Reginaldo Miranda, Elmar e Miguel Carvalho |
1º de outubro Diário Incontínuo
RETORNO POÉTICO
E SENTIMENTAL A REGENERAÇÃO
Elmar Carvalho
Dias atrás
recebi um telefonema da amiga Nileide Soares, me convidando a participar da 6ª
edição do Sarau – Poesia e Música na Vila da Regeneração, em que eu seria
homenageado na qualidade de poeta. Fez-me um breve relato do histórico do
Sarau. Na primeira edição foi homenageada a professora Socorro Santana, musicista,
historiadora e poetisa, filha ilustre daquele rincão querido, do qual tenho a
honra de ser cidadão honorário. No sábado passado, na reunião da Academia
Piauiense de Letras, através do confrade Reginaldo Miranda, tivemos a infausta
notícia do falecimento dessa artista da música e das letras.
Imediatamente
aceitei o convite da Nileide, notável agitadora cultural, contista, cronista e
articulista, além de empresária bem sucedida no ramo de gráfica e de papelaria.
Ela me esclareceu que além de Socorro Santana já haviam sido homenageados os
poetas Nathan Sousa, que me deu a auspiciosa notícia de ter tido um seu romance
recentemente premiado pela UBE-RJ, Climério Ferreira, seu parente, e também
compositor e cantor, Da Costa e Silva, excelso poeta e poeta maior do Piauí, e
o cordelista e contador de estórias e histórias João Carlos.
Na tarde de
quinta-feira, dia 24, à tarde, segui viagem, em companhia de Miguel Carvalho,
meu pai, quase nonagenário, meu irmão Antônio José, sua esposa Maria de Jesus,
e o escritor e historiador Reginaldo Miranda, que gentilmente atendeu o meu
convite, reforçado pelo da Nileide. Fiz questão de que Reginaldo fosse, porque
ele foi meu colega de formatura no curso de Direito (UFPI), é advogado atuante
naquela Comarca e porque escreveu a mais notável e completa obra sobre a rica
história de Regeneração.
Todos os saraus
foram organizados e realizados pela NAV Produções, cujo nome é formado pelas
iniciais de Nileide Soares, Antão Filho e Valquíria, três mosqueteiros e Quixotes
da cultura musical e literária de Regeneração. Mosqueteiros porque são
aguerridos e batalhadores, e Quixotes porquanto idealistas, num mundo cheio de
pessoas “práticas” e argentárias.
O evento foi
aberto pelo poeta e escritor Nathan Sousa, meu confrade, assim como Nileide, na
Academia de Letras do Médio Parnaíba, que me traçou um belo perfil, exaltando
as minhas eventuais qualidades literárias e evidentemente omitindo os meus
defeitos. Além disso, recitou alguns poemas de minha autoria.
Valquíria Lima,
com muita competência e maestria, fez a apresentação do sarau lítero-musical.
Tem bonita voz e boa dicção, e tem o dom de escandir bem as palavras. Quando
recitava os poemas, o fazia com boa entonação, no ritmo correto e de forma
pausada, de maneira que o conteúdo e a musicalidade do texto podiam ser bem
absorvidos pelos ouvintes.
Atuaram na
parte musical o sanfoneiro Chico Preto, o tecladista Chinó Font e os
intérpretes Chico Paulo, Odair Leandro e Jacksom Kalliffas. Todos se
apresentaram de forma excelente, e fizeram por merecer os calorosos aplausos
que receberam. O repertório foi de alta qualidade, pois as melodias eram ótimas
e as letras eram verdadeiros poemas.
O Chico Preto,
parecendo ter o espírito da ave canora da qual retirou o nome, pareceu-me um
virtuose da sanfona, a brincar e a fazer firulas e malabarismos com os baixos e
as teclas, além de ter perfeito domínio sobre o molejo do fole. Valdemir Gomes
tudo documentou, em áudio-visual. Foi homenageado o aluno Francisco Emanuel,
medalhista da Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa – 2014.
Conta a lenda que,
num dos saraus anteriores, um dos intérpretes, em pequeno ato falho, modificou
a letra da música Asa Branca, imortalizada por Luiz Gonzaga, ao entoar que “asa
branca morreu ontem / hoje mesmo avoou”. Além da referida alteração, cometeu uma
maldade e um milagre, pois ao tempo em que matou a ave de arribação a
ressuscitou no dia seguinte, de forma que o pássaro escapou da morte e da seca.
Sem dúvida esse diminuto deslize vai ficar na história musical da cidade, como
engraçado caso anedótico.
Vestindo literalmente a camisa da poesia |
O espetáculo
lítero-musical aconteceu na Pizzaria Quero Mais, às 19 horas do dia 24,
quinta-feira. Os servidores e proprietários da pizzaria, além de outras
pessoas, vestiram literalmente minha poesia, porquanto a bonita camisa
estampava os três versos finais de meu poema Marítima: “Mas trouxe a vida / na
alegria das chegadas / e na tristeza das despedidas.” Não sei se por mera
coincidência, já que muitos afirmam não existir acaso, o poema que eu havia
escolhido para recitar foi exatamente esse.
Mais de três
dezenas de meus poemas estavam estendidos em um cordel. Foram bem impressos, em
letras graúdas e em papel de boa qualidade, de modo que os leitores não
tivessem nenhuma dificuldade em lê-los, como fazia parte da metodologia do
sarau. Após a declamação, tive o prazer de autografá-los para o leitor.
A escolha dos
textos foi rigorosa, e posso classificá-la como verdadeira antologia. Um
jogral, com vários participantes, encenou um dos poemas. José Teixeira Pacheco,
professor, escritor, poeta e ator, interpretou, como se fora um monólogo e com
muita emoção, meu poema Vida in Vitro. Foi, sem dúvida, uma grande noite de
poesia, música e magia.
Foi também uma
das maiores homenagens que recebi. Em meu discurso, parafraseando Da Costa e
Silva, disse que quando cheguei, para assumir o meu cargo de juiz de Direito da
Comarca de Regeneração, em pleno inverno de 2007, eu estava feliz e a natureza
me sorria através da exuberância do verde das faveiras, e quando a deixei, mais
de seis anos depois (em virtude de promoção), no início de agosto de 2013, eu
estava triste e as faveiras não estavam tão verdes.
Aduzi que me
esforcei para ser o melhor juiz que eu poderia ser, ante as condições que me
eram oferecidas, especialmente a ostensiva falta de servidores. Vários tribunos,
entre outros os advogados Carlos Augusto Nunes, Reginaldo Miranda e Nei Leitão,
aos quais sou grato, elogiaram a minha poesia, e enalteceram a minha judicatura
na Comarca da eterna Vila de São Gonçalo da Regeneração.
Fiquei deveras
comovido. Tive que fazer esforço para não chorar, embora não fosse isso nenhum
ato vergonhoso.
Poeta, bom quando recebemos, em vida, homenagens como essa. Vou me penitenciar com o silício atado à altura da cintura para compensar o fato de ter perdido tão merecida homenagem. Imagino a emoção que sentistes. Grande abraço.
ResponderExcluirNesse ponto eu adoto a posição do nosso compositor Nelson Cavaquinho, que pediu em sua música para que lhe dessem as flores enquanto ainda estivesse vivo.
ResponderExcluirAliás, vou além, e sigo mesmo é com o grande bardo Manuel Bandeira, que perguntado sobre se aceitava a homenagem de uma estátua em vida, respondeu que sim, e que até se recusava a morrer enquanto ela não fosse erguida em praça pública.