Porque Manuel, um dos patriarcas do Piauí, adotou o sobrenome “Carvalho de Almeida”
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho
Historiador, genealogista e romancista
As novidades documentais dos últimos
meses de 2016, e as do ano de 2017, desautorizaram frontalmente o que escrevi
dando o padre Miguel Carvalho de Almeida como o possível pai do Comissário Geral
de Cavalaria Manuel Carvalho de Almeida, vivente entre os séculos 17 e 18 no
Piauí.[1]
Na verdade, Manuel Carvalho de Almeida, a quem passo a
chamar de “Manuel”, para simplificar, não foi nem filho do padre Miguel
Carvalho de Almeida nem irmão de Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse
nome completo), que foi seu contemporâneo no Piauí setecentista. De rigor, ao
que se sabe hoje, Manuel, muito importante junto a Bernardo Carvalho de Aguiar,
na conquista definitiva do sertão aos índios, nada tem do sangue próximo dos Carvalho
ou Carvalho de Almeida de Ribeira de Pena que estiveram no Nordeste da América
Portuguesa no final do século 17 e início do 18.
A hipótese que hoje tenho é imensamente mais simples e mais
lógica que a novelesca paternidade sacrílega do padre Miguel que engendrei.
Minha hipótese é a de que Manuel, na sua adolescência, assumiu o apelido
Carvalho de Almeida por adoção a seu gosto, e não por qualquer tipo de indução vinda
de ambiente familiar ou tradição familiar ou de menção filial ao padre Miguel
Carvalho de Almeida.
O argumento é o seguinte.
As pessoas, desde antes e no tempo de Manuel, e até o
início do século 20, tanto em Portugal como no Brasil (aqui, até a primeira Lei
dos Registros Públicos, decreto 4.857, de 09.11.39), só eram nomeadas, no
Batismo ou no Registro Civil, por seus prenomes, ao nascerem. Apenas quando
adultas, por vezes no Crisma, se assumiam com a sobrenomeação que livremente
escolhessem. Repito para não deixar dúvida: o prenome vinha solteiro no assentamento
do nascido; só quando a pessoa praticava o seu primeiro ato da vida das
relações jurídicas é que assumia um apelido de sua escolha.
Ocorreu de Manuel ter escolhido sobrenomear-se “Carvalho de
Almeida”, ao instalar-se no Piauí, por volta de 1695, abandonando um outro
apelido que tenha tido até então. O qual talvez nunca saberemos qual tenha
sido. Pode ter sido “Cunha”, “Rodrigues”, “Gomes”, ou outro da tradição de seus
avós ou bisavós e colaterais, ou adotado pelo gosto do jovem Manuel. Observe-se
que as sobrenomeações (apelidos) eram de adoção livre assim como de troca;
sendo ainda comum o uso de formas alternativas, como com ou sem um elemento de
uma sobrenomeação dupla, ou com ou sem um “e” ou um “de”, ou com uma ou outra
grafia.
O que está errado é que Manuel, que se casou com Clara da
Cunha e Silva Castello Branco (filha mais velha do famoso dom Francisco da
Cunha Castello Branco), foi da mesma estirpe dos Carvalho de Ribeira de Pena,
vindos ao Piauí, no final do século 17, do início do 18 até seus meados.
Todavia, fica a pergunta: Por que o moço Manuel teria
tomado o sobrenome “Carvalho de Almeida”? A razão óbvia é que isso lhe fez bem,
ou lhe seria adequado no Piauí, e comum àqueles tempos e aos antigos e
seguintes tempos da história da antroponímia portuguesa.
Em
suma, era costume que as pessoas adotassem sobrenomes que as sinalizassem
positivamente no meio social e não os dos pais, se estes não os ajudassem naquele
propósito. O repertório para escolhas era bilinear, seja pela tradição
antroponímica da mãe ou do pai, a remeter para os laterais em qualquer plano de
ancestralidade e indo a padrinhos e madrinhas. Ou seja, a avocabilidade de
apelidos era amplíssima. No entanto, se nessas tradições não se encontrasse
nada de muito bom, a alternativa a isso era a adoção por gosto do que servisse
a uma adequada inserção social. No caso de Manuel, a busca seria na camada
superior reduzidíssima da comunidade livre piauiense do final do século 17 e
começo do 18.
Discussão
De conformidade com as pesquisas publicadas de Reginaldo
Miranda e de Valdemir Miranda de Castro, com base em dados do testamento do
padre Tomé de Carvalho e Silva, o padre Miguel Carvalho de Almeida (mais
conhecido como padre Miguel de Carvalho), cronista do Piauí no final do século
17, foi natural de Ribeira de Pena (freguesia de Santo Aleixo de Além-Tâmega),
em Portugal, e teve pais conhecidos, conforme achado de junho de 2015.[2]
Esta descoberta substitui a ideia antiga, corrente na
genealogia piauiense, de que o padre Miguel e os demais Carvalho do Piauí
tenham sido naturais da freguesia de Videmonte, no antigo concelho de Linhares,
na região da Guarda, bem como todas as suposições constantes em MELO (1991) e nos
que o repetiram. O erro inicial foi exatamente o de se supor que Manuel era um
parente de sangue dos Carvalho e Carvalho de Almeida. Ora, se Manuel era de
Videmonte, todos os outros deviam ser de lá.
