Fonseca
Neto
Há
pouco mais de um mês o governador nomeou e empossou o terceiro
reitor da Universidade Estadual do Piauí escolhido pela comunidade
universitária.
Aparentemente
rotineiro, trata-se de fato político-administrativo muito relevante
e que pode ser lido em dupla chave: uma, enquanto ponto de chegada de
um processo esforçado para colocar essa Instituição de pé,
institucionalizada, com maioria de professores e funcionários não
docentes efetivamente contratados e sem a “farra” de criação de
cursos – e “de boca” – e das transferências de
estudantes com pistolão; a outra, como ponto de partida e com bons
passos dados, para cumprir um papel muito destacado no processo
civilizatório piauiense e brasileiro.
A
Uespi teve um crescimento qualitativo evidente, fácil de constatar
nas avaliações levadas a efeito ultimamente e sobretudo na
percepção mediana da sociedade. Os resultados do Enade 2013/14
situaram os cursos de graduação por ela ofertados entre as menções
3 a 5, como assinalou, num breve inventário de experiências
exitosas, por ocasião do ato de posse, um membro da instituição,
doutor Francisco Soares Santos Filho: “Temos o melhor curso de
Fisioterapia do Brasil, por três vezes avaliado com o conceito 5;
nosso curso de Medicina é o único no Estado a ter conceito 5, a
ordem dos Advogados do Brasil distribuiu 89 recomendações aos
cursos de Direito dos mais de 1.500 cursos em funcionamento no
Brasil. Destas, cinco recomendações vieram para o Piauí e a Uespi
foi a única a receber três cursos recomendados no país inteiro.
Tivemos três cursos de Licenciatura com conceito 5. Isto nos valeu o
direito de indicar dois docentes destes cursos – História e
Geografia – a tomarem assento no Conselho do Ministério da
Educação, que avalia livros didáticos nestas áreas no país”.
Lembrou a inclusão de vários cursos da Uespi num conhecido “Guia”
editado por empresa nacional e referenciado no meio universitário.
Sinais, diga-se. Experiência em aberto, com incompletudes
desafiadoras.
Originalmente
pensada como agência formadora de docentes, essa instituição
ressignificou os objetivos e expandiu sua oferta de cursos de
graduação, galgando, pouco mais de duas décadas depois, aquela
qualidade garantidora da condição de ser ela uma universidade: vem
agregando à atividade de ensino a atividade de pesquisa sistemática
e a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu.
A
afirmação da Uespi como instituição universitária estatal
socialmente referenciada não é obra do acaso. Todo o Piauí que
queira enxergar há que reconhecer, no seu percurso, de certo modo
atribulado, uma crônica de vários erros, inclusive de condução
política, superados, contudo, muitos, pelo acerto insistente e
perseverante de valorosos atores de entre os quadros humanos que a
conduziram, e conduzem, no desempenho cotidiano de suas tarefas
institucionais no serviço da sociedade.
Como
entidade estatal dependente de provisões do erário estadual, convém
lembrar que os êxitos verificados não sobreviriam sem decisão
política de governo: decisão mobilizada por forças embatentes;
decisão mobilizadora das energias necessárias para sua obtenção.
Com efeito, por ser o Piauí um ente federativo de minguados recursos
financeiros para tanta tarefa básica que urge –além da pressão
enorme por nacos dos fundos públicos emanada do pragmatismo da
politicagem–, mobilizar verbas para a universidade requer largueza
de visão associada à determinação de fazê-lo. E essa
determinação demonstrou tê-la, o atual governante, Wilson Martins,
professor universitário eleito para governar o Piauí, portanto, um
conhecedor da vida acadêmica.
E
o futuro? Estão dadas algumas condições para avanços ainda mais
significativos. Assim como em relação a Ufpi, de experiências
maturadas com mais vagar, desafia a Uespi, o imperativo exigente de
contribuir na requalificação da vida contemporânea engajada por
completo na construção prática do Justo. Há que descobrir
caminhos inovadores que movam o desenvolvimento de outras
possibilidades e fazeres. Há sinais de cansaço, por exemplo, em
inorgânicos bacharelados, aliás, formatados ao afã da viçosa e
compulsiva burocracia, que, tal diz José Murilo de Carvalho, é “a
vocação de todos” no Brasil.
Elabore
assim o seu destino, fazendo-se (esse) instrumento compenetrado de
provisão de propostas substantivas e a Uespi (assim a Ufpi) será,
cada vez mais, a “universidade necessária”, darcyana e
piauieira.
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