10
de abril Diário Incontínuo
POLÍTICA
& política
Elmar Carvalho
Nunca
fui candidato a cargo político, nem tampouco fui filiado a nenhum
partido, de modo que me sinto à vontade para discorrer com isenção
sobre o tema que me disponho a enfrentar. Em contrapartida, não me
considero “apolítico”, porquanto sou um cidadão, e sei
perfeitamente que todas as decisões importantes e de interesse geral
da sociedade, mormente a elaboração e a execução das leis, passam
necessariamente pela política.
Aliás,
se os cargos políticos fossem exercidos da forma correta, sem outro
interesse senão o de servir à sociedade, a política seria um
verdadeiro sacerdócio, e os políticos seriam simplesmente servos ou
servidores do povo, que seria o seu mandante ou “patrão”.
Contudo, os desvios de conduta e de finalidade são uma constante, na
forma do que constatamos a todo o momento através da mídia.
Não
compartilho da crença de que todos os políticos sejam maus, de que
todos os políticos sejam corruptos; quase toda generalização é
eivada de injustiça. Entretanto, tenho a convicção de que, no
Brasil, os POLÍTICOS, com maiúsculas, são minoria, cada vez mais
restrita. Tenho observado que os homens de bem vêm se afastando da
política, como se estivessem fugindo de uma doença fatal e
contagiosa. Ora, quando a luz é afastada ou se apaga, as sombras vão
ocupando todos os espaços. Na verdade a sombra (ou a treva) nada
mais é do que a ausência da luz. Logo, torna-se necessário que os
homens virtuosos voltem a concorrer aos cargos públicos eletivos.
Todavia,
por razões que não irei expor neste singelo e conciso registro, uma
campanha política tornou-se astronomicamente cara. Muitos cidadãos
não têm dinheiro para enfrentá-la. Outros teriam condições
financeiras para tal, mas como não pretendem “assaltar” o erário
e nem travar relações espúrias com doleiros e empresários
desonestos, e assim se ressarcir dos gastos da campanha, preferem não
disputar nenhum cargo político. Desse modo, muitas pessoas de boa
formação moral se omitem da política, o que deixa um vasto campo
aberto aos aventureiros, arrivistas e inescrupulosos. Como disse
antes, quando a luz se afasta, as trevas tomam de conta.
Conta-se
que um magistrado, filho de certa cidade maranhense, salvo engano,
teria dito a seus amigos que só acreditaria que um homem não
pudesse ser honesto na política se ele próprio fosse prefeito de
sua cidade e não pudesse exercer o cargo com probidade. Seus amigos,
ante essa afirmativa, se propuseram a trabalhar por sua eleição,
caso ele viesse a candidatar-se. O juiz pediu exoneração de seu
cargo, filiou-se a um partido político, como exige a legislação
eleitoral, e candidatou-se.
Eleito,
assumiu as funções de prefeito de seu município. Um mês depois
renunciou ao cargo. Sentiu que seria difícil exercer as suas funções
com honestidade. Confidenciou que os próprios parentes, amigos e
correligionários lhe faziam pedidos de benesses indevidas e
ilegítimas. Não querendo desgastar-se e tornar-se inimigo dessas
pessoas preferiu dar “às de Vila Diogo”, e deixou as funções
para as quais fora eleito. Submeteu-se a novo concurso, e retornou à
judicatura. Talvez pensasse como Voltaire: “Que Deus me proteja dos
meus amigos. Dos inimigos, cuido eu.”
Penso
que reeleições infindáveis facilitam a criação de relações
espúrias entre os políticos e os eleitores, entre os políticos
entre si e principalmente entre estes e os empreiteiros que buscam
vantagens indevidas, inclusive na partilha do orçamento e na
destinação de verbas públicas. Não houvesse reeleição, o
político saberia que logo voltaria à condição de cidadão comum,
e procuraria fazer boas leis e bem administrar a coisa pública.
E
talvez não houvesse tempo nem condições para a formação de
compadrios, amizades do interesse pessoal e outros conluios para a
prática de maracutaias. Pior ainda quando, na chefia do Poder
Executivo, a pessoa pleiteia ser reeleita no pleno exercício do seu
cargo. Acredito que se não houvesse reeleição ou se, no máximo,
fosse permitida apenas uma, muitas mazelas eleitorais e mesmo de
desvio de verbas públicas não aconteceriam, ou, ao menos, seriam
bastante reduzidas.
Na
seara das reeleições, uma coisa não consigo entender: por que um
presidente da República, que é a mais alta e a mais poderosa
autoridade do país, pode concorrer a uma reeleição sem deixar o
seu cargo, enquanto um secretário municipal, para disputar um cargo
de vereador, tem que renunciar à pasta que ocupa? Se o secretário
poderia usar o seu cargo para facilitar a sua eleição, entendo que
o chefe do Poder Executivo poderia mais ainda.
Não
havendo incontáveis reeleições e, por conseguinte, diminuindo o
número de políticos profissionais e candidatos natos, as campanhas
se tornariam menos caras. Isso talvez ensejasse a possibilidade de
que um maior número de pessoas corretas pleiteasse cargos políticos,
o que certamente contribuiria para a renovação de lideranças e
para o necessário arejamento político, com novas e mais opções.
Como dizem os pareceristas, é este o meu entendimento, salvo melhor
juízo.
Entretanto,
mesmo essa possível tentativa de solução seria desvirtuada, se as
virtudes não dominarem a alma humana, pois sempre o mau busca modos
e meios de fraudar as melhores leis. Como disse o poeta, patriota e grande
líder angolano Agostinho Neto: “Não basta que seja pura e justa a nossa causa. /
É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.”
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