Com a descoberta, cinco dos Carvalho dos primórdios do
Piauí, a saber, o padre Miguel Carvalho de Almeida, o padre Inocêncio Carvalho
de Almeida, e mais o padre Tomé Carvalho e Silva, o padre Miguel de Carvalho e
Silva[3]
e Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo) têm desvendadas as
suas origens. Manuel não se liga a esta parentela, por manter sua origem
documentada em Videmonte, Linhares, região da Guarda, e genitores nas pessoas
de Belchior Gomes de Cunha e Isabel Rodrigues, gente sem entroncamento
conhecido com os Carvalho de Ribeira de Pena.
O padre Miguel e o padre Inocêncio foram irmãos. Ambos
foram primos do padre Tomé de Carvalho e Silva e do padre Miguel de Carvalho e
Silva. Estes filhos da tia paterna de Miguel
e Inocêncio, dona Catarina de Almeida (segunda desse nome completo),[4]
com José da Silva Carvalho. O padre Miguel e o padre Inocêncio foram ainda
primos segundos de Antônio Carvalho de Almeida (o segundo deste nome completo),
o qual foi sobrinho dos padres Tomé e Miguel de Carvalho e Silva, uma vez que filho
de Isabel de Almeida, irmã inteira dos dois padres referidos, e de Domingos
Dias da Silva. Antônio foi neto do casal Catarina de Almeida (segunda desse
nome completo) e José da Silva Carvalho.[5]
Outra descoberta importante em decorrência do achado do
testamento referido na nota de rodapé 5, foi a de um Antônio Carvalho de
Almeida anterior ao já mencionado, o qual também esteve no Nordeste da América
Portuguesa. Ele foi irmão inteiro do padre Miguel Carvalho de Almeida e do
padre Inocêncio Carvalho de Almeida. Assim, além da identificação já feita dos
cinco Carvalho, há ainda alguém importante para se fazer a inserção genealógica:
Antônio Carvalho de Almeida (primeiro desse nome completo), capitão-mor do Rio
Grande do Norte,[6]
entre 1701 e 1705, na ponta nordestina da América Portuguesa.
Observe-se que esses agora seis homens estavam no Nordeste
no mesmo tempo histórico.
...
Um neto de Manuel, de nome completo Francisco da Cunha e
Silva Castello Branco, omitiu os nomes de seus avós paternos (os pai de Manuel)
em sua justificação de nobreza de 1765 (aos seus 49 anos), feita em Campo
Maior, na capitania do Piauí.[7]
A única referência aos avós paternos de Francisco era de serem de Videmonte, Linhares.
Por que Francisco teria omitido os seus nomes? Podia ser que esses Belchior e
Isabel não fossem de qualidade nobre e o neto Francisco da Cunha e Silva
Castello Branco quisesse esconder tal fato. Ou porque não quisesse dar pista à
descoberta de que nada tinham a ver com os Carvalho de Ribeira de Pena, como
hoje o sabemos. Acresça-se que Francisco casou-se com a filha mais velha de
Antônio Carvalho de Almeida (segundo desse nome completo) e de Maria Eugênia
Mesquita Castello Branco (neta de dom Francisco da Cunha Castello Branco), de
nome Ana Rosa Pereira Teresa do Lago. Francisco, por via de sua mulher, tinha
acesso a toda à memória dos Carvalho de Ribeira de Pena. Curioso o nome
completo de Ana Rosa, de que não sabemos as razões para o ter adotado quando
moça. Sei apenas, como um frágil esboço de palpite, que a mulher de Antônio
Carvalho de Almeida (primeiro desse nome completo) se fez chamar Maria Teresa
Pereira Rebelo Leite.
A este ponto desta minha escrita, aproveito para comentar o
fato de tanto Francisco e Ana Rosa (primos entre si, em segundo grau) terem
tido muitos irmãos e irmãs inteiras que multiplicaram. Toda essa gente gerou
uma enorme abundância antroponímia de Carvalho e Castello Branco no Piauí e no
Brasil, nos últimos três séculos.
Voltemos a Francisco, marido de Ana Rosa.
Ainda que Francisco não tenha nomeado os pais de Manuel em 1765,
indicou-os, conforme descoberta de Valdemir Miranda de Castro, de novembro de
2015, em uma petição, datada de 1787, dirigida à rainha de Portugal, dona Maria
I, na qual pedia o início dos procedimentos para a obtenção do hábito de
cavaleiro da Ordem de Cristo.
Em 1787, Francisco da Cunha e Silva Castello Branco tinha
71 anos de vivo. No requerimento, de 1787, Francisco da Cunha e Silva Castello
Branco declara, como pais de Manuel, Belchior Gomes de Cunha e Isabel
Rodrigues. O fato de Francisco não ter querido dizer os nomes de seus avós
paternos (os genitores de Manuel) na justificação de 1765, foi superado pelo
fato de os ter finalmente identificado na petição à rainha Dona Maria I, em
1787. Miguel de Sousa Borges Leal de Castello Branco, em livro de 1879,[8]
que se deve ter baseado na petição de Francisco à Rainha, de 1787, fala em
Belchior e Isabel como os pais legítimos de Manuel.
