sábado, 3 de maio de 2014

A vírgula que salvou o ladrão


A vírgula que salvou o ladrão

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Feriado santo, convite à reflexão. Mergulhar nas Sagradas Escrituras. Tentar decifrar a mensagem embutida num pronome, palavra ou pontuação, nem que através de recursos, como papiros, códices, fontes confiáveis. Gosto de certas perguntas triviais, mas de imenso valor:
        Será que Jesus bebeu vinagre pouco antes de morrer? Ou tenha pronunciado: “Pai, perdoai-lhes...”? Ou ao ladrão crucificado: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”? Comecei pelo termo CODEX (pronuncie códex, plural códices), palavra latina bastante usada na Antiguidade, que significa livro, textos redigidos em tábuas ou, extensivamente, papiros (folhas vegetais) e pergaminhos (couro de animais alisados e embranquecidos). Os códices foram utilizados desde remotos tempos à primavera da imprensa. Exigia-se profundo conhecimento, arte e técnica dos escribas, uma classe respeitada, generosamente paga, meio a imensa massa analfabeta. Os monges destacavam-se na produção de códices, traduções, estudos e conservação de obras clássicas greco-latinas, além dos livros bíblicos. Por eles, a Igreja fundou universidades, as mais famosas até hoje, como a de Bolonha, Sorbone e Salamanca. Ainda aparecem adversários tábulas rasas que atribuem aos eclesiásticos a mediocridade medieval.
          Centenas de códices bíblicos valiosos, produzidos dois séculos antes de Cristo a quatro séculos depois, conservam-se em bibliotecas do Vaticano, Inglaterra, Estados Unidos e França: Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus ou Septuaginta (do tempo de Ptolomeu II, rei do Egito, dois séculos antes de Cristo. Ele reuniu 72 escribas (daí septuaginta) judeus para elaborarem a tradução dos livros bíblicos, do hebraico para o grego), Codex Sinaiticus (encontrado em mosteiro do Monte Sinai, em 1844). Esses códices não têm preço e podem ser vistos em bibliotecas virtuais. O Códex Alexandrinus ou Septuaginta traz todos os livros bíblicos, incluindo alguns que os evangélicos aboliram, achando-os apócrifos, mas aceitos pelos católicos. Todavia já os incluem em suas bíblias.
          Os códices, por serem escritos a mão, tiveram falhas na pontuação ou troca de algum vocábulo mais preciso. Foi exatamente onde foi parar minha curiosidade.
          Em um dos códices, Jesus promete ao ladrão arrependido: “Eu te digo, hoje: estarás no paraíso”. Diferente do que se lê em tradução atual: “Hoje mesmo, estarás comigo no paraíso”, isto é, o bom ladrão encontrar-se-á com Jesus, hoje mesmo, no paraíso. Provavelmente, não foi assim. Quando Maria Madalena viu Jesus ressuscitado, frente ao sepulcro, correu para abraçá-lo. Mas Jesus: “Não me toques, pois ainda não subi para o meu Pai!” Logo não se encontrou, ainda, com o ladrão no céu.
          “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!” O Pronome LHES significa perdão total. Se se tratasse do pronome OS (isto, ato qualquer), Jesus teria perdoado o erro dos algozes, mas não a totalidade dos seus pecados.
          Jesus bebeu vinagre? Não, os soldados deram-lhe um vinho ordinário, de que eles se serviam para despertar instintos brutais. Posca, o nome do vinho ordinário, tipo Padim Ciço.
          Neste último feriado santo, economizei bom dinheiro, não me entregando a lúdicas satisfações fugazes. Meu espírito puxou-me para o mais alto: a leitura e estudo da Palavra revelada.     

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