AS
FANTASIAS DE UMA MULHER CASADA
Antonio
Gallas
A
matéria que seria para circular nessa edição deste periódico,
trazia o título de A TERRA DOS GOVERNADORES e versava sobre os
filhos de Barras que foram governadores. Fazia também comparações
com a cidade da Parnaíba que já tem o seu quarto filho ilustre como
governador do Piauí. Enviei a mesma para a apreciação e ou
publicação no blog do poeta, escritor e magistrado Elmar Carvalho
como às vezes o faço quando acho interessante um trabalho de minha
lavra. Assim o fiz, e momentos depois recebo telefonema do escritor
Elmar explicando-me a razão de Barras ser denominada de “a terra
dos governadores” e apontando alguns equívocos por mim cometidos
no referido trabalho. Barras não apenas deu filhos governadores no
Piauí, mas também em outros estados como Amazonas e Pernambuco.
Agradeço a atenção do ilustre poeta e escritor. Vou fazer nova
pesquisa sobre o assunto e refazer o trabalho para posterior
publicação.
Porém,
para não perder o fio da meada, ou seja, para não perder esta
edição do Jornal Norte do Piauí, resolvi transcrever partes de um
conto da professora Vera Lucia Menezes de Oliveira e Paiva, no qual
a autora trabalha com as palavras de uma forma bem humorada, o que
na minha opinião, agrada ao leitor. A autora é professora
titular de línguas estrangeiras da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do CNPq. Atua na
Graduação e na Pós-Graduação, nas linhas de pesquisa em
“Ensino/Aprendizagem de línguas estrangeiras” e em Linguagem e
Tecnologia. É ainda autora de livros didáticos de língua inglesa
como o Power English e o Alive. Do seu conto “As Fantasias de
Uma Mulher Casada” extraí apenas a parte que fala do professor
de matemática, do carteiro e do capitalista. Deixei a do professor
de inglês e a do linguista para outra oportunidade. Ei-lo:
AS
FANTASIAS DE UMA MULHER CASADA
Com
o professor de matemática, o triângulo amoroso foi um resultado não
calculado. O produto de olhares sincronizados, durante aquele curso
de especialização, foi o tesão. A soma de tantos desejos
subtraiu-lhes a repressão, multiplicou-lhes as fantasias e deixou-os
divididos em uma equação de amor. Na cama, formavam um par
coeficiente. Na horizontal ou na vertical, tiravam o máximo gozo
comum de uma dança impar de eixos coordenados. A conversa fracionada
- assim?/ - é.../ /te gosto/ - te amo/ - pode?/ - pode.../ - vem.../
- me abraça/ - me aperta/ - te adoro/ - deixa!?/ - hum, hum.../ -
elevava ao cubo aquele momento de gozo. Ela jamais calculara que
pudesse ser tão feliz. Os dois corpos, em linhas retas ou curvas,
traçavam ângulos de vários graus, formando um teorema do amor.
Com
o carteiro, a conversa foi telegráfica. Antes trocaram olhares em um
correio tipo mala direta.
-
Quer?
-Quero
-
Quando?
-
Agora.
-
Agora?
-
É
-
Aonde?
-
Aqui.
-
Aqui?
-
É.
No
quarto, postaram-se frente a frente e beijaram-se aereamente. Puseram
logo as cartas na cama e selaram aquele momento de prazer. Carimbados
pelo amor, os dois, ali naquela cama, pareciam um cartão postal
carimbado por Eros.
Com
o capitalista, dividiu toda a sua afetividade. Resgatou as dívidas
de prazer que contraíra consigo mesma ao longo daquele casamento
falido e aplicou todo o seu amor naquela sociedade anônima. Suas
carências nunca mais ficaram a descoberto. Aquele homem era uma
apólice de prazer resgatável em um prazo fixo de cada sete dias.
Ele hipotecava juros de amor e o seu desempenho na cama era
adicionado a carícias que rendiam infindáveis dividendos.
Duplicavam-se os telefonemas durante o resto da semana. Cada
telefonema era um cheque em branco em que ela colocava a quantia de
felicidade que desejasse. Nunca tivera uma relação afetiva tão
lucrativa. Quanto aos orgasmos, às vezes ele ficava em débito, mas
prometia-lhe outros, em duplicata, ao curto prazo de uma semana. Ela
sempre lhe dava crédito, pois sabia que os jogos de amor são como
as bolsas de valor: há dias de alta e dias de baixa. Havia também
os dias de inflação de orgasmos que lhe dava a impressão de estar
saciada para sempre. Aquele homem rendeu-lhe muito prazer. Enquanto
durou, ela contabilizava cada momento, somava os beijos e os abraços
e depositava na alma todas as palavras doces.
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