A hesitação de Francisco, ou no mínimo, a sua falta de
assertividade e de detalhes sobre os genitores de seu pai Manuel, me levaram à
solução de que o pai seria o padre Miguel Carvalho de Almeida (o famoso
cronista do Piauí do século 17). Cometi um erro, do qual peço desculpas aos
descendentes de Manuel a quem eu tenha magoado com uma origem sacrílega.[9]
Todavia, algo bem mais simples e mais evidente deve ter
ocorrido. Nada de estranho, na tradição antroponímica portuguesa, que alguém,
no caso Manuel, tenha assumido sobrenome diferente dos do pai e da mãe, e mesmo
dos avós e bisavós. Isso era comum. Mais ainda faz sentido quando o composto
“Carvalho de Almeida” tinha muito prestigio no nordeste colonial do início do
século 18 e final do 17, por conta dos seis Carvalho oriundos de Ribeira de
Pena a que se pode talvez somar Bernardo Carvalho de Aguiar, um sétimo
Carvalho.
Os
Carvalho de Ribeira de Pena eram gente importante
Como já mencionei, o pesquisador Valdemir Miranda de
Castro, em junho de 2015, descobriu que o padre Miguel de Carvalho, também
conhecido como padre Miguel de Carvalho e Almeida, e ainda como padre Miguel
Carvalho de Almeida,[10]
nasceu em 1664, em Ribeira de Pena, no antigo arcebispado de Braga, no norte de
Portugal.
Hoje, em 2017, o lugar Santo Aleixo, onde nasceu, é a
freguesia de Salvador e Santo Aleixo de Além-Tâmega. Está no concelho de
Ribeira de Pena, agora no distrito de Vila Real. Nessa mesma região, no século
12, no tempo de dom Afonso Henriques, teve origem o sobrenome “Carvalho”, na
sua versão nobiliárquica, nas pessoas de Paio de Carvalho e de seu filho Mem
Pais de Carvalho. Tais personagens foram senhores da terra e honra de Carvalho,
em Celorico de Basto, logo a oeste de Ribeira de Pena.[11]
Como já escreveu o criterioso e festejado historiador Reginaldo
Miranda, o padre Miguel Carvalho de Almeida possivelmente morreu em Lisboa,
tendo passado um longo tempo, quando jovem (entre 1693-1698), na então
circunscrição do bispado de Olinda, também referido como bispado de Pernambuco,
na América Portuguesa.
Com a informação de quem era o padre Miguel Carvalho de
Almeida e do seu local de nascimento, fiz minha investigação sobre as famílias
do concelho de Ribeira de Pena, buscando dados para iluminar mais o assunto.
Encontrei, com alegria, um estudo do respeitado genealogista português Manuel
Abranches de Soveral, em que o padre Miguel Carvalho de Almeida, ou abade
Miguel Carvalho de Almeida, aparecia como alguém bem-posto estamentalmente,
vindo de gente fidalga provinciana.[12]
Pelos dados de Soveral,[13] o
padre Miguel foi abade de Ribeira de Pena, capelão-fidalgo da Casa Real,
sacerdote do hábito de São Pedro. Instituiu o vínculo e capela de Nossa Senhora
da Assunção, junto à casa de Senra de Cima. Foi vigário da vara e cura da
freguesia de Rodelas, no bispado de Olinda, ou de Pernambuco, como alguns se
referem à unidade eclesiástica. Ordenou-se em Braga, com inquirições “de
genere” de 27 de julho de 1689. Ele esteve no Brasil, por anos, como vigário da
freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Cabrobó de Olinda e padre visitador,
como investigador do Santo Ofício da Inquisição, mas não como membro do mesmo
Santo Ofício; tenho, por se ter apresentado como membro do Santo Ofício,
sofrido reprimenda.[14]
Os cargos mais importantes que teve, como abade e a
titulação como capelão-fidalgo da Casa Real, devem, a meu ver, ter sido
posteriores a sua estada no Nordeste da América Portuguesa.
Ele nasceu em 1664. Terá morrido cerca de 1737. Adentrou o
sertão profundo do Nordeste da América Portuguesa, onde recomendou a instalação
de duas freguesias, e sua moção foi acatada com o estabelecimento da freguesia
de São Francisco, na região de Rodelas, e de Nossa Senhora da Vitória, no
Piauí.[15]
Foi, também, ele quem escreveu o relatório “Descrição do sertão do Piauí”,
finalizado em 1697, o primeiro sobre a região e a gente piauienses.[16]
Segundo Manuel Abranches de Soveral, em seu “Famílias de
Ribeira de Pena”, o padre Miguel foi filho de Miguel Carvalho de Almeida
(sênior) — nascido em cerca de 1630, capitão de infantaria dos auxiliares de
Ribeira de Pena, senhor da Quinta de Bragadas de Além-Tâmega, em Santo Aleixo,
onde faleceu em 6 de abril de 1695 — e de Helena Gonçalves de Matos, falecida
em 15 de setembro de 1684, em Santo Aleixo, provavelmente sua prima, uma vez
que filha de Domingos Dias de Matos, esse sendo dos Matos de casa de Terças, em
Santa Marinha de Ribeira de Pena, e de sua mulher Senhorinha Gonçalves.
