3
de outubro Diário Incontínuo
CONVERSA
NA TARDE
Elmar Carvalho
Na
tarde desta terça-feira, fui à casa do Des. Hilo Almeida buscar um
medicamento, que ele me havia prometido, para tratamento de uma
doença sobre a qual não desejo falar nesta oportunidade, após o
que pretendia fazer caminhada na Av. Raul Lopes. Fui recebido com a
cortesia que lhe é peculiar. Fomos conversar em seu escritório, no
qual ficam expostos seus livros, além de alguns outros objetos,
inclusive artísticos.
Ali
estavam mais de uma dezena de chapéus, de diferentes tamanhos,
formatos, cores e texturas. Brincando, disse-lhe que os chapéus
poderiam combinar com as cores de seus diferentes ternos. Chamou-me a
atenção um volumoso álbum, em dois grossos volumes, com
fotografias de postais sobre o patrimônio arquitetônico e
paisagístico de São Luís, mormente prédios, praças e monumentos.
O
álbum era da autoria de seu cunhado, o professor, poeta e
historiador Antonio Guimarães de Oliveira, e tem o título de São
Luís: Memória & Tempo, e o subtítulo de São Luís em cartões
postais e álbuns de lembranças. Trata-se de uma bela obra de arte,
impressa com esmero em papel couché. O Des. Hilo presenteou o
historiador e meu confrade da Academia Piauiense de Letras Fonseca
Neto, pelo qual tem estima e amizade, com um exemplar. Disse-lhe que
o Fonseca é um velho amigo meu, desde o final da década de 70,
quando participamos de política estudantil, ele no DCE, em Teresina,
eu no Diretório Acadêmico 3 de Março, em Parnaíba.
Na
parte superior da estante, havia uma excelente escultura de um
formoso cavalo. Indaguei-lhe a respeito. Disse-me ser a réplica de
um corcel de sua estimação, morto há algum tempo, fato que lhe
entristecera. Fora feita por um artesão de Campo Maior, cujo nome
não me foi revelado. Contei-lhe que este ano não estava sendo bom
para mim, pois minha mãe falecera em 26 de abril, e um mês depois
morria uma cadelinha de nossa máxima estima, além de me ter advindo
problema de saúde, que me fará enfrentar um tratamento um tanto
invasivo e incômodo.
Por
causa do álbum, que folheei com interesse, falamos um pouco sobre a
História do Maranhão, em que meu interlocutor nascera, na cidade de
Colinas. Disse-lhe que durante muitos anos o Piauí fora vinculado
administrativamente ao estado colonial do Maranhão, e não ao do
Brasil. Terminei falando sobre Sousândrade, que fizera uma poesia de
vanguarda, revolucionária em relação ao romantismo praticado em
sua época. O poeta fora rico e correra mundo.
Mais
tarde, em franca decadência econômica, dizia estar comendo pedras.
Quase a frase não seria uma metáfora nem uma anedota. O poeta
vendia tijolos do muro de sua casa, para sobreviver. Era a irônica
derrocada final da bela Quinta da Vitória, de onde se vislumbrava a
beleza sinuosa do rio Anil e do mar de São Luís, em cujo quintal o
excêntrico bardo, de bruços, à sombra de frondosa árvore, lia
Homero e Virgílio, no original, segundo conta Humberto de Campos em
suas Memórias Inacabadas. Também Josué Montello, em várias
passagens de seu Diário Completo (Editora Nova Aguilar, em 2
volumes), faz referência ao velho vate bizarro.
No
decorrer de nossa conversa, chegou Carlos Machado Resende, velho
conhecido meu, e amigo do anfitrião. Sabendo ser ele natural de
Piracuruca, disse-lhe ter ligações sanguíneas com sua terra, por
parte das famílias Sousa, Mendes, Meneses, Carvalho e Melo. Falei
que havia iniciado minha carreira de magistrado na Comarca de
Piracuruca, em janeiro de 1998, após minha posse no Tribunal de
Justiça, no dia 19 de dezembro de 1997, quando atuei como juiz
auxiliar do Dr. Dioclécio Sousa.
Nesse
curto período de 20 dias, tive a satisfação de escrever meu poema
Sete Cidades – roteiro de um passeio poético e sentimental, que
desejava escrever há muitos anos. Mandei cópia, em primeira mão,
para o general João Evangelista Mendes da Rocha, herói da luta
contra o nazifascismo em terras italianas, que escreveu um belo
artigo sobre esse texto, que depois enfeixou em livro. Transformei a
parte inicial do poema em cartaz e promovi uma pequena solenidade, em
que o apresentei a alguns intelectuais piracuruquenses.
Acrescentei
haver escrito um conto, intitulado Tragédia Shakespeariana em Sete
Cidades, que bem poderia ser transformado em filme. O poema e o conto
foram publicados na grande rede. Tanto o magistrado Hilo Almeida como
Carlos Resende disseram que iriam lê-los, com a ajuda do Google.
Quando me despedi, a noite já começava. Perdi a caminhada que
pretendia fazer, mas ganhei uma boa tarde, recheada de cultura,
história, letras e outras amenidades.
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