20 de março Diário Incontínuo
SOLENIDADE DE
LANÇAMENTO DE “CONFISSÕES”
Elmar Carvalho
Conforme previsto,
aconteceu no sábado, dia 14, a partir das 10 horas, o lançamento de meu livro
Confissões de um juiz. Posso dizer que o auditório da Academia Piauiense de
Letras estava lotado, pois pouquíssimas cadeiras não foram ocupadas. Tudo
transcorreu na mais perfeita ordem e conforme o planejado por mim e pelo
sodalício.
A mesa de honra foi
composta por Nelson Nery Costa, presidente da APL, Leonardo Trigueiro, juiz de
Direito e presidente da AMAPI, professor Paulo Nunes, acadêmico e presidente do
Conselho Estadual de Cultura, des. Pedro Macedo, representando o Tribunal de
Justiça do Piauí, des. Joaquim Santana Filho, corregedor do TRE-PI, Antônio
Pedro de Almeida Neto, presidente da Academia de Letras do Vale do Longá,
Reginaldo Miranda, ex-presidente da APL, Ivanovick Feitosa Dias Pinheiro,
defensor público, e Elmar Carvalho, autor do livro.
Com muita competência,
o poeta e imortal Herculano Moraes comandou o cerimonial. Prestaram depoimento
sobre o livro e seu autor os escritores e juristas Nelson Nery Costa, Leonardo
Trigueiro, Ivanovick Pinheiro e Reginaldo Miranda. Os dois últimos apresentaram
peça escrita, em que analisaram em profundidade a obra memorialística objeto do
lançamento. Os dois textos, claros e concisos, muito bem redigidos, foram
publicados em meu blog (poetaelmar.blogspot.com.br). Oportunamente, serão
publicados em outros sítios internéticos.
Em seu depoimento, o
nosso presidente Nelson Nery, após ter discorrido sobre o livro e seu autor,
tendo citado passagem que considerou emblemática, chamou a atenção da
assistência para foto estampada na página 166, dizendo em seu estilo
brincalhão, que ali eu estava novo, esbelto, bonitão, em meus tempos de goleiro
e no apogeu de meus 17 anos de vida. A colega Mara Rúbia, com a sua simpatia e
alegria contagiante, saltou com “quatro pedras na mão” em minha defesa, ao
proclamar: “Ele está mais bonito é agora; na foto da capa ele está muito mais
bonito!” Mesmo não mais alimentando ilusões, não posso deixar de dizer o quanto
esse episódio engraçado me deixou feliz.
Meu último livro
lançado festivamente foi Lira dos Cinqüentanos, comemorativo, como o seu nome
indica, de meu meio século de vida, fato ocorrido faz oito anos. Nessa época
utilizávamos quase tão somente o convite de papel, enviado pelos Correios ou
entregue pessoalmente, fora o telefone fixo que ainda imperava.
Desta feita, além dos
convites enviados pela APL e pela AMAPI, fiz um grande esforço pessoal e
utilizei os recursos da internet. Assim, lancei mão de e-mails, blogs, portais,
facebook, torpedos e telefonemas, mormente através de aparelhos celulares.
Naturalmente, publiquei vários outros livros entre o “Lira” e as “Confissões”,
mas não precisei me envolver pessoalmente para o êxito da solenidade de
lançamento. Outras eram as circunstâncias e realidade.
Em meu discurso, fiz
uma apertadíssima síntese de meu livro. Falei de minha vida de servidor
público, por mais de 39 anos, e de minha judicatura de 17. Por sinal, meu
pedido de aposentadoria foi deferido no dia 19 de dezembro de 2014, quando eu
completava exatamente 17 anos em meu cargo de juiz de Direito (titular do JECC
de Oeiras – entrância final), porquanto tomei posse nesse dia, no ano de 1997.
Aduzi que ingressei na magistratura quando eu tinha 41 anos de idade, portanto
já com muita experiência na vida particular e na de servidor público, posto que
comecei a trabalhar aos 19 anos de vida.
Sobretudo, falei de
minha atividade judicante. Expliquei que na obra memorialística procurei
enfocar peripécias e fatos que pudessem aguçar o interesse do leitor, muitos
deles sérios, alguns trágicos, vários interessantes, outros engraçados,
jocosos, hilários e mesmo anedóticos.
Sendo eu formado em
Administração de Empresas e tendo sido servidor público por quase quatro
décadas, dediquei um capítulo ao serviço público, no qual narrei episódios
verídicos, contudo hilários e anedóticos em sua maioria, mas que no seu
simbolismo sarcástico e irônico são emblemáticos das mazelas da administração
pública brasileira, nas três esferas de governo e no tocante aos três Poderes.