Conforme Soveral, Miguel Carvalho de Almeida (sênior) foi
filho de Domingos Carvalho (ou de Carvalho), moço da câmara da Casa Real, juiz
de órfãos de Ribeira da Pena e senhor da Quinta de Bragadas de Além-Tâmega, em
Santo Aleixo, onde faleceu em 7 de julho de 1668, e de Catarina de Almeida
(primeira desse nome completo), nascida cerca de 1608. Essa Catarina foi filha
de Antônio Gonçalves de Matos e de Maria Leitão de Almeida, nascida em Santa
Marinha de Ribeira de Pena. Esse Antônio Gonçalves de Matos seria parente de
Domingos Dias de Matos, acima referido, uma vez que se confirme serem os dois
dos Matos da casa das Terças, em Santa Marinha de Ribeira de Pena. Catarina de
Almeida (primeira desse nome completo), mulher de Domingos Carvalho (ou de
Carvalho), usou como sobrenome o de sua mãe Maria Leitão de Almeida.
Em
“Famílias de Ribeira de Pena” se tem que o padre Miguel Carvalho de Almeida,
primogênito, teve três irmãos inteiros:
Domingos Carvalho de
Almeida[17] —
moço da câmara da Casa Real (12 de janeiro de 1699), cavaleiro da Ordem de
Cristo (9 de março de 1699), capitão-mor de Ribeira de Pena, familiar do Santo
Ofício (16 de setembro de 1700), senhor da Quinta de Bragadas, em Além-Tâmega,
Santo Aleixo, e da Quinta de Senra de Cima, em Salvador, Ribeira de Pena. Teve,
a 4 de outubro de 1710, carta de cota-de-armas para “Carvalho” e “Almeida”. A
Quinta de Senra de Cima foi armoriada de escudo partido de “Carvalho” e
“Almeida”.
Antônio Carvalho de
Almeida — moço da câmara da Casa Real (12 de janeiro de 1699),
cavaleiro da Ordem de Cristo (9 de março de 1699), capitão de infantaria,
mestre de campo dos auxiliares de Chaves, capitão-mor de Natal, no Rio Grande
do Norte, familiar do Santo Ofício (8 de março de 1702), escrivão proprietário
do cartório do concelho de Cabeceiras de Basto e dos coutos de Refoios e Abadim
(16 de maio de 1745). Casou-se com Maria Teresa Pereira Rebello Leite.
Inocêncio Carvalho de
Almeida — capelão-fidalgo da Casa Real (12 de dezembro de 1699).
Domingos Carvalho e Catarina de Almeida (primeira desse
nome completo), além de Miguel Carvalho de Almeida (sênior), tiveram a Gaspar
Carvalho de Almeida e a Catarina de Almeida (segunda desse nome completo).
Este Antônio, irmão do padre Miguel e do padre Inocêncio (e
também de Domingos, que não nos importa
aqui), é referido como tendo substituído a Bernardo Vieira de Melo e tendo sido
sucedido por Sebastião Nunes Colares, como capitão-mor do Rio Grande do Norte.
Sua designação para esse posto ocorreu quando a capitania foi passada da Bahia
para Pernambuco.[18]
Sobre Antônio Carvalho de Almeida (ou de Carvalho e Almeida), o capitão-mor,
conforme consta dos assentamentos da Torre do Tombo, ele foi feito moço de
Câmara, pelo rei dom Pedro II, em 1699, tal qual tinha sido seu avô Domingos
Carvalho ou de Carvalho, o qual é dito como tendo sido, a seu tempo, moço da
Câmara:[19]
“El Rei faço saber a vós Dom Pedro Luiz de
Menezes, Marquês de Marialva, gentil homem de minha de minha Câmara e meu
Mordomo-mor que Eu hei por bem e me prove fazer mercê a Antônio Carvalho de
Almeida, natural da vila de Ribeira de Pena, comarca de Guimarães, filho de
Miguel de Carvalho e neto de Domingos de Carvalho, que foi meu moço de Câmara e
filho de Miguel Carvalho, de o tomar no mesmo foro de meu moço de Câmara, com
quatrocentos e seis réis de moradia por mês e três quartos de cevada por dia,
paga segundo ordenança e é o foro e moradia que, pelo dito seu avô, lhe
pertence porquanto seu pai o não teve em meus livros. Mando-vos que o façais
assentar no livro de matrícula dos moradores de minha Casa, no título dos moços
da Câmara com moradia e cevada que não vencerá até ser do numaro.[20]
Manuel Calheiros o fez em Lisboa a doze de Janeiro de seiscentos e noventa e
nove. Belchior de Andrade Leitão o fez escrever.”
Observa-se que este Antônio Carvalho de Almeida (primeiro
desse nome completo) foi primo segundo do outro Antônio. O Antônio Carvalho de
Almeida (segundo desse nome completo) teria morrido em 1775 e ingressou na
América Portuguesa pela Bahia, tendo como lugar de sua primeira residência,
Jacobina, como capitão de ordenanças.[21] O
outro Antônio Carvalho de Almeida (primeiro desse nome completo) seria alguém
já maduro no ano de 1701, quando foi diretamente para o Rio Grande do Norte. O
padre Miguel é referido como missionário naquela capitania.[22]
Pode ser que o padre Miguel tenha ido ao Rio Grande do Norte, vindo do Piauí.
