sábado, 20 de julho de 2024

A ÁRVORE

Fonte: Google
Genial charge que acabo de receber, da autoria de Gervásio Castro



A ÁRVORE 


Elmar Carvalho

 

Era por volta de sete e meia da manhã. Tudo bem claro, mas nada de excesso de luminosidade. A temperatura estava agradável; nada de calor, nem de frio. Contudo, eu não estava feliz naquele momento. Estava um pouco preocupado, por causa de coisas que não dependiam de minha vontade. Coisas que dependiam dos outros e das circunstâncias para serem resolvidas ou melhoradas.

 

De repente, atentei para a beleza daquela árvore. Todo dia passava por ela, mas nunca havia reparado em sua nobre beleza. Embora não se destacasse por ser de grande porte, era altiva e copada. Seu verde era incomum, peculiar; tinha tonalidades ímpares. Suas folhas eram lustrosas, e pareciam ser de uma textura levemente esmaltada. Conforme as folhas estivessem contra ou a favor da luz solar, atingiam diferentes gradações esmeraldinas. Às vezes pareciam foscas, outras vezes, translúcidas.

 

Algumas pareciam espelhos verdes, a refletir a luz do sol; daí a intensidade com que brilhavam. A folhagem da copa era densa, fechada, e se recortava contra o límpido azul do céu daquele dia, em que apenas alguns fiapos de nuvens se esgarçavam tênue e esparsamente. Pela primeira vez percebi suas flores. Eram grandes e belas. Algumas mal começavam a desabrochar. Outras estavam no apogeu de sua beleza madura e completa.

 

Algumas ainda não eram; eram apenas botões, que ainda haveriam de se desabotoar em pura magia, no esplendor de sua glória. As pétalas róseas formavam uma espécie de coroa em torno de uma bolota, que certamente era o embrião do fruto que viria. As pétalas centrais pareciam ter uma franja dourada, arremate de pura e caprichosa ourivesaria. Aquelas gradações de verde e de brilho eram como que o símbolo da esperança, que nos deve alimentar a cada dia.

 

Os diferentes estágios das flores, de broto a botão, de botão a flor, de flor a fruto, me fazem lembrar as etapas de nossa própria vida. Mesmo as flores que se não convertem em frutos são frutos; frutos de beleza e graça. Naquela árvore abençoada colhi o fruto da esperança, e segui confiante e já restituído a mim mesmo em minha integralidade.

 

Rilke, na primeira das Elegias de Duíno, falava de uma árvore sobre a colina, que a cada dia poderíamos rever. Desejo que essa árvore possa sempre ser vista e revista, e se mantenha distante dos golpes brutais de um machado.

21 de agosto 2010

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