Foto meramente ilustrativa Fonte: Google |
O CAVALO E O JUMENTO
Elmar Carvalho
A nota de ontem, deste diário,
fez-me lembrar dois casos acontecidos em viagem. No primeiro, ia eu para
Capitão de Campos, quando, chegando perto de Cocal de Telha, avistei um esbelto
cavalo, que atravessava pachorrentamente a estrada. Para apressá-lo, e desse
modo livrá-lo de eventual acidente, buzinei.
O animal, que mais parecia um
potro, apressou-se, mas num chouto saltitante e requebrado, jogando a cabeça e
as crinas para um lado e outro, de forma moleca e faceira, o que me deu a
nítida impressão de que ele estava a zombar de minha buzina e preocupação, que
evidentemente julgou impertinentes, em sua avaliação cavalar. Galantemente
desceu a rampa da estrada e sumiu na verdejante moita de mufumbo que havia.
O outro caso aconteceu com um
taxista, meu conhecido. Vinha ele de uma longa viagem, em que fora buscar o
carro, que lhe haviam furtado, quando, um pouco depois da cidade de Piracuruca,
atropelou um jumento. Atordoado pelo susto e pelo sono, e talvez pelos
“arrebites” que tomara, para se manter acordado, desceu para ver o estrago no
veículo que recuperara do larápio. O prejuízo foi grande e o veículo ficou sem
funcionar.
Ele, então, dirigiu-se ao jumento
morto. Disse-lhe, dedo em riste, que estava pensando em lhe dar uns tiros; que
ele, se não fosse um grande filho de uma égua, poderia estar vivo, e comendo os
verdes capins da campina que ali havia; que poderia estar com os seus colegas e
irmãos; que poderia estar a namorar sua jumenta predileta, mas que,
imprudentemente, jumento burro que era, preferira vir para o asfalto, para
provocar aquela desgraça.
Um motorista que parara, em
solidariedade, o chamou à razão. Fez-lhe ver que o jumento já era defunto; que,
mesmo que não estivesse morto, não entenderia aquela lengalenga. Por fim,
concluiu dizendo que ele não poderia matar quem já estava morto. O taxista
recobrou a razão, e encerrou sua verborrágica catilinária contra o jumento
morto, réu e vítima da imputação que lhe fora feita, como se diz na linguagem
forense.
12 de maio de 2010
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