quinta-feira, 3 de outubro de 2013

CONVERSA NA TARDE


3 de outubro   Diário Incontínuo

CONVERSA NA TARDE

Elmar Carvalho

Na tarde desta terça-feira, fui à casa do Des. Hilo Almeida buscar um medicamento, que ele me havia prometido, para tratamento de uma doença sobre a qual não desejo falar nesta oportunidade, após o que pretendia fazer caminhada na Av. Raul Lopes. Fui recebido com a cortesia que lhe é peculiar. Fomos conversar em seu escritório, no qual ficam expostos seus livros, além de alguns outros objetos, inclusive artísticos.

Ali estavam mais de uma dezena de chapéus, de diferentes tamanhos, formatos, cores e texturas. Brincando, disse-lhe que os chapéus poderiam combinar com as cores de seus diferentes ternos. Chamou-me a atenção um volumoso álbum, em dois grossos volumes, com fotografias de postais sobre o patrimônio arquitetônico e paisagístico de São Luís, mormente prédios, praças e monumentos.

O álbum era da autoria de seu cunhado, o professor, poeta e historiador Antonio Guimarães de Oliveira, e tem o título de São Luís: Memória & Tempo, e o subtítulo de São Luís em cartões postais e álbuns de lembranças. Trata-se de uma bela obra de arte, impressa com esmero em papel couché. O Des. Hilo presenteou o historiador e meu confrade da Academia Piauiense de Letras Fonseca Neto, pelo qual tem estima e amizade, com um exemplar. Disse-lhe que o Fonseca é um velho amigo meu, desde o final da década de 70, quando participamos de política estudantil, ele no DCE, em Teresina, eu no Diretório Acadêmico 3 de Março, em Parnaíba.

Na parte superior da estante, havia uma excelente escultura de um formoso cavalo. Indaguei-lhe a respeito. Disse-me ser a réplica de um corcel de sua estimação, morto há algum tempo, fato que lhe entristecera. Fora feita por um artesão de Campo Maior, cujo nome não me foi revelado. Contei-lhe que este ano não estava sendo bom para mim, pois minha mãe falecera em 26 de abril, e um mês depois morria uma cadelinha de nossa máxima estima, além de me ter advindo problema de saúde, que me fará enfrentar um tratamento um tanto invasivo e incômodo.

Por causa do álbum, que folheei com interesse, falamos um pouco sobre a História do Maranhão, em que meu interlocutor nascera, na cidade de Colinas. Disse-lhe que durante muitos anos o Piauí fora vinculado administrativamente ao estado colonial do Maranhão, e não ao do Brasil. Terminei falando sobre Sousândrade, que fizera uma poesia de vanguarda, revolucionária em relação ao romantismo praticado em sua época. O poeta fora rico e correra mundo.

Mais tarde, em franca decadência econômica, dizia estar comendo pedras. Quase a frase não seria uma metáfora nem uma anedota. O poeta vendia tijolos do muro de sua casa, para sobreviver. Era a irônica derrocada final da bela Quinta da Vitória, de onde se vislumbrava a beleza sinuosa do rio Anil e do mar de São Luís, em cujo quintal o excêntrico bardo, de bruços, à sombra de frondosa árvore, lia Homero e Virgílio, no original, segundo conta Humberto de Campos em suas Memórias Inacabadas. Também Josué Montello, em várias passagens de seu Diário Completo (Editora Nova Aguilar, em 2 volumes), faz referência ao velho vate bizarro.

No decorrer de nossa conversa, chegou Carlos Machado Resende, velho conhecido meu, e amigo do anfitrião. Sabendo ser ele natural de Piracuruca, disse-lhe ter ligações sanguíneas com sua terra, por parte das famílias Sousa, Mendes, Meneses, Carvalho e Melo. Falei que havia iniciado minha carreira de magistrado na Comarca de Piracuruca, em janeiro de 1998, após minha posse no Tribunal de Justiça, no dia 19 de dezembro de 1997, quando atuei como juiz auxiliar do Dr. Dioclécio Sousa.

Nesse curto período de 20 dias, tive a satisfação de escrever meu poema Sete Cidades – roteiro de um passeio poético e sentimental, que desejava escrever há muitos anos. Mandei cópia, em primeira mão, para o general João Evangelista Mendes da Rocha, herói da luta contra o nazifascismo em terras italianas, que escreveu um belo artigo sobre esse texto, que depois enfeixou em livro. Transformei a parte inicial do poema em cartaz e promovi uma pequena solenidade, em que o apresentei a alguns intelectuais piracuruquenses.

Acrescentei haver escrito um conto, intitulado Tragédia Shakespeariana em Sete Cidades, que bem poderia ser transformado em filme. O poema e o conto foram publicados na grande rede. Tanto o magistrado Hilo Almeida como Carlos Resende disseram que iriam lê-los, com a ajuda do Google. Quando me despedi, a noite já começava. Perdi a caminhada que pretendia fazer, mas ganhei uma boa tarde, recheada de cultura, história, letras e outras amenidades.   

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