A
vírgula que salvou o ladrão
José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Feriado
santo, convite à reflexão. Mergulhar nas Sagradas Escrituras.
Tentar decifrar a mensagem embutida num pronome, palavra ou
pontuação, nem que através de recursos, como papiros, códices,
fontes confiáveis. Gosto de certas perguntas triviais, mas de imenso
valor:
Será
que Jesus bebeu vinagre pouco antes de morrer? Ou tenha pronunciado:
“Pai, perdoai-lhes...”? Ou ao ladrão crucificado: “Hoje mesmo
estarás comigo no paraíso”? Comecei
pelo termo CODEX (pronuncie códex, plural códices), palavra latina
bastante usada na Antiguidade, que significa livro, textos redigidos
em tábuas ou, extensivamente, papiros (folhas vegetais) e
pergaminhos (couro de animais alisados e embranquecidos). Os códices
foram utilizados desde remotos tempos à primavera da imprensa.
Exigia-se profundo conhecimento, arte e técnica dos escribas, uma
classe respeitada, generosamente paga, meio a imensa massa
analfabeta. Os monges destacavam-se na produção de códices,
traduções, estudos e conservação de obras clássicas
greco-latinas, além dos livros bíblicos. Por eles, a Igreja fundou
universidades, as mais famosas até hoje, como a de Bolonha, Sorbone
e Salamanca. Ainda aparecem adversários tábulas rasas que atribuem
aos eclesiásticos a mediocridade medieval.
Centenas
de códices bíblicos valiosos, produzidos dois séculos antes de
Cristo a quatro séculos depois, conservam-se em bibliotecas do
Vaticano, Inglaterra, Estados Unidos e França: Codex Vaticanus,
Codex Alexandrinus ou Septuaginta (do tempo de Ptolomeu II, rei do
Egito, dois séculos antes de Cristo. Ele reuniu 72 escribas (daí
septuaginta) judeus para elaborarem a tradução dos livros bíblicos,
do hebraico para o grego), Codex Sinaiticus (encontrado em mosteiro
do Monte Sinai, em 1844). Esses códices não têm preço e podem ser
vistos em bibliotecas virtuais. O Códex Alexandrinus ou Septuaginta
traz todos os livros bíblicos, incluindo alguns que os evangélicos
aboliram, achando-os apócrifos, mas aceitos pelos católicos.
Todavia já os incluem em suas bíblias.
Os
códices, por serem escritos a mão, tiveram falhas na pontuação ou
troca de algum vocábulo mais preciso. Foi exatamente onde foi parar
minha curiosidade.
Em
um dos códices, Jesus promete ao ladrão arrependido: “Eu te digo,
hoje: estarás no paraíso”. Diferente do que se lê em tradução
atual: “Hoje mesmo, estarás comigo no paraíso”, isto é, o bom
ladrão encontrar-se-á com Jesus, hoje mesmo, no paraíso.
Provavelmente, não foi assim. Quando Maria Madalena viu Jesus
ressuscitado, frente ao sepulcro, correu para abraçá-lo. Mas Jesus:
“Não me toques, pois ainda não subi para o meu Pai!” Logo não
se encontrou, ainda, com o ladrão no céu.
“Pai,
perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!” O Pronome LHES
significa perdão total. Se se tratasse do pronome OS (isto, ato
qualquer), Jesus teria perdoado o erro dos algozes, mas não a
totalidade dos seus pecados.
Jesus
bebeu vinagre? Não, os soldados deram-lhe um vinho ordinário, de
que eles se serviam para despertar instintos brutais. Posca, o nome
do vinho ordinário, tipo Padim Ciço.
Neste
último feriado santo, economizei bom dinheiro, não me entregando a
lúdicas satisfações fugazes. Meu espírito puxou-me para o mais
alto: a leitura e estudo da Palavra revelada.
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