Fonseca Neto
A
Academia Piauiense de Letras fez no último sábado homenagem a
Jean-Jacques Rousseau pela passagem dos 300 anos de seu
nascimento.Figura notável do pensamento humano nesta parte do mundo,
nasceu suíço, em Genebra, em 28 de junho de 1712.
Poucos
entre os chamados “pensadores” são admirados quanto ele é. Sua
obra continua sendo lida por muitos e ainda que não lida,
literalmente, extensa é a inspiração das matérias pensadas por
ele, sobretudo, pela parte da humanidade que não desiste de lutar
contra as diversas formas de miséria que tecem a desigualdade entre
as pessoas. “Natureza” e “Civilização” (ou “Sociedade”)
é um par conceitual de sua extensa contemplação, estruturante de
seu pensar, essencial nos despojos interpretativos da recepção.
Vida
e obra de sentido e alcance, enormes, pincemos neste propósito de
trazê-lo à luz, pela absoluta atualidade, um recorte e elemento
nuclear de sua inteligência aspergida e que diz respeito ao modo de
educar as crianças, implicados numa “pedagogia”, daí que
escreveu seu texto referencial intitulado “Emílio”, em 1757.
“Devaneios de um Caminhante Solitário” é de 1776.
Paul
Arbousse-Bastide e Lourival Gomes Machado, ensaiando sobre a reflexão
rousseauniana, realçam que esta põe no centro de tudo não ser
“razão mas o sentimento o verdadeiro instrumento do conhecimento”
e “que não é o mundo exterior o objeto a ser visado mas o mundo
humano”. Assim, resumem, “o traço mais significativo do
pensamento de Jean-Jacques Rousseau passa a residir nos caminhos
práticos que ele procurou apontar para o homem alcançar a
felicidade, tanto no que se refere ao indivíduo quanto no que se
refere à sociedade. No primeiro caso, formulou uma pedagogia, que se
encontra no “Emílio”; no segundo, teorizou sobre o problema
político e escreveu o “Contrato Social”, além de outras obras
menores”.
Para
Rousseau, educar uma criança não era ato banal. No “Emílio”,
feito sob a forma de romance, procurou ele apontar o que deveria se
seguir para “fazer da criança um adulto bom [evitando tornar-se
má], já que seu pressuposto básico é a crença na bondade natural
do homem”, sendo a civilização a responsável pela origem do mal.
Ora, a educação da criança, comporta dois aspectos em seus
objetivos: “o desenvolvimento de suas potencialidades naturais e
afastamento dos males sociais”.
Há
quase três séculos, J.-J., pensando a questão, prefigurou o
caráter progressivo do processo pedagógico da educação infantil,
consoante “as necessidades individuais de desenvolvimento”,
partindo do estágio de treinamento dos órgãos dos sentidos –
“necessidades físicas” –e do conhecimento do mundo através
“do contato com as próprias coisas”.
O
que ocorrerá? “Liberta da tirania das opiniões humanas, a
criança, por si mesma” e sem nenhum esforço especial,
identifica-se com as necessidades de sua vida imediata e torna-se
autossuficiente [sendo importante] particularmente evitar a excitação
precoce da imaginação, porque esta pode se transformar numa fonte
de infelicidade futura”. Sim, mas o futuro dela? “A tarefa
do educador consiste em reter pura e intata essa energia até o
momento propício [quando se lhe ensinar] a lição da utilidade das
coisas, desenvolvendo-se as faculdades da criança apenas naquilo que
possa depois ser útil”.
Romântico,
esse Jean-Jacques? Sim, na acepção perfeita, pois seu pensar é uma
espécie de poesia à Revolução. Se não o fosse diria isto? “A
desigualdade moral, autorizada unicamente pelo direito positivo, é
contrária ao direito natural sempre que não ocorre, juntamente e na
mesma proporção, com a desigualdade física – distinção que
determina suficientemente o que se deve pensar, a esse respeito,
sobre a espécie de desigualdade que reina entre todos os povos
policiados, pois é manifestamente contra a Natureza, seja qual for a
maneira, porque a definamos, uma criança mandar num velho, um
imbecil conduzir um sábio, ou um punhado de pessoas regurgitar
superfluidades enquanto à multidão faminta falta o necessário”.
Nomeado
pelos pares, fez papel de anjo toucheiro palestrador sobre o
“caminhante solitário” homenageado, o acadêmico Nelson Nery
Costa.
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