A ÁRVORE
Elmar Carvalho
Era por volta de sete e meia da
manhã. Tudo bem claro, mas nada de excesso de luminosidade. A temperatura
estava agradável; nada de calor, nem de frio. Contudo, eu não estava feliz
naquele momento. Estava um pouco preocupado, por causa de coisas que não dependiam
de minha vontade. Coisas que dependiam dos outros e das circunstâncias para
serem resolvidas ou melhoradas.
De repente, atentei para a beleza
daquela árvore. Todo dia passava por ela, mas nunca havia reparado em sua nobre
beleza. Embora não se destacasse por ser de grande porte, era altiva e copada.
Seu verde era incomum, peculiar; tinha tonalidades ímpares. Suas folhas eram
lustrosas, e pareciam ser de uma textura levemente esmaltada. Conforme as
folhas estivessem contra ou a favor da luz solar, atingiam diferentes gradações
esmeraldinas. Às vezes pareciam foscas, outras vezes, translúcidas.
Algumas pareciam espelhos verdes,
a refletir a luz do sol; daí a intensidade com que brilhavam. A folhagem da
copa era densa, fechada, e se recortava contra o límpido azul do céu daquele
dia, em que apenas alguns fiapos de nuvens se esgarçavam tênue e esparsamente.
Pela primeira vez percebi suas flores. Eram grandes e belas. Algumas mal
começavam a desabrochar. Outras estavam no apogeu de sua beleza madura e
completa.
Algumas ainda não eram; eram
apenas botões, que ainda haveriam de se desabotoar em pura magia, no esplendor
de sua glória. As pétalas róseas formavam uma espécie de coroa em torno de uma
bolota, que certamente era o embrião do fruto que viria. As pétalas centrais
pareciam ter uma franja dourada, arremate de pura e caprichosa ourivesaria.
Aquelas gradações de verde e de brilho eram como que o símbolo da esperança,
que nos deve alimentar a cada dia.
Os diferentes estágios das
flores, de broto a botão, de botão a flor, de flor a fruto, me fazem lembrar as
etapas de nossa própria vida. Mesmo as flores que se não convertem em frutos
são frutos; frutos de beleza e graça. Naquela árvore abençoada colhi o fruto da
esperança, e segui confiante e já restituído a mim mesmo em minha
integralidade.
Rilke, na primeira das Elegias de
Duíno, falava de uma árvore sobre a colina, que a cada dia poderíamos rever.
Desejo que essa árvore possa sempre ser vista e revista, e se mantenha distante
dos golpes brutais de um machado.
21 de agosto 2010
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