Cunha
e Silva Filho
Há
algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações
porque não tinham suficiente prática de expor-se pela palavra
escrita. Mesmo alguns professores – e me refiro principalmente aos
de língua portuguesa - pouco ou nada escreviam a não ser para
algumas finalidades básicas da vida cotidiana. Os professores desta
disciplina, sobretudo os do ensino fundamental ou médio, o que
mais desenvolviam em atividade envolvendo a
habilidade da escrita, quando o faziam na verdade,
era ler e corrigir redações de seus alunos, i.e., eram
profissionais que corrigiam aquilo que, na prática, eles próprios
não faziam. Alguns deles me confessavam que não
tinham talento para escrever, até mesmo do ponto de
vista teórico!
É
possível corrigir bem uma redação sem que o que corrige domine bem
a habilidade escrita? Não há aí uma certa contradictio in
teminis? Como exigir do aluno uma boa redação se o próprio
educador não a tem no exercício de ensinar a língua portuguesa e,
no caso específico, de ensinar redação?
Corrigir
redação não se cinge a reconhecer os erros de gramática do aluno,
mas sim avaliar a capacidade de desenvolvimento do pensamento crítico
do discente ao se lhe propor um tema para expor com originalidade e
discernimento.
É
óbvio que o professor de língua portuguesa,com seu tirocínio, a
sua experiência de leitor observará que um texto escrito não se
limita a construções da língua normativa, mas a
elementos essenciais que estão implicados na construção de um
texto: a capacidade de criatividade, o horizonte cultural do aluno, a
coerência textual, a coesão, um bom ou ótimo domínio da
articulação das ideias com a habilidade de a elas dar uma forma
determinada.
Na
realidade, há muitos professores que leem bem, mas escrevem mal, o
que me leva a supor que existe alguma tendência ou vocação para
escrever bem, não obstante haja linguistas que não veem
a questão sob este ângulo especulativo ou teórico. Eles, os
linguistas (principalmente), possivlemente alguns
gramáticos, e filólogos (estes últimos, infelizmene, não
estão mais em moda nos estudos de linguagem, sobretudo com a chegada
da linguística, ciência da linguagem que se constituiu no final do
século 19), negam essa tndência inata para escrever
bem. Alegam que, se bem orientados e se bem expostos
à prática da língua escrita, será possível alguém
melhorar sua capacidade de escrever
Tudo dependeeria de uma efetiva e fucional forma de ensino de redação, mostrando ao discente como funciona internamente o mecanismo da estruturação de um texto, através de estratégias linguísticas aplicadas que proporcionem ao estudante o que tanto os linguístas gostam de frisar : a consciência metalinguística que os alunos devem ter na elaboração de qualquer texto, mesmo que sejam textos não-literários.
Tudo dependeeria de uma efetiva e fucional forma de ensino de redação, mostrando ao discente como funciona internamente o mecanismo da estruturação de um texto, através de estratégias linguísticas aplicadas que proporcionem ao estudante o que tanto os linguístas gostam de frisar : a consciência metalinguística que os alunos devem ter na elaboração de qualquer texto, mesmo que sejam textos não-literários.
Meu
pai, que foi um jornalista muito produtivo, costumava afirmar,
citando provavelmente o velho gramático paulista Eduardo Carlos
Pereira, que “Só se aprende a escrever, escrevendo.” Ou seja, é
no batente do exercício da redação que se vai aprendendo e
aperfeiçoando a composição escrita. Eu diria, acrescentando,
que esse aprendizado deve pressupor um background cultural
do aprendiz, quer dizer, o aluno vai melhorando sua capacidade
escrita com um combustível essencial: a constância da leitura de
bons autores em língua portuguesa: ficcionistas, poetas, contistas,
dramaturgos, em suma, de autores que saibam lidar com a habilidade
da escrita, ainda que não só necessariamente escritores,
ficcionistas ou poetas, mas historiadores, filósofos, matemáticos,
físicos etc, ensaístas não apenas do âmbito literário
estritamente falando, mas também do campo científico. O ato de
escrever bem e com elegância e respeitando a variabilidade de
natureza do texto pode ser executado por toda pessoa que tenha
adquirido a habilidade da escrita. Quem deseja aperfeiçoar a sua
maneira de escrever também passa pela prática constante de ler bons
jornais e revistas de alto nível no uso da competência linguística.
O grande crítico Antonio Candido, certa vez, recomendou a leitura,
diária se possível, de jornais para quem desejasse nutrir-se
culturalmente e ao mesmo tempo aprimorar sua capacidade de escrita.
