SÊ FELIZ
Alcides Freitas (1890 - 1913)
Se queres ser feliz, afasta-te. querida!
Da minha alma! E, a sorrir, nem mais procure vê-la!
Uma estrela - Que é luz. deve unir-se à vida
Não à treva - o que sou. Mas à lua, a outra estrela!
Tão formosa e tão moça, afeita à brisa mansa
Das manhãs de sorriso e tardes de ventura,
Não calculas a dor do amar sem esperança;
Do tatear, como um cego, a noite da amargura...
A alma, que conheceste, alegre e calma, outrora
Como um trecho de sol, embebido de canto,
Recordas como vive, erma e calada, agora
Em pedaço de abismo encharcado de pranto.
A ti tudo sorri! Nem pensas no futuro
E o pensar no futuro envenena o presente!
Se és tão nova e tão bela, e o teu ser é tão puro
Há de te ser a vida um sonho alvinitente!
A minha alma, querida, é um sítio abandonado
Onde, em antigo tempo, houve trabalho e festa:
Um sítio claro e verde, harmônico e dourado
Como um sonho de flora a uma canção de vesta...
Só o que vive a sofrer sabe o que é castigo!
Só o que vive de amor sabe o que o amor nos diz.
Tu me amas, talvez... Mas atende ao que digo:
Afasta-te de mim, se queres ser feliz!...
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