domingo, 15 de fevereiro de 2015

ETERNO RETORNO


ETERNO RETORNO

Elmar Carvalho

memória:
lâmina de desassossego
cornucópia insana insaciável
a jorrar o passado
que não morre nunca
sempre ressuscitado
no eterno regresso
a nós mesmos.

ó emoções redivivas
e ampliadas
das sensações
de nervos expostos
nas carnes pulsantes
de um passado
sempre lembrado.

recordações
que dão e são vida
de becos escuros, sem saída
de amores
            hoje boleros
                     bolores em flores
de ilusões perdidas
que se fazem dores
na florida ferida da saudade.

evocações
de dribles esquecidos
de gols frustrados e acontecidos
de um jogo que nunca termina
de uma malsinada sina sinuosa
de lágrimas caudalosas
incontidas, vertidas
das vertentes profundas
do peito – porto
sem tino e sem destino
feito somente de desatino.

as mulheres amadas
na juventude fugaz
            não envelhecem
            não se corrompem
            não morrem jamais
preservadas intactas e belas
na câmara ardente
incandescente da memória.

recordações de fantasmas
que já nos abandonaram
de amigos mortos
que nos acompanham
cada vez mais vivos
de sustos e gritos
de proscritos e malditos
de agouros e assombrações
de desdouros e sombras vãs, malsãs,
oriundos dos porões escavados
nos subterrâneos dos sobrados
       subterfúgios e refúgios
da memória.

O passado poderoso e renitente
retorna e continua vívido e presente
se contorcendo se retorcendo
       e se reacontecendo.   

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