Em suma, os irmãos Miguel, Antônio e Inocêncio, filhos de
Miguel Carvalho de Almeida (sênior) e de Helena Gonçalves de Matos, estiveram
juntos no Nordeste, no mesmo período ou aproximado, entre o final do século 17
e início do século 18.
Domingos Carvalho de Almeida, o irmão segundo que sucedeu
ao pai, ficou em Ribeira de Pena, como senhor de solar, esquivando-se de
aventuras no Novo Mundo. De rigor, conforme os costumes, o sucessor da tradição
não se movia da sua sede.
O padre Tomé de Carvalho e Silva, o padre Miguel de
Carvalho e Silva, e o sobrinho desses dois, Antônio Carvalho de Almeida
(segundo desse nome completo), seguiram na segunda leva da parentela Carvalho
de Almeida. Este Antônio era, como já dito, filho de uma irmã inteira dos dois
padres, de nome Isabel de Almeida, com Domingos Dias da Silva.
...
Manuel Abranches de Soveral, em e-mail lido por mim em 24
de novembro de 2016, disse ainda o seguinte sobre uma dúvida posta por um outro
genealogista português quanto à condição de “lavrador das próprias terras”. Diz
Soveral:
“(...) Em Ribeira de Pena, naquela
cronologia, ser lavrador que vive da sua fazenda era o melhor que se podia
dizer de um habitante. Porque “lavrador” era então significado de proprietário
agrícola. Tudo o resto, em Ribeira de Pena, derivava disso, inclusive os
cargos. E, é claro, Domingos de Carvalho teria, como proprietário agrícola,
pelo menos 20 vezes mais rendimento do que o rendimento acumulado de moço da
câmara e juiz dos órfãos.”
O que parece certo é que os da gente Carvalho de Almeida de
Ribeira de Pena, em todas as suas variações, estavam, no curso do século 17, em
processo de sua identificação social como nobres, no âmbito mais geral do reino
de Portugal.
...
Quem foi Manuel, lugar-tenente e
sucessor de Bernardo Carvalho de Aguiar na conquista do Piauí?
Não foi da parentela dos Carvalho de
Ribeira de Pena. Manuel nascera longe de lá e era filho de pessoas não
entroncáveis com os seis Carvalho viventes no Nordeste da América Portuguesa no
final do século 17 e início e primeira metade do 18. Se o fosse, o seu neto
Francisco da Cunha e Silva Castello Branco o teria dito com letras maiúsculas, tanto
na sua justificação de nobreza de 1765, como na sua petição à rainha dona Maria
I, de 1787.
Assim, resta uma só possibilidade: Manuel
adotou o apelido Carvalho de Almeida por achá-lo útil socialmente.
Vamos a essa discussão.
Conforme a historiadora Maria Beatriz
Nizza da Silva, os filhos do casal paulista Pedro Taques de Almeida (1714-1777),
o famoso genealogista, e Ângela de Siqueira assumiram ao chegar à idade adulta
e foram em geral conhecidos pelos seguintes nomes completos:[23]
·
José
de Góis e Morais;
·
Apolônia
de Araújo;
·
Branca
de Almeida Taques;
·
Maria
de Araújo;
·
Leonor
de Siqueira Pais;
·
Teresa
de Araújo;
·
Catarina
de Siqueira Taques; e
·
Ângela
de Siqueira Taques.
Como
diz Nizza da Silva, no seu texto, é difícil descobrirem-se as regras que
levaram às composições dos nomes completos dos oito irmãos inteiros. Não se
pode, por falta de documentação, reproduzir a provável discussão intrafamiliar sobre
que sobrenomes cada um devesse tomar. Qual teria sido a influência dos pais,
dos tios, das tias, dos avós, dos irmãos mais velhos?
O
que dizer, no caso do nosso Manuel que estava, ao que se sabe, só no Piauí, sem
irmãos e irmãs, com os pais e tios à distância, ou falecidos.
O historiador e genealogista
português Guilherme Maia de Loureiro descreve os modos principais de adoção de
apelidos em Portugal.[24]
O sistema de adoção de nomes no
Antigo Regime[25]
permitia que um determinado indivíduo pudesse assumir, ao longo da sua vida,
não só composições diferentes dos seus apelidos, mas até nomes próprios
distintos. A escolha do nome próprio ocorria no momento do Batismo e cabia
naturalmente aos pais das crianças ou a outrem que por elas fosse responsável,
como acontecia, por exemplo, nos casos dos padres que batizavam expostos.[26]
No entanto, a Igreja previa a possibilidade de mudança de nome no momento da
confirmação do Batismo na idade adulta, isto é, por ocasião do sacramento da
Crisma. [...]
