quinta-feira, 1 de maio de 2014

HONESTIDADE PROFISSIONAL

Foto meramente ilustrativa

1º de maio   Diário Incontínuo

HONESTIDADE PROFISSIONAL

Elmar Carvalho

Segundo um amigo me contou, Armando Paulo (vamos chamá-lo assim, para efeito narrativo) era um sessentão um tanto formal e metódico. Mantinha um namoro com uma mulher virgem, muito recatada, de aproximadamente 50 anos de idade, com quem pretendia casar-se. Visitava-a na casa dos pais dela, duas a três vezes por semana. Os velhos mantinham uma vigilância canina, e ele mal podia segurar as mãos já um tanto envelhecidas da vitalina.

Por isso mesmo, tinha ele as suas necessidades, e precisava dar vazão à vitalidade sensual que ainda lhe restava. Reservava a sexta-feira, após o expediente da tarde, para dar uma saída com alguma das moças de programa registradas em sua agenda. Nenhuma poderia ter mais de 27 primaveras. O coroa, como disse, era muito organizado e sistemático. Como já não estivesse no auge da sua libido, às vezes já não saía em um ou outro final de semana.

Mas naquela sexta-feira de que estamos tratando, Armando estava muito eufórico, frenético mesmo, muito satisfeito com tudo que lhe acontecera ao longo da semana, e tratou de comemorar esse fato com a sua favorita, constante em lugar de destaque de sua agenda. Telefonou-lhe, tendo a moça prontamente concordado em fazer o “programa”. Aliás, mesmo que ela já tivesse agendado outro encontro, certamente o desmarcaria, pois Armando, além de gratificá-la muito bem, era educado, higiênico e usava sempre o melhor perfume francês da moda. Uma vez ou outra, ainda lhe agradava com um presente sofisticado.

No local e no horário marcados, o homem parou o seu luxuoso automóvel, tendo a jovem imediatamente entrado no veículo. Sem delongas e conversas inúteis, Armando seguiu para um dos melhores motéis de Teresina. Animado e feliz como estava, logo ao chegar abriu uma garrafa do melhor vinho tinto disponível e encomendou um lauto jantar, sem ao menos pensar nos preços do cardápio. A moça não era acostumada com todos esses luxos, e tratou de aproveitá-los o máximo que podia. Por conseguinte, entrou na tépida água da piscina, não sem antes tomar um delicioso banho na ducha de forte jato.

Como já assinalei, Armando Paulo era muito metódico, mas mesmo assim (ou talvez por isso mesmo) ficou a observar as evoluções e remelexos e o belo corpo da ninfa. Quando consultou o reluzente relógio de ouro, que ficara sobre a mesinha, constatou que já era hora de encerrar o programa. Vestiu a calça comprida, e já se preparava para vestir a camisa quando a jovem o advertiu de que ele se esquecera do principal, ou seja, de consumar a transa, que sequer fora iniciada. Ante o olhar de perplexidade do parceiro, ela foi enfática e de uma clareza exemplar:


- Olhe, seu Armando, posso ser prostituta, mas sou uma moça direita, e quero ganhar o meu dinheiro honestamente...    

4 comentários:

  1. Vejamos como um bate-papo informal, nas mãos de um ouvires das palavras, transforma-se numa crônica despretensiosa...quando encontramos honestidade até numa estigmatizada "mulher da vida". Parabéns pelo texto, afinal, o cotidiano é mesmo cheio de paradoxos... Fabricio Carvalho Amorim Leite.

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  2. Caro Fabrício,
    você foi no cerne da questão e intuiu a origem da crônica, que bem poderia ser um conto disfarçado.
    De fato, sua origem foi uma conversa, a que tentei dar um tratamento artístico, mormente na linguagem.
    Abraço,
    Elmar

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  3. Olhar de Poesia - Nanda Costa, atriz global

    Idílio de olhar perdido
    Encanto de morena
    Cabelos negros
    Oculto no corpo
    Agradável.

    És tu que procuro
    Eis aí
    O meu futuro.

    Paixão oculta
    Amar sem destino
    Sem tempo
    Presente puro.


    Caro Elmar, grato pelo espaço.
    Abraço

    sp

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  4. Pois é meu caro Elmar, a moça demonstrou honestidade na profissão que exerce e o cidadão também demonstrou honestidde com o seu tempo. quem sabe teria um outro compromisso que não fosse para dar evasão à sua libido e não pretendese faltar ao mesmo.

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