Estive literalmente no céu. Mais
precisamente no restaurante do Zé Nilson, situado na região da Fazenda Céu. De
fato, a paisagem é paradisíaca. Quando fui para a beira-rio, para melhor
contemplar a beleza ímpar do Parnaíba, uma ave canora, ou anjo – nunca se sabe
ao certo as verdades limítrofes deste mundo e do outro – desatou umas notas
musicais de inefável beleza. Disse que poderia ser um ente do outro mundo uma
vez que o canto não era de nenhum pássaro do meu conhecimento. Com certeza, não
era sabiá, nem corrupião, nem chico preto, as criaturas aladas de mais belo
canto que conheço.
Dois homens falavam placidamente
de negócios e serviços, enquanto tomavam banho, com certeza delicioso, sob o
testemunho de um menino. Estavam à sombra de uma árvore ribeirinha, que
lentamente amadurecia seus tenros frutos. A conversa só foi interrompida por
uma canoa que passou perto deles, deslizando suavemente contra a corrente. O
rio se embarreirava largamente, na bela, porém triste degradação ambiental, que
lenta, mas inexoravelmente poderá conduzi-lo à morte de há muito anunciada.
À sombra de copada árvore, uma
vaca, que mais parecia uma gorda e maternal matrona, ruminava preguiçosamente.
Parecia ruminar o próprio tempo, que parecia não passar, como as águas do rio,
que rolavam lentamente para o Atlântico. Voltei para a churrascaria do Zé
Nilson, onde comi muito vagarosamente uma gostosa galinha caipira, à sombra do
teto e de uma imensa árvore, que parecia sair do galpão.
Na verdade, o telheiro nascera em
seu derredor, servindo-lhe o tronco grosso e anoso de esteio e decoração. Não
fiz nenhuma viagem mística, não precisei morrer, mas estive literalmente no
céu.
30 de julho de 2010
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