A "RODA" DA CASA DO
VOVÔ TONHO
Fernando Freitas
Historiador e ex-prefeito
Uma maravilhosa lembrança, das mais antigas que tenho da vida é de uma "roda" de gente em frente à casa de meus avós, o bangalô branco de 1935 (vai sediar o museu local), em José de Freitas. Só pessoas adultas, autoridades, funcionários públicos, proprietários rurais, comerciantes, muitos políticos. Era o final dos anos 50, e a "roda", existente desde os anos 40, todos os dias se fazia, das 19h às 21:30h porque a luz da cidade apagava, literalmente, às 22h.
Eu tinha menos de dez anos de idade e me sentia adulto e privilegiado de ficar por ali. As 18h, impreterivelmente, minha avó Corina cobrava de uma empregada: - "já botou as cadeiras pra fora? Não esqueça de fazer o café". A "roda" era frequentada pelas pessoas influentes da cidade, mas assiduamente por meu avô Tonho (Antônio Freitas), o então chefe político de maior expressão da cidade e dono da casa; Ferdinand Freitas (prefeito), filho e sucessor de Tonho por cerca de três décadas; pelo Juiz Alberto Veras; Jacob Sampaio Almendra (ex-prefeito); Ary Carvalho, irmão da vó Corina e um dos mais ricos, nunca casou; os irmãos Edgar Gaioso (ex-prefeito) e Moacy Gaioso, Renato Batista (IBGE), Antônio Craveiro de Melo (caixa da Casa Almendra e ex-prefeito); os irmãos Chico Araujo (vereador) e Nemésio Araújo (oficial de justiça); Levy Carvalho (como ele mesmo se intitulava: "alto funcionário público federal aposentado". Era dos Correios). Dr. Francisco Craveiro de Melo (médico da cidade que aparecia de vez em quando)...
As lojas da cidade
fechavam às 17 horas. No final de semana, o comércio só ficava aberto até a
hora do almoço do sábado. À noite, praticamente não existia opção de
divertimento, as famílias sentavam-se às portas de casa e assim a
"roda" da casa de "seu" Tonho transcendeu no tempo,
inclusive à sua morte, em 1963, e permaneceu até a chegada da televisão nos
anos 70. Aí a "roda” não aguentou a concorrência da tal modernidade.
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