Dr.
Elmar,
Primeiramente, ainda
estou muito agradecido pela doação das obras para minha
pessoa.
Mas,
o mais importante é que no seu poema "Noturno de Oeiras", eu
e meu filho de 9 anos - que é um assíduo leitor nesta
terra de raros admiradores da palavra - nos transportamos para
um tempo que não parou.
Ademais,
segue um texto muito interessante encontrado nas minhas pesquisas
sobre "A palavra", esta que pode ser mais mordaz do que uma
espada, ou pode ser mais benéfica do que todos os
remédios vendidos nas farmácias.
Parabéns
pelo Blog, caso possa inserir o texto, ficarei agradecido.
Do
companheiro das caminhadas eventuais na Avenida Raul Lopes,
Segue
o texto:
A
palavra
Freud
costumava dizer que os escritores precederam os psicanalistas na
descoberta do inconsciente. Tudo porque literatura e psicanálise têm
um profundo elo em comum: a palavra. Já me perguntei algumas vezes
como é que uma pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue
externar suas fantasias e carências durante uma terapia.
Consultas
são um refinado exercício de comunicação. Se relacionamentos
amorosos fracassam por falhas na comunicação, creio que a relação
terapêutica também poderá naufragar diante da impossibilidade de o
paciente se fazer entender.
Estou
lendo um belo livro de uma autora que, além de poeta, é
psicanalista, Sandra Niskier Flanzer. E o livro se chama justamente
“a pa-lavra”, assim, em minúsculas e salientando o verbo contido
no substantivo.
Lavrar:
revolver e sulcar a terra, prepará-la para o cultivo. Se eu tenho um
Deus, e tenho alguns, a palavra é certamente um deles. Um Deus
feminino, porém não menos dominador. Ela, a palavra, foi
determinante na minha trajetória não só profissional, mas
existencial.
Só
cheguei a algum lugar nessa vida por me expressar com clareza, algo
que muitos consideram fácil, mas fácil é escrever com afetação.
A clareza exige simplicidade, foco, precisão e generosidade. A
pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a ter uma bola de
cristal para descobrir o que queremos dizer.
Falar
e escrever sem necessidade de tradução ou legenda: eis um dom que é
preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num
mundo com menos obstáculo. A palavra, que ferramenta.
É
uma pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso.
Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais
emperradas, que ela facilita negociações, encurta caminhos, cria
laços,aproxima as pessoas.
Tanta
gente nasce e morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por
falar, mas não conversam, não usam a palavra como elemento de
troca. Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica,
qualquer palavra lhes serve. Mas não. Não serve qualquer uma.
A
palavra exata é um pequeno diamante. Embeleza tudo: o convívio, o
poema, o amor. Quando a palavra não tem serventia alguma, o silêncio
mantém- se no posto daquele que melhor fala por nós.
Em
terapia – voltemos ao assunto inicial – temos que nos apresentar
sem defesas, relatar impressões do passado, tornar públicas nossas
aflições mais secretas, perder o pudor diante das nossas fraquezas,
ser honestos de uma forma quase violenta, tudo em busca de uma
“absolvição” que nos permita viver sem arrastar tantas
correntes.
Como
atingir o ponto nevrálgico das nossas dores sem o bisturi certeiro
da palavra? É através dela que a gente se cura.
(MEDEIROS,
Martha. A palavra. Revista O Globo. 18 set.
2011).
(*) Fabrício é advogado do Banco do Nordeste do Brasil S. A. Conheci-o por intermédio do amigo Jean Cibélio, também funcionário do BNB. Gosta de ler, tem assunto e sabe conversar com arte. Seu filho é um leitor compulsivo, apesar de ainda bem jovem.
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