Em
viagem ao amazonas
Hermínio
Castelo Branco (1851 – 1889)
Retirando-me
saudoso,
De
minha terra querida,
Rompendo
os laços mais doces
(Se
há doçura na vida),
Vou
desferir este canto
De
saudosa despedida.
Qual
um batel sem piloto,
Que
se lança ao mar, sem norte,
Que
aos ventos abriu as velas,
O
resto deixando à sorte,
Assim,
nas ondas da vida,
Vou
lutando contra a morte.
Mas
caro, bem caro, custa
A
quem tem peito sensível,
Deixar
os lares queridos,
Que
ama quanto é possível,
Para
sofrer no estranho
Mágoa
cruel, indizível.
Porém
tu, fado inconstante,
Que
és a trena da vida,
Que
sorris quando soluça
de
dor, minha alma transida,
Não
me farás esquecer
De
minha terra querida.
Das
verdejantes florestas,
Onde
a infância passei;
Das
campinas matizadas,
Onde
de tarde brinquei,
E
dos humildes regatos,
cujos
gemidos notei.
Do
chico-preto saudoso,
Que
lá na moita cantava,
Na
florida ribanceira
Da
corrente que passava;
Daquelas
noites sublimes,
Que
aos meus suspiros juntava.
De
tudo, sim, quanto guardo
No
meu triste coração,
Afagarei
na memória
Imortal
recordação
E
nas cordas desta lira
Acharei
consolação.
*
E
quando, saudosa terra,
Dos
mares não te avistar;
Quando
o sol no seu zênite
Nas
ondas se mergulhar,
Te
enviarei um suspiro
Pela
brisa que passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário