão de Meu Deus, 1958; Brocotós, 1961; Pedra Bruta, 1964; Congresso de Duendes, 1969. Romances - Sambaíba, 1963 e Palha de Arroz, 1968. Fiz um alentado estudo sobre o romance em pauta e analisei toda a produção do Fontes Ibiapina, que me tinha como amigo e uma espécie de secretário particular, pois muitos dos trabalhos dele eu revisei e passei para a máquina de escrever. Fontes Ibiapina previu que eu seria um famoso escritor. No que ele acertou, na profecia. O texto fez sucesso. Fontes Ibiapina enviou correspondência ao jornal, parabenizando a publicação e dando-me "agradecimento fraternal". Pronto.
Logo me dei ao luxo de ocupar as páginas, também, com poemas que hoje eu não ousaria publicar. Mas, eram destinados à jovem por quem eu poetava. Até que pintou o clima. E fomos felizes por longos curtos meses. Os pais dela se mudaram para outra cidade, a trabalho, despedaçando-me o coração. Como um bom paizão, o Bernardo Silva me curou, levando-me para as madrugadas da Quarenta (onde conheci o Juarez, o Pituca, o Bode Louro - Augusto Portela, o Desidério, o Bernardo Lima, o Espedito, o Seixas, o Nenem - Manoel Silva, o Hélvio Melo Castro, o Hélio Lemos, o Cântídio Lemos, o Francisco Ramalho Pastengão e o Pastenguinha, o Cecil ... que, anos depois, criaram a página Amigos da Arena Quarentão, do qual faço parte, com muito orgulho).
Eu era um meninote, mas o Bernardo Silva, freguês das antigas, era muito respeitado pelas madames, o que me garantia passe livre nas camas das jovens de vida nada fácil. Logo esqueci a jovem por quem eu tanto poetava. Papai passou a perguntar por que eu estava chegando quase com os cagar dos pintos. -"Fazendo serão". Ele apenas disse: - "Será!!!". Mamãe não dizia nada, pois tinha a prova nas cuecas cheias de batons. E, como mãe é mãe, não me entregava ao relho do meu severo pai. Tempos bons. Tempos felizes. Amar e ser amado, enquanto duravam os cobres. - "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis". Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881.
Fiquei tão bom no ofício, tão genial na profissão, que o Folha do Litoral não me cabia mais. Deixei-o para o meu próprio jornal: Batalha do Estudante, que o Paulo Couto guardou todos os números e, ano passado, generosamente, me passou os exemplares, devidamente guardados em sacos plásticos. Estou negociando a venda para a Biblioteca da Babilônia, entre outros pedidos de aquisição. Sobre o Batalha do Estudante, falarei, mais adiante, com vagar.
Volvamos ao Bernardo Silva. Ele está de aniversário. E, para ele, todo o meu agradecimento por ser este famoso escritor que eu sou hoje. Não seria se não fosse pela generosidade e, principalmente, pela sacada dele, em perceber em mim o grande talento para as letras, dando-me as primeiras oportunidades no jornal Folha do Litoral. O que jamais esquecerei, em vida e além vida.
Meu caro mestre Bernardo Silva, perdulário da bondade. Vida longa, com saúde, paz, fé, esperança e amor.
O meu muito obrigado por tudo.
Não se deixe de mim. Continuo sendo um ilustre, agora, aprendiz seu. Beijos, carinhosamente, do amigo Kenard Kruel.
Parabéns ao meu professor Bernardo Silva do Curso Visão nos idos de 1981 e 1982. De vez por outra o vejo no CE Humberto de Campos.
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