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OS EMBALOS DOS SÁBADOS DE
ANTIGAMENTE
Elmar Carvalho
Na antessala da Corregedoria
Geral da Justiça, enquanto esperava ser atendido pela desembargadora Eulália
Ribeiro Gonçalves, uma pessoa me ofereceu um bombom. Escolhi um da marca Piper,
e fiquei admirado de que ainda fosse fabricado. Enquanto o saboreava,
lembrei-me de minha adolescência.
Eu, o Otaviano, o Carlos Cardoso,
Zé Moura, Zé Wilson, e creio que quase todos os adolescentes da época, o
usávamos para disfarçar o bafo de onça provocado por algumas talagadas de pinga
que tomávamos, para criarmos coragem de, nas festas, fosse no Campo Maior
Clube, no Grêmio Recreativo ou na AABB, tirarmos uma garota para dançar.
Com escasso dinheiro na
algibeira, adotávamos a estratégia de, antes do baile, ingerirmos algumas doses
de bebida destilada, geralmente cana serrana ou cuba libre, um coquetel de rum,
invariavelmente da marca Ron Montilla, que chamávamos de Velho Pirata, limão e
Coca-Cola. Guardávamos uns trocados para, no interior do clube, degustarmos
umas duas ou três garrafas de cerveja, o que achávamos o máximo, e que nos
davam a impressão de ser os próprios donos da festa.
Nunca fui um legítimo dançarino.
Retraído, algo tímido nos primeiros contatos com o belo sexo, a dança era meu
principal estratagema para iniciar um namoro. Isto porque, conforme o modo como
a garota se aconchegava e de acordo com o modo como ela me enlaçava e punha as
mãos em minhas costas, era uma sinalização de que ela desejava ou não iniciar
um namoro ou mesmo tirar um simples “pino”, “sarro” ou “amasso”, que era, na
linguagem dos jovens da época, uns beijos e abraços mais apimentados e
apertados.
Mas também dançava – por que não
confessar? – para sentir o aconchego e o calor de um corpo feminino. Nessa
época, década de 70, as moças do interior do Piauí se conservavam virgens até o
casamento, de modo que namoro era apenas namoro, e namorado era apenas
namorado, e não tinha o significado de amante, como nos dias atuais.
Recentemente, por causa dos
retumbantes anúncios da Bitorocara Festa, trombeteados nos blogs Bitorocara e
no do ZAN, que se propunha reviver os bons anos 60 e 70, das festas de arromba
da Jovem Guarda, das quase ingênuas tertúlias dançantes, que eram quase sempre
regadas a “leite de onça”, um coquetel de cachaça e leite “Moça”, lembrei-me
desses bons tempos dos sapatos “cavalo de pau”, das calças boca de sino e do
jeans US-Top; das minissaias assanhadas, que mostravam pelo menos um palmo de
coxa, dos singelos “tubinhos” das cocotas, e dos “tomara-que-caia”, que nunca
caíam, para frustração geral da galera masculina.
No final dos anos 70 inventaram a
chamada “dança solta”, que eu abominava, pois se fosse para dançar sozinho eu
preferiria fazê-lo no aconchego de minha casa. Então, resolvi sepultar, de vez,
a minha incipiente e insipiente carreira de dançarino; de dançarino sem nenhum
talento, admito.
11 de junho de 2010
Realmente, aqueles anos tinham um sabor de excitação bem mais envolventes. Não apenas nos clubes, faziam-se festinhas em residências e tudo com muita alegria e respeito, embora muitos namoros ali se iniciassem.
ResponderExcluirEra, também, a forma de começarmos a vida social sob a proteção dos pais
Wilton Porto
Hoje essas coisas foram vulgarizadas, banalizada.
ResponderExcluirVerdade! Embora termos de viver o hoje, o passado dessa época era fantástico! Abraço, meu amigo Elmar!
ExcluirDança solta
ResponderExcluirNão levei jeito. Kkkkk.
ExcluirDefinitivamente 2010 foi o seu ano de maior produtividade, pelo menos na crônica! Excelentes essas reminiscências!!! 👏👏👏👏👏👏
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