Uma terceira situação possível era a
simples adoção de apelidos de famílias com as quais não havia qualquer tipo de
relação de parentesco, fosse de consanguinidade, afinidade ou espiritual. Esta
era uma prática descrita nas Ordenações Filipinas[27]
e para a qual se previam penas severas. [...] No entanto, não é difícil encontrar casos
que a exemplifiquem, nem sequer determinar um padrão em termos da identificação
dos apelidos adotados. De fato, e sem surpresa, estes apelidos eram, por norma,
aqueles que mais facilmente permitiam uma fácil associação a um patrimônio
histórico altamente valorizado ao nível nacional ou apenas local. Tratava-se,
sem dúvida, de uma tentativa de apropriação do prestígio associado ao apelido
com o intuito de favorecer uma mobilidade social ascendente. [...]
|
As migrações facilitavam claramente a
adoção de novos apelidos e a construção de uma nova identidade social. [...] Noutros casos, arriscava-se a adoção de novos apelidos sem que houvesse
qualquer migração, o que teoricamente diminuiria a possibilidade de se converter
essa mudança de nome num qualquer benefício em termos de status. Podemos apontar como exemplos o caso de Bernardo José Rodrigues, capitão
de ordenanças de Lordosa e Calde, em Viseu, que adotou o prestigiado apelido de
Loureiro; ou o de Antônio José de Mesquita, que adotou o apelido Quintela ao
casar com uma senhora natural de Vila Franca de Xira, onde uma família deste
mesmo apelido era grande proprietária.
Ao que
parece, Manuel adotou o apelido duplo “Carvalho de Almeida” por achá-lo útil ao
seu processo de ascensão social, a que conjugou seu casamento com Clara da
Cunha e Silva Castello Branco, filha mais velha de dom Francisco da Cunha
Castelo Branco e dona Maria Eugênia de Mesquita. A isso também se pode ter
juntado a afeição a Bernardo Carvalho de Aguiar (talvez um aparentado dos Carvalho
de Ribeira de Pena).
Pode ainda de ter havido, como justificativa, uma
aproximação filial ao padre Miguel Carvalho de Almeida e/ou com o padre
Inocêncio Carvalho de Almeida. Isto justificaria perfeitamente o ocorrido,
pelos costumes da época. Temos, nesta mesma linha de especulação, o exemplo dos
irmãos Bartolomeu e Alexandre de Gusmão, que tomaram o sobrenome “de Gusmão” de
um padrinho, com quem não tinham qualquer vínculo de sangue.
Refiro-me aos dois irmãos nascidos na
América Portuguesa e muito conhecidos no reino: Bartolomeu de Gusmão, o famoso
inventor, chamado de o “Padre Voador”, e Alexandre de Gusmão, o muito influente
secretário do rei dom João V, entre 1730 e 1750, ano em que o rei morre.[28]
Bartolomeu e Alexandre foram filhos de
Francisco Lourenço Rodrigues e de Maria Álvares, residentes em Santos, então na
capitania de São Vicente. Bartolomeu era
o quarto filho e foi batizado como Bartolomeu Lourenço, um nome duplo (uma vez
que no Batismo não se atribuía sobrenome), em 1685, na mesma vila de Santos. Alexandre
foi o nono filho do casal.
Alexandre foi batizado como Alexandre
Lourenço, nome duplo, em 1695, também em Santos. Em 1718, os dois irmãos adotaram
o sobrenome do sacerdote jesuíta Alexandre de Gusmão, nascido em 1629 e
falecido em 1724, que teve enorme influência na vida do santista Bartolomeu.
É de se observar que o pai dos dois
irmãos Gusmão, Francisco Lourenço Rodrigues, tinha posto nos dois filhos o nome
adicional de “Lourenço”, como que a sugerir que os filhos fizessem uso dele
como sobrenome. Todavia, combinados, Bartolomeu, aos 33 anos, e Alexandre, aos
seus 23, adotaram o “de Gusmão”.
O fato mostra como essa tomada era
possível bem como que pudesse ser feita em idade para além de adulta, aos 33 e
23 anos. Os dois até então devem ter usado o nome “Lourenço”, ou talvez
“Rodrigues”, como apelido.
Conclusão
O prestígio do apelido “Carvalho” ou “Carvalho de Almeida”
ou “Carvalho e Almeida”, de Ribeira de Pena, estava se formando durante o
século 17 português. No início do século 18, no nordeste da América Portuguesa,
seis varões de uma gente nominável como Carvalho de Almeida tiveram importância
notável, em especial no Piauí, onde a camada cimeira do poder não devia ir além
de duas dezenas de homens.
Pode-se ainda trazer para esse rol de personagens, o
provável parente, o valoroso Bernardo Carvalho de Aguiar, de quem Manuel foi
homem de confiança. Esse, não por coincidência inexplicável, era de Vila Pouca
de Aguiar, concelho que em sua formação territorial originária continha o
povoado da Ribeira de Pena.[29]
Com Bernardo, somam sete os personagens da parentela dos
Carvalho. Eram quatro padres, em tempo em que a Igreja Católica era o braço
forte da ocupação portuguesa e três homens da guerra. Nada mal como referências
para a avocação e adoção prazerosa do apelido Carvalho ou Carvalho de Almeida,
por Manuel, filho de Belchior Gomes da Cunha e Isabel Rodrigues.
Independentemente de toda esta questão, o que se pode
afirmar é que Manuel Carvalho de Almeida foi, como guerreiro, um herói colonial
português, merecedor de todo o apreço pelos seus descendentes, entre os quais
eu me incluo com muito orgulho.
Referências
CARVALHO, padre Miguel de, “Descrição do sertão do Piauí”, completado e entregue ao bispo de
Pernambuco no ano de 1697, (comentários e notas do Padre Cláudio Melo).
Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2009.
CASTELLO BRANCO, Miguel de Sousa Borges Leal de. “Apontamentos bibliográficos de alguns
piauienses ilustres e de outras pessoas notáveis que ocuparam cargos
importantes na Província do Piauí”. Teresina: 1879. Obra reeditada pela
Academia Piauiense de Letras, em 2012.
CASTELLO BRANCO,
Renato “Os Castelo Branco d’aquém e
d’além mar”, São Paulo: LR Editores, 1980.
CASTRO, Valdemir Miranda de. “Enlaces de família – uma
genealogia em construção”. Esperantina: Edição do Autor, 2014.
_____________________________ Diversas conversações por
telefone com o autor deste trabalho, durante 2015.
_____________________________ artigo publicado por Valdemir
Miranda de Castro no portal Entretextos, facilmente encontrado na Internet, sob
o título “Ascendência do Padre Miguel de Carvalho”, em 2015.
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. “Dicionário
HOUAISS da Língua Portuguesa”. Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de
Lexicografia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LOUREIRO, Guilherme Maia de. “Estratificação e mobilidade
social no Antigo Regime em Portugal (1640-1820)”, Lisboa: Guarda-mor, 2015.
_________________________ Troca de e-mails sobre os
Carvalho de Almeida portugueses.
MARQUES, José. “A origem do concelho de Ribeira de Pena
(1331)”. In “Revista de Guimarães”, número 1013, 1993, páginas 327-341.
MELO, Padre Cláudio. “Fé
e Civilização”, Teresina: 1991.
MIRANDA, Reginaldo. “Padre Miguel de Carvalho e Almeida,
fundador de paróquias e missionário do sertão”, constante em agosto de 2017 do
blog de Elmar de Carvalho.
NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz. “Ser nobre na colônia”, São
Paulo: UNESP, 2005.
PIRES FERREIRA, Edgardo. “Os Castello Branco e seus
entrelaçamentos familiares no Piauí e no Maranhão”, 2ª edição. Volume 5 da
série “A mística do parentesco” São Paulo: Árvore Editorial, 2013.
ROSAS, Tarcísio. “Personalidades históricas do Rio Grande
do Norte (séculos XVI a XIX)” . Natal: Fundação José Augusto – Centro de
Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine - CEPEJUL, 1999.
SOVERAL, Manuel Abranches de. “Famílias de Ribeira de Pena
– subsídios para a sua genealogia (séculos XV a XVIII)”. Tal obra é encontrada
no site: www.soveral.info.
2002.
__________________________
Diversas trocas de e-mails, durante o ano de 2016, sobre o assunto dos
Carvalho de Almeida portugueses do século 17.
[1] Revista da ASBRAP – Associação
Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, número 23, ano 2016. O
texto original teve o título de “O Abade
Miguel Carvalho de Almeida, ancestral dos Carvalho de Almeida e dos Castello
Branco do Piauí”.
[2]
CASTRO (2015).
[3]
O padre Miguel de Carvalho e Silva foi prelado importante no Piauí, em
substituição de seu irmão o padre Tomé de Carvalho e Silva, por volta do ano de
1724. Ele teria vindo à América Portuguesa, em 1715, para ajudar o seu irmão
Tomé, com certeza a pedido desse. Em MELO
(1991), página 32, se tem o seguinte: Por razões que ignoramos, mas talvez por motivo da idade do pároco, o
bispo de Pernambuco nomeou Vigário de Vara, não o padre Tomé, mas o padre
Miguel de Carvalho e Silva que o cura de Mocha trouxera para ajudá-lo, em 1715.
O padre Miguel era irmão do padre Tomé”.
[4]
Esta Catarina de Almeida tem o mesmo nome completo de sua mãe, que se casara
com Domingos Carvalho. Observa-se o costume de as mulheres adorarem
preferencialmente o sobrenome da mãe.
[5]
Por ação de Valdemir Miranda de Castro e Gustavo Conde Medeiros, descobriu-se
no Arquivo da Torre do Tombo a execução testamentária do padre Tomé de Carvalho
e Silva, morto em 1735, em Oeiras, Piauí. Ocorreu de um sobrinho do padre Tomé,
de nome completo Manuel de Carvalho e Silva e Almeida, ter pleiteado uma terça
parte da herança do padre Tomé. Este Manuel de Carvalho e Silva e Almeida era
filho de Isabel de Almeida (irmã inteira do padre Tomé de Carvalho e Silva e do
padre Miguel de Carvalho e Silva), e de Domingos Dias da Silva. O casal
Catarina de Almeida (tia paterna do padre Miguel) e José da Silva Carvalho teve
os seguintes filhos: Isabel de Almeida (antes referida), o padre Tomé Carvalho
e Silva, Maria de Almeida, Catarina de Almeida, o padre Miguel de Carvalho e
Silva e Antônia de Almeida. O casal Isabel de Almeida e Domingos Dias da Silva
teve os seguintes filhos: padre Miguel de Carvalho (homônimo do nosso padre
Miguel), Manuel de Carvalho e Silva e Almeida (o peticionante da terça da
herança do tio padre Tomé), Antônio Carvalho de Almeida (o nosso Antônio, do
Piauí), Manuel de Almeida e Antônio Sanches de Carvalho.
