10 de outubro
PUNIÇÃO EXEMPLAR
Elmar Carvalho
Numa rápida folga dos serviços eleitorais, um militar,
instigado por um comentário que fiz sobre os maus-tratos que se
cometem contra os animais, me revelou que quando era criança
presenciou uma cena que ainda lhe está muito nítida na memória. Ia
ele passando por uma rua de Teresina, quando viu um pequeno jumento a
puxar, com muita dificuldade e esforço, uma carroça, que levava
pesada carga. O carroceiro, para estimulá-lo, rodava o chicote sobre
o lombo do animal e, às vezes, dava-lhe algumas vergastadas.
Como se não fosse o suficiente a carga desproporcional,
ainda ia ele em cima da viatura rudimentar, todo ancho e pachola.
Quando chegaram a uma esquina, os pneus da carroça ficaram retidos
numa valeta que havia. Em virtude de o asno não ter força
suficiente para mover o veículo de carga, o carroceiro irritou-se,
como se o pobre bicho tivesse alguma culpa, e começou a chicoteá-lo
de forma violenta. De uma mesa, a tomar calmamente, sua cerveja, um
homem observava a cena desumana.
Como as imprecações e as chibatadas do carroceiro
continuassem, de forma estúpida e inútil, já que o jegue não
conseguia mesmo movimentar a carroça, o homem que bebia a cerveja
falou para o outro:
– Espere, que vou lhe mostrar como se deve fazer,
pois também sou carroceiro...
Quando chegou ao local da ocorrência bárbara, o
espancador lhe entregou o chicote.
Imediatamente, sem lhe dar a menor chance de defesa, o
cidadão vibrou duas ou três violentas chibatadas contra o agressor
do jumento, a ponto de ele se contorcer de dor e empreender imediata
fuga. Após essa primeira providência, o defensor do jerico o
desatrelou da carroça, e o levou a uma sombra, onde o deixou a
pastar o verde e tenro capim que havia no local. Em seguida, foi
calmamente tomar outra garrafa de cerveja. Talvez a comemorar, feliz
da vida, a bela ação que praticara.
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