Gramática pra home nium recramá
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Conheci
Ademar, balconista de uma casa de produtos agrícolas. Pense num rapaz habituado
a leituras sadias. Ao me atender, sempre me surpreendia com indagações úteis da
última leitura. Trocou de emprego por outro mais em conta, menos as perguntas e
curiosidades. Repare o e-mail cheinho de inteligência e profundidade: “Gostaria
de saber sua opinião sobre o livro "POR UMA VIDA MELHOR", adotado pelo Ministério da Educação. É digno
de um escorregão ou não? Eu achava que sim, mas vendo algumas entrevistas com
os linguistas Ataliba Castilho e José Luiz Fiorin, fiquei duvidoso”.
Educação,
nobre Ademar, é um processo lento e esforçado de construção do caráter,
conhecimento científico, habilidades e virtudes, a partir da linguagem. A
esquerda populista, porém, entende cultura como preservação de museu de
minhocas primitivas. Daí não subestimar líder político de muita lábia que nunca
leu um livro. Ou preservar índio eternamente despido nas tocas, isolado da
civilização. Ou guetos sem escola de qualidade. Ou pobre articulando e
escrevendo português peba. A ignorância alimenta de votos a demagogia.
Desde 2011, o
Ministério da Educação vem adotando o livro didático, POR UMA VIDA MELHOR, que,
de melhor, só a gorda conta bancária que o livro rende. Professora aposentada
da rede pública de São Paulo, Heloísa Ramos, autora, ministra cursos de formação para professores:
“A proposta da obra é que se aceite, dentro da sala de aula, todo tipo de
linguagem, ao invés de reprimir aqueles que usam linguagem popular”.
O livro ensina
aos alunos que é válido escrever “nós vai de ônibus” ou “as garotas pega
carona”. Doutora em Linguística, professora Viviane Ramalho, da Universidade de
Brasília, defende a linguagem popular ensinada, abertamente, nas escolas, para
se respeitar o interlocutor que usa outras variedades da língua, como forma de
a escola se aproximar do estudante. Imagine eu tentando resgatar jovens da
droga fumando maconha com eles. Que paradoxal pedagogia!
A linguista
Juliana Dias acredita que a escola deva ensinar exclusivamente a norma culta e
usar a linguagem popular apenas como exemplo durante as explicações. O popular,
por conseguinte, não cabe para o ensino. Cabe somente para reflexão e, até
mesmo, para o combate ao preconceito com formas mais simples de falar.
Em palestra sobre Produção de Texto, ministrado em escola
privada, comparei a linguagem ao guarda-roupa, no qual se escolhem peças,
conforme o evento e oportunidade. Ridículo ir à praia de terno ou à cerimônia
da igreja de calção.
A língua culta, gramaticalmente correta, é indispensável nos
textos oficiais, científicos e veículos de comunicação. Reservam-se os méritos
da linguagem popular nas geniais canções de Luís Gonzaga e de tantos outros
notáveis artistas. Imperdoável, todavia, o uso da vulgaridade e do besteirol,
fartamente explorados em músicas de suprassumo mau gosto. Respeitar o gosto de
cada um, mas aceitar o insosso e medíocre, condena-se a retornar ao primitivo
tribal. Ademar conseguiu sua carta de alforria do atraso, estudando, lendo,
trocando ideias. O moço vai longe, sem promessas demagógicas “Por Uma Vida Melhor”.
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