[6]
Capitão-mor do Rio Grande do Norte significa o mesmo que governador do Rio
Grande do Norte, com poderes para organizar a guerra ofensiva e a defesa
militar. A simples expressão “capitão-mor” foi-se transformando durante o
tempo. No entanto, quando ela se segue da indicação de um território tem esse
significado. A concepção de “capitania” inclui o protagonismo de um
capitão-mor.
[7] É
curioso que esse documento, datado de 1765, tenha sido apresentado em CASTELLO
BRANCO (1980), páginas 217-238. A
curiosidade está em que, no contexto do livro de Renato Castello Branco, ele
pretendia indicar, ou mesmo comprovar, a condição incontroversa de nobreza por
parte de Francisco. Talvez, Renato nunca pudesse admitir que o documento fosse
usado para sugerir que Francisco não sabia bem sobre seus avós paternos.
[8]
CASTELLO BRANCO (2012).
[9] Eu
mesmo sou descendente de Manuel, várias vezes. Meu sobrenome Carvalho, no
entanto, me vem de Antônio Carvalho de Almeida, que não é irmão nem parente
documentado de Manuel, como se tem neste corrente ensaio.
[10]
Os apelidos da mesma pessoa podiam variar com as circunstâncias, como já se
tratou no corpo do ensaio.
[11]
Não tenho comprovação da ascendência do sobrenome “Carvalho de Almeida” a
“Carvalho” de Celorico de Basto, do século 12. Todavia, esta hipótese faz
sentido. É de se afastar, no entanto, sucessão por efeito de “apelido de
estirpe”; deve ter ocorrido uma continuidade por avocação e adoção por linhagem
colateral. Hoje, no Brasil e em Portugal, os de sobrenome Carvalho são
muitíssimos, mas muito menos eles foram, no século 16.
[13]
Ratificados em 24nov16, por Manuel Abranches de Soveral, conforme manifestação
escrita a mim, de 24nov16. Várias informações sobre datas foram feitas e
confirmações de outras.
[14]
ANTT – Tribunal da Inquisição, processo 1000.16.
[15]
Ver sobre esse assunto, ver CASTRO (2015).
[16]
A obra foi reeditada pela Academia Piauiense de Letras, em 2009, na versão de
que constam comentários e notas do Padre Cláudio Melo, historiador. Ver
CARVALHO (2009), em Referências, ao final.
[17]
Que podia variar para Domingos de Carvalho e Almeida.
[18]
ROSAS (1999).
[19]
Conforme constante do verbete “Antônio de Carvalho e Almeida”, no sítio da
Fundação José Augusto – Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine -
CEPEJUL: fjacepejul. nr.gov.br, em outubro de 2016.
[20]
“Numaro” é o mesmo que “numário” ou “numerário”, dinheiro. Ao que parece, o
texto curiosamente diz que o vencimento só se dará quando houver dinheiro para
pagar o que se prometeu.
[21]
Dados sobre o Antônio, sobrinho, constantes de PIRES FERREIRA (2013) e de
CASTRO (2014).
[22]
Verbete “Antônio de Carvalho e Almeida”, no site da Fundação José Augusto –
Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine - CEPEJUL: fjacepejul.
nr.gov.br, em outubro de 2016.
[23]
NIZZA DA SILVA (2005), páginas 28-29.
[24]
LOUREIRO (2015), páginas 335-341.
[25]
Guilherme Maia de Loureiro restringe o Antigo Regime em Portugal ao período da
história portuguesa entre 1640 (com a restauração da autonomia do reino em
favor de uma dinastia portuguesa, a Casa da Bragança) e 1820 (quando o rei dom
João VI deixa de reinar como soberano com poderes absolutos).
[26]
Crianças enjeitadas pelos pais ao nascerem e deixadas sem identificação para
serem cuidadas por alguém que as queira.
[27]
Trata-se das regras de direito gerais do reino de Portugal, feitas ao tempo dos
reis da Casa de Habsburgo (1580 a 1640), também chamados de reis filipinos,
porque todos eles chamavam-se Filipe.
[28]
Alexandre foi importantíssimo na formação histórico-geográfica do que veio a
ser o Brasil, uma vez que foi o autor da concepção e da argumentação em favor
do reconhecimento formal, pela Espanha, da ocupação portuguesa da enorme área a
oeste da linha imposta pelo tratado de Tordesilhas. Sua ação diplomática
magnífica foi concluída com a assinatura do tratado de Madrid, em 15 de janeiro
de 1750. Os tratados seguintes com a Espanha, o de El Pardo, em 1761, e o de
Santo Ildefonso, em 1777, rediscutiram e reafirmaram, respectivamente, a teoria
de Alexandre de Gusmão sobre o valor jurídico da posse efetiva de terras e não mais a posse formal. Alexandre é o “pré-brasileiro” mais ilustre que
tivemos, em termos das consequências de sua ação diplomática.
[29]
Conforme MARQUES (1993), o concelho de Ribeira de Pena foi criado pelo rei Dom
Afonso IV, em 1331, por pedido de seus moradores. Até então, Ribeira de Pena
era parte do concelho de Aguiar de Pena, depois dita Vila Pouca de Aguiar.
Muito tempo transcorreu até o final do século 17, no entanto, a região é a
mesma.
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