EL TOREADOR DOM PEDRO MOLINA
Elmar Carvalho
Na sexta-feira, quando vínhamos
para Parnaíba, demos carona a um garoto, filho da Cláudia, sobrinha da Fátima.
Em viagem longa, surge sempre o ensejo de se conversar sobre os mais variados
assuntos. Assim, tratou-se do caso do goleiro Bruno, da morte do filho da Cissa
Guimarães e de vários outros casos da atualidade, bem como de outros fatos
rumorosos mais antigos.
Percebi que o jovem era antenado,
e esclarecia ou acrescentava algo em relação ao que estava sendo comentado. Vi
que o fazia de forma respeitosa e pertinente, sem nenhuma alteração no tom de
voz, de modo que se notava que não era nenhuma criança querendo exibir-se.
Parava para ouvir, e quando emitia sua opinião era de forma breve, contida,
porém denotando estar seguro do que dizia, mas sem afetação e arrogância, como
é da índole de certas pessoas “metidas”.
Admirado de suas intervenções,
sempre abalizadas, observei, de forma aparentemente casual, que ele parecia
gostar de assistir a noticiário. Confirmou-me a suspeita, dizendo que gostava
de ouvir programas noticiosos. Eu já havia percebido que ele não se referia às
notícias apenas como um “papagaio decoreba”, mas como alguém que as
interpretava, para emitir a sua opinião e análise, o que denotava certa
maturidade.
Por essa razão, perguntei-lhe a
idade, porquanto ele já é um tanto encorpado, como um rapazola. Respondeu-me
que tinha onze anos, o que me causou mais admiração, pois, pelo conteúdo de sua
conversava e pelo seu poder de argumentação, parecia ter pelo menos dezesseis
anos de idade. Para tentar entender a sua inteligência, perguntei-lhe se
gostava de ler. Disse que sim, sobretudo poesia, e que começara a gostar de ler
a partir dos nove anos.
Numa época em que pouco se lê, um
jovem amante da leitura sempre causa admiração, ainda mais quando consumidor de
poemas. Esse gênero literário é sempre de conteúdo mais abstrato que os demais,
e por essa razão tem mais afinidade com a filosofia. Por mais sugerir, que
dizer diretamente, exige mais da capacidade interpretativa e criativa do
leitor. Sem dúvida, uma pessoa mais experiente, mais criativa, mais culta
descobrirá mais informações em um texto poético do que um ledor mediano.
Esse tipo de leitor, certamente,
torna-se mais profundo, mais questionador e procura outras respostas e
soluções, que não apenas as mais óbvias e mais rasas. Perguntei ao garoto qual
era o seu passatempo predileto. Respondeu que era ler. Indaguei qual seu outro
hobby; disse que era vídeo game, que, por ser um jogo eletrônico, suponho que
também exija agilidade mental.
Dessa forma, entendi que ele
gosta de exercitar o cérebro; ou seja, se dedica a fazer musculação cerebral,
coisa pouco valorizada nos dias de hoje, em que impera a tirania do culto ao
corpo, com pessoas musculosas, mas de pouca preocupação para com os neurônios.
Indaguei-lhe o nome completo, pois o chamo de Pepeto ou Pedro Neto, embora ele
não tenha esta última palavra incorporada ao seu nome, conquanto seja neto do
Pedro, irmão de minha mulher, e do Pedro, pai de seu pai.
Disse chamar-se Pedro Molina de
Freitas e Silva. O Molina foi posto por sugestão de seu avô paterno, que quis
lhe dar certa elegância espanhola, em lembrança talvez de algum herói ou de
algum toureiro. Dom Pedro Molina é de fato um toureador, porém toureador de
palavras e ideias.
27 de julho de 2010
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