José
Maria Vasconcelos
Calma,
calma! Não se trata de palavrão. Antigas comédias do cinema
exibiam a marca O.V.A (Original Video Animation). A sigla virou gíria
de gozação ao que parece sério, mas não é: "Isso é uma
ova!"
Depois
de vinte anos de alienação política, a juventude foi às avenidas
cobrar mais vergonha na cara dos que comandam o país. A sociedade
anda assustada com a galopante corrupção institucionalizada,
tráfico de drogas, assaltos, assassinatos a cidadãos, inclusive
crianças, mobilidade urbana caótica, saúde e educação
degradantes. A presidente Dilma tenta aplacar a fúria com mimos e
cantilenas de ninar. Falou em pacto, Constituinte, reforma política,
punição rigorosa para crimes hediondos. Por último, plebiscito.
Blá, blá, blá, mais blá, blá, blá. Protestos continuam nas
avenidas, praças, saguões do Congresso, câmaras e assembleias,
Brasil afora. Na verdade, Dilma já acordou o Congresso para
aprovação de algumas medidas oriundas das ruas. As principais
exigências, porém, adormecem no colo de duvidoso plebiscito.
A
presidente tenta curar chagas profundas com emplastro, mas
negligencia a cirurgia. No início de sua administração, promoveu
faxina, demitindo sete ministros e assessores próximos encrencados
com escândalos. A popularidade subiu às nuvens, 80% de aceitação,
primeiro lugar entre as estadistas do mundo. Aprovação nacional
também retribuída a Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal
Federal, pela corajosa condenação de mensaleiros corruptos.
Curiosas semelhanças: ambos, candidatos indicados por Lula, mau
humor incrustado, retidão de conduta. A opinião pública até
perdoou a audácia de guerrilheira e os rompantes do ministro.
Presidente Dilma não continuou a faxina inicial,
submissa a caprichos partidários. Encontrar-se-ia hoje por cima da
carne seca. Resultado: amarga protestos nas ruas, queda de
popularidade para quase 30%. Joaquim Barbosa, a pedreira moral e mal
humorado, continua em alta, queridão do público.
Para
que plebiscito, se a opinião pública já definiu o que quer? O
clamor das ruas exige cumprimento de deveres mínimos de vergonha na
cara. Imediatamente. Não aceita meses de engabelação e
planejamento de plebiscito. "Esperar não é saber."
Plebiscito
vem de plebe. Mas a plebe bolsista mal sabe clicar uma urna, imagine
ler dezena de propostas. Portanto mais blá, blá, blá e empulhação.
Os
protestos já dizem tudo: abaixo os corruptos, prisão imediata ;
Voto facultativo; redução de ministérios, de 37 para 12, como em
vários países civilizados; Redução da menoridade; Redução da
representação política; Acesso a cargos públicos somente por
concurso e ficha-limpa; Bloqueio para partidos nanicos; Fim do voto
proporcional; Participação popular(conselhos) na análise de
planilhas de custos e lucros, inclusive, nas licitações e obras
públicas;Fidelidade partidária; Redução de funcionários
congressistas(na Assembleia do Piauí, são mais de 2 mil), onde
salário de motorista tripudia o de médico e professor
universitário.
Parte
das cobranças das ruas pode passar por simples decisão do
Congresso, em vez de plebiscito. Aconteceu no impeachment de Collor,
na condenação dos anões do orçamento. O problema é o Congresso
minado de fichas-sujas. Aí, meu compadre, minha comadre, vamos
assistir a mais uma comédia no Cinema Congresso. Porque, neste
país, dignidade nacional é uma ova.
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