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TENEBRAE FACTAE SUNT
Valério Chaves – Des. inativo do TJPI
A cidade catarinense de Chapecó estava embandeirada em festa, com milhares de torcedores vestindo as cores do time de futebol local, em gritos e aclamações, ao sonho de se tornarem campeões internacionais pela primeira vez.
Embriagados pela grande euforia, ninguém pressentia que a morte, paciente, fria e calculista, ameaçava se debruçar sobre a delegação da Chapecoense que naquela tarde, procedente de São Paulo, iniciava viagem aérea à Medellin, na Colômbia, para disputar a final da Copa Sul-Americana de Futebol contra o Atlético Nacional.
Enquanto isso, sem que ninguém desse conta, a tarde corria, plácida, para os braços do crepúsculo – velho e cansado porteiro da noite. Noite, que naquele dia fatídico de 28 de novembro de 2016, baixara antecipadamente sobre a face da terra, emprestando à morte o seu regaço de sombra para a solerte tocaia, e, ao mesmo tempo, abrira a cortina para o encenador conceber no palco da vida, a queda dos heróis ao som melancólico das tubas e tambores anunciando a catástrofe.
Foi nesse cenário de verdade não pressentida, que os ocupantes do avião da empresa boliviana LaMia embarcaram no Aeroporto Internacional de Viru Viru, na Bolívia.
Mais tarde - era noite com seus fantasmas - o pesadelo chegou anunciando a tragédia da morte que com sua gargalhada sinistra dilacerando corações de milhões de pessoas, se debruçou sobre 71 vítimas fatais, enquanto os sobreviventes, com os olhos vendados pela súbita escuridão, se arrastavam, pávidos, a pedir misericórdia e a clamar por Deus.
Tudo parecia como se uma noite de angústia e soturnos incubos tivesse baixado sobre a faece da terra.
“Tenebrae factae sunt”.
Milhões de pessoas pelo mundo afora ainda choram a perda de muitos profissionais da imprensa esportiva brasileira; de jogadores, diretores e funcionários da Chapecoense.
Nós também choramos como se fossemos um pouco de seus entes queridos.
Ah! mas que impor se tanta gente chora, se somente as crianças entendem o choro: essa voz antiga da dor – essa teimosa mensageira da morte.
Aos olhos dos insensatos eles parecem ter morrido. Todos, porém estão em paz sob os cuidados de Deus.
“Tenebrae factae sunt”
Teresina/PI, 2 de dez. 2016.
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