Igreja antiga de Campo Maior |
José Eusébio de Carvalho Oliveira
Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras
Quando os conquistadores
lusitanos escreviam nos anais da história pátria a sua saga de conquista dos
sertões de dentro e adentraram a bacia oriental do rio Parnaíba, fincando a
caiçara de seus currais, transpuseram o Piauí, o Canindé, o Gurgueia, o Poti e
em sua inderrogável marcha de conquistas chegaram ao vale do Longá se depararam
com campos maiores e verdejantes, matas abertas, entremeadas de extensos
carnaubais, onde as boiadas se refizeram e prosperaram. Em pouco tempo aquela
região dos campos maiores se constituía em promissora faixa de conquista, onde
as boiadas se multiplicavam, atraindo novos conquistadores.
Foi por esse tempo que Bernardo
de Carvalho e Aguiar se estabeleceu em um afluente do Longá, àquele tempo
chamado Bitorocara, construindo o curral, depois a casa e, em seguida a capela
sob a invocação do padroeiro Santo Antônio. Foi esse o início da cidade de
Campo Maior, que viria a ser instalada na primeira leva de vilas piauienses, em
1762, ensina um dileto filho da terra, o notável vigário e pesquisador, mais
pesquisador que vigário, Pe. Cláudio Melo. Não tardam a se estabelecer naqueles
campos os herdeiros de D. Francisco da Cunha Castelo Branco, nobre
economicamente arruinado, que ali adquiriu algumas fazendas, permanecendo,
porém, com seu domicílio em São Luís do Maranhão, onde se estabeleceu ao chegar
de Lisboa. Entre os que chegariam mais tarde estão os Carvalho e os Oliveira,
ancestrais do jurista e político José Eusébio de Carvalho Oliveira.
Nasceu esse conceituado homem
público, em 10 de janeiro de 1869, na cidade de Campo Maior, onde viveu os mais
despreocupados anos da infância feliz.
Depois de cursar os estudos
iniciais em sua terra natal e os preparatórios em Teresina, ruma para Recife a
fim de frequentar o ensino jurídico, vindo a matricular-se na Faculdade de
Direito, onde conquista o diploma de bacharel ao fim de 1891, com 23 anos
incompletos.
De volta à cidade de Teresina,
assume o cargo de procurador-fiscal da Fazenda Pública do Estado, em cujo
exercício se houve com zelo e competência.
Entretanto, acontecimentos
políticos iriam perturbar a sua paz. No plano federal, o presidente Deodoro da
Fonseca iria renunciar em 23 de novembro de 1891, depois de grave crise
política, assumindo o vice-presidente Floriano Peixoto, que lhe fazia oposição.
Nesse contexto, em 21 de dezembro seguinte, foi deposto o governador Gabriel
Luís Ferreira, porque fora fiel ao presidente renunciante. E, de forma franca,
leal, o vice-governador João da Cruz e Santos (Barão de Uruçuí) não reconhece a
deposição e se recusa a assumir o governo sem a expressa renúncia do titular. É
quando o tenente-coronel do Exército João Domingos Ramos, responsável pela
deposição, lidera e preside uma Junta de Governo Provisório, composta ainda por
Higino Cícero da Cunha, Clodoaldo Severo Conrado de Freitas, notáveis
intelectuais piauienses, Elias Firmino de Sousa Martins, José Pereira Lopes,
todos conceituados membros de nossa sociedade civil e o procurador-fiscal José
Eusébio de Carvalho Oliveira.
Foi, porém, precária e de apenas
oito dias a atuação da Junta Provisória e, de nosso biografado à frente do
governo piauiense, porque o Marechal Floriano Peixoto não a reconheceu. Mandou
dissolvê-la tão logo soube de sua existência, em 29 do mesmo mês, e que o
tenente-coronel João Domingos Ramos respondesse sozinho pelo governo até
ulterior deliberação, limitando-se à manutenção da ordem. A situação assim
perdurou por poucos dias, porque em 11 de janeiro de 1892 assume o governo do
Estado o coronel Coriolano de Carvalho e Silva, indicado pelo poder central e
aqui chegando foi “eleito por aclamação”.
Depois de dissolvida
melancolicamente a Junta de Governo, transferiu-se José Eusébio para o
Maranhão, onde assume o cargo de promotor público da comarca de Codó. Porém,
demora-se pouco tempo no exercício desse cargo, no mesmo ano passando ao de
juiz de direito da comarca de Pedreiras, onde permaneceu até 1895, quando foi
transferido para São Luís como juiz substituto.
Por esse tempo, exerceu também os
cargos de inspetor do Tesouro Público e procurador-geral do Estado do Maranhão.
Nos últimos dias do século
ingressou na política, filiando-se ao Partido Republicano do Maranhão, por cuja
legenda foi eleito deputado estadual.
Como forma de divulgar suas
ideias colaborou em vários órgãos da imprensa maranhense, sobressaindo a
atuação nos jornais O Estado, A Legalidade e A República.
Em março de 1900, foi eleito
deputado federal, tomando posse em maio do mesmo ano, na Câmara dos Deputados,
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, sendo reeleito no pleito seguinte,
assim permanecendo no exercício do mandato até 1908.
Com a morte de Benedito Leite em
março de 1909, de quem era seguidor e correligionário, passou a liderar o
esquema situacionista, assumindo posição de realce na política maranhense. Nesse
mesmo mês lançou-se candidato ao Senado Federal, sendo majoritariamente
sufragado. Tomou posse em abril, para um mandato de nove anos, que foi
concluído em 1918, quando foi sucessivamente reeleito para um mandato que
deveria ser concluído em dezembro de 1926. No Senado teve atuação marcante,
integrando as comissões de Saúde Pública, de Instrução Pública, de Constituição
e Diplomacia, de Finanças e de Redação do Senado.
Foi um batalhador, ao lado de
Domingos Perdigão, para a criação da Faculdade de Direito do Maranhão que,
somente foi instalada em 1918.
Faleceu em pleno exercício do
mandato senatorial, em 25 de abril de 1925, no Rio de Janeiro. Foi, assim, um
ilustrado paiuiense com larga folha de serviços prestados nos dois lados do rio
Parnaíba.
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