No
domínio da Internet, tenho verificado que, ao contrário do que
algumas pessoas andaram prognosticando ou apregoando, os seus
usuários, sobretudo utilizando-se do Facebook e do e-mail,
têm dado provas evidentes de exercitar a complexa atividade da
escrita. Por um razão bem simples: quando o usuário da Internet
recebe um e-mail, por exemplo, e vai dar-lhe resposta,
estará empregando todo o seu esforço intelectivo para dar
uma resposta bem clara e, quanto possível, bem organizada, e é aí
que passa a desempenhar seu papel de autor de um texto que, tanto
melhor será expresso quanto maior for seu repertório
informativo-cultural. É lógico que não me atenho aqui àquele
usuário amante e devoto das linguagens cifradas ( porém claríssimas
para a faixa de jovens, principalmente no que concerne a
abreviaturas, relaxamento da construção sintática e desprezo pela
forma normativa de escrever).
Nesta
situação pode-se falar de mau uso da comunicação escrita via
Internet. No entanto, se o jovem ou o adulto precisam se exprimir por
essa forma virtual, nada melhor do que aprimorar o domínio do texto
escrito ao enviar e-mail ou ao escrever suas mensagens
no Facebook., espaço virtual que, por sinal, tornou-se uma
espécie de fórum em escala global para a expressão da troca de
informações entre as pessoas e oportuna maneira de, sem que se
perceba o fato, atuar dinamicamente no processo da escrita,
porquanto aquele espaço virtual muitas vezes tem virado verdadeira
coluna de jornal com a finalidade de transmitir opiniões,
informação, tornando-se, assim, locus propício
para diálogos entre interlocutores em diversas áreas e riqueza de
variabilidade de temas. Sem sombra de dúvida, têm sido agora esses
espaços virtuais grandes estimuladores de melhoria de qualidade da
escrita e de fonte contínua de ensejo para leituras e reflexões
entre as pessoas.Ou, por outro lado, a constância de fazer uso
da escrita, por si só, se torna um inestimável espaço. Louvável
se fez esse canal de comunicação escrita que só tem aumentado a
possibilidade de transmitir ideias e pensamentos na prática da
escrita, a grande vencedora em termos de melhoria de qualidade na
práxis de provocar e de habituar seu usuário a redigir textos. Essa
foi sua grande vitória no campo virtual.
Reconheço,
ademais, que a prática da redação foi grandemente melhorada com o
avanço e desenvolvimento de campos de investigação da linguagem e
entendimento de textos, como a análise do discurso, a
linguística textual. Novos aspectos do estudo da linguagem
foram surgindo e se tornando decisivos para a melhoria
de técnicas de redação. Só para ficar em alguns
exemplos, mencionaria o estudo da constituição do parágrafo,
a identificação do chamado tópico-frasal, a classificação de
tipos diversos de parágrafos, o estudos dos conectores e de sua gama
de sentidos, os quais contribuíram sobejamente para o
incremento do ato de redigir não só para fins de comunicação
literária e não-literária, mas também para tornar os estudantes
muito mais metalinguisticamente conscientes do “como” e do “por
quê” no uso adequado de todos os elementos gramaticais e
semânticos na estruturação adequada e na eficácia de um parágrafo
e do todo de um texto. Grande conquista essa dos modernos estudos de
língua e da linguagem! No exemplo acima, não cabe esquecer o grande
contributo que deu para o ensino de redação no Brasil o professor e
ensaísta Othon M.Garcia com o seu clássico livro Comunicação
em prosamoderna ( Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1967). há poucos anos ainda muito recomendado a alunos de
jornalismo. A originalidade do estudo aprofundado do parágrafo não
foi dele, ele a trouxe dos americanos e, no país, teve uma fortuna
crítica admirável avançando, desta maneira, os estudos de
linguagem escrita e, portanto, de redação entre nós.
Lembro-me
muito bem de um professor, que nem mesmo era formado em língua
portuguesa, mas exercia a função de professor desta
disciplina num cursinho pré-vestibular. No Piauí, adolescente, já
havia publicado diversos artigos em jornais, mas, apesar de tudo
isso, ao redigir um texto sobre um tema proposto por aquele
professor, a primeira coisa para qual me chamou a atenção foi, na
folha escrita à mão, a minha ausência de “dar margem
aos parágrafos. Ora, nos jornais que publicava os meus artigos em
Teresina esta minha “ausência” era corrigida na própria redação
do periódico. Escritores antigos não tinham nenhuma noção
linguísticamente orientada da importância de um parágrafo bem
estruturado. Eles conseguiam formular seus enunciados graças ao
talento, à observação meticulosa dos exemplos dos melhores
autores, mas lhes faltava ainda a consciência metalinguística para
estas noções da escrita.
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