segunda-feira, 8 de julho de 2013

"PLEBISCITO, UMA OVA!"


José Maria Vasconcelos

Calma, calma! Não se trata de palavrão. Antigas comédias do cinema exibiam a marca O.V.A (Original Video Animation). A sigla virou gíria de gozação ao que parece sério, mas não é: "Isso é uma ova!"

Depois de vinte anos de alienação política, a juventude foi às avenidas cobrar mais vergonha na cara dos que comandam o país. A sociedade anda assustada com a galopante corrupção institucionalizada, tráfico de drogas, assaltos, assassinatos a cidadãos, inclusive crianças, mobilidade urbana caótica, saúde e educação degradantes. A presidente Dilma tenta aplacar a fúria com mimos e cantilenas de ninar. Falou em pacto, Constituinte, reforma política, punição rigorosa para crimes hediondos. Por último, plebiscito. Blá, blá, blá, mais blá, blá, blá. Protestos continuam nas avenidas, praças, saguões do Congresso, câmaras e assembleias, Brasil afora. Na verdade, Dilma já acordou o Congresso para aprovação de algumas medidas oriundas das ruas. As principais exigências, porém, adormecem no colo de duvidoso plebiscito.

A presidente tenta curar chagas profundas com emplastro, mas negligencia a cirurgia. No início de sua administração, promoveu faxina, demitindo sete ministros e assessores próximos encrencados com escândalos. A popularidade subiu às nuvens, 80% de aceitação, primeiro lugar entre as estadistas do mundo. Aprovação nacional também retribuída a Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal, pela corajosa condenação de mensaleiros corruptos. Curiosas semelhanças: ambos, candidatos indicados por Lula, mau humor incrustado, retidão de conduta. A opinião pública até perdoou a audácia de guerrilheira e os rompantes do ministro.

Presidente Dilma não continuou a faxina inicial, submissa a caprichos partidários. Encontrar-se-ia hoje por cima da carne seca. Resultado: amarga protestos nas ruas, queda de popularidade para quase 30%. Joaquim Barbosa, a pedreira moral e mal humorado, continua em alta, queridão do público.

Para que plebiscito, se a opinião pública já definiu o que quer? O clamor das ruas exige cumprimento de deveres mínimos de vergonha na cara. Imediatamente. Não aceita meses de engabelação e planejamento de plebiscito. "Esperar não é saber."

Plebiscito vem de plebe. Mas a plebe bolsista mal sabe clicar uma urna, imagine ler dezena de propostas. Portanto mais blá, blá, blá e empulhação.

Os protestos já dizem tudo: abaixo os corruptos, prisão imediata ; Voto facultativo; redução de ministérios, de 37 para 12, como em vários países civilizados; Redução da menoridade; Redução da representação política; Acesso a cargos públicos somente por concurso e ficha-limpa; Bloqueio para partidos nanicos; Fim do voto proporcional; Participação popular(conselhos) na análise de planilhas de custos e lucros, inclusive, nas licitações e obras públicas;Fidelidade partidária; Redução de funcionários congressistas(na Assembleia do Piauí, são mais de 2 mil), onde salário de motorista tripudia o de médico e professor universitário.

Parte das cobranças das ruas pode passar por simples decisão do Congresso, em vez de plebiscito. Aconteceu no impeachment de Collor, na condenação dos anões do orçamento. O problema é o Congresso minado de fichas-sujas. Aí, meu compadre, minha comadre, vamos assistir a mais uma comédia no Cinema Congresso. Porque, neste país, dignidade nacional é uma ova. 

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