Sem empáfia e sem
fanfarronice, disse que nunca senti medo no exercício de meu cargo, uma vez que
nunca me senti ameaçado por ninguém; que de nada tenho remorso, porque sempre
procurei agir com Justiça e com imparcialidade, e que nunca propositadamente
tirei a razão de quem tinha para dar a quem não a tivesse.
Todavia, reconheci que
certamente devo ter cometido erros, em razão de que nem sempre a parte consegue
provar os seus argumentos e porque posso não ter tido a inteligência para
compreender certas sutilizas e filigranas, mormente as controvertidas e ainda
não pacificadas pela jurisprudência e pela doutrina. Enfatizei que ao longo de
minha vida, seja a pública ou a particular, enfrentei algumas dificuldades, mas
que nesses momentos orava a Deus, e sempre esses percalços foram solucionados.
Afirmei que sempre
mantive um relacionamento cordial com os servidores, jurisdicionados e
operadores do direito, com uma única exceção, que remeti ao livro. Discorri
sobre as minhas campanhas e pregações nas áreas da educação, cultura, esporte,
arte e ambientalismo (sugerindo uma espécie de segundo turno letivo informal),
no intuito de retirar o jovem da rua, do ócio e dos atos infracionais, mas que
preguei no deserto da indiferença dos gestores municipais, que sempre tiveram
ouvidos surdos a essas sugestões, e também à de criação de um espaço cultural,
no qual houvesse um auditório-teatro, uma biblioteca e uma videoteca.
Contei sobre os reais
motivos que me levaram a requerer minha aposentadoria, quando ainda tinha mais
de 11 anos para ser atingido pela famigerada e implacável compulsória, que
talvez venha a ter um acréscimo de mais cinco anos. O motivo principal está
narrado no livro. Quanto às “gotas d’ água”, que também contribuíram para minha
decisão, ainda não quis torná-las do conhecimento público, para não ferir a
suscetibilidade de ninguém. Entretanto, afirmei que estou plenamente satisfeito
com minha vida de aposentado, embora esteja muito ativo em minha condição de
literato, inclusive com a execução de novos projetos literários e ambientalistas,
sobretudo em defesa do rio Parnaíba.
Ao falar dos motivos
que me levaram a requerer a aposentadoria, resolvi invocar o tribuno romano
Cícero: "Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará." Disse
que construí minha biblioteca ao longo de quase toda minha vida, e que agora
usava o leitor de ebook Kindle, que me permitia ter uma livraria móvel e
portátil. Quanto ao jardim, fica no sítio Filomena, à margem direita do Velho
Monge. Ainda parafraseei a célebre citação de São Paulo, que é paradigmática: “Combati
o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”
Transmiti a seguinte
citação de Lourenço de Médici, que pela sua profícua administração de Florença,
em todos os setores, inclusive da cultura, da arte e da literatura, mereceu o
cognome de Magnífico, embora tenha deixado a vida pública aos 41 anos de idade:
“Pode haver algo mais desejável para um espírito bem equilibrado do que
desfrutar do lazer com dignidade? É o que todos os homens bons almejam, mas que
só os notáveis conseguem.” É o chamado otium
cum dignitate. Advirto para que não se confunda o ócio produtivo (das
leituras e reflexões criativas) com preguiça e inércia.
No fecho de minhas
palavras, disse que gostaria que os médicos, os advogados, os policiais, os
representantes do Ministério Público, os magistrados, enfim todos os
profissionais que tratam da vida e da liberdade humana pudessem ler o meu poema
Vida in Vitro; que esse texto enfoca o ser humano em sua grandeza e miséria, em
sua sublimidade e vicissitudes, em sua força e fragilidade, virtudes e vícios.
Esclareci que a sua
gênese mais remota aconteceu quando, ainda criança, à noite, em companhia de
meu pai, das colinas que antecedem o bairro Flores, ainda bucólico e florido
como seu nome, avistei as luzes do casario de Campo Maior, e tive como que uma
epifania, ao me sentir adentrar cada uma daquelas casas, e me irmanar aos seus
moradores, em perfeita comunhão.
Acrescentei que sempre
persegui esse poema, mas que ele sempre me saía insatisfatório; que a sua outra
gênese foram as luzes noturnas do conjunto Promorar, pois eu imaginava que em
cada uma daquelas pequenas casas existia um micro mundo, com alegria e tristeza,
angústia e esperança, sofrimento e êxtase. Como o poema é um tanto longo para
os padrões de hoje, encerrei meu improviso recitando-lhe apenas alguns poucos
versos, que tiveram o aplauso dos amigos presentes.
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