O QUE VOCÊ SABE SOBRE MURILO
BRAGA?
José Pedro Araújo (*)
Recentemente
relia um dos clássicos da literatura brasileira, MENINO DE ENGENHO, de José
Lins do Rego, um dos ícones da literatura nacional, quando me despertou a
vontade de saber a quantas andava o Engenho Itapuá, lugar que serviu de
ambiente para o romance do consagrado autor. Depois de uma rápida busca no
Google, deparei-me com um documentário de mais de uma hora sobre o autor, e
também sobre o velho engenho da sua infância. Com tristeza verifiquei que o
Itapuá não passa hoje de um conjunto de escombros, e as terras que viviam
cobertas por canaviais, hoje estão em mãos de um grupo de trabalhadores rurais,
expropriada que foi pelo governo federal. O documentário traz uma visão
completa sobre a vida do grande escritor regionalista e começa com um dos seus
organizadores em visita à cidade do Pilar-PB, terra natal do escritor.
Pilar é uma
cidadezinha de pouco mais de 11.000 habitantes, que já teve a sua importância
no auge do ciclo da cana-de-açúcar; vetusta a mais não poder, uma vez que fora
fundada em 1758, hoje não passa de uma cidadezinha perdida nos ermos sertões
nordestinos, apesar de já mesmo merecido uma música da lavra de Luiz Gonzaga e
seus parceiros: Moça de Feira.
De microfone
na mão, o documentarista foi em busca de um colégio que homenageava o
conterrâneo: Unidade Escolar “José Lins do Rego”. E passou a entrevistar os
alunos que naquele instante saiam de lá, possivelmente após o término das
aulas.
Curioso, o
documentarista perguntou ao primeiro aluno se ele sabia quem havia sido José
Lins do Rego. O adolescente respondeu que não. O repórter então perguntou ao
segundo aluno que saia, e obteve a mesma resposta. Ele também não sabia quem
fora o homem que emprestava o seu nome à escola, estampado em letras garrafais
no frontispício logo a sua frente. Depois de indagar a vários alunos, e obter
sempre respostas negativas, resolveu o documentarista sair pela cidade à
procura de alguém que soubesse algo sobre o ilustre filho da terra. E ao
abordar um jovem, logo próximo, trajando a farda do colégio, recebeu a resposta
que tanto almejava: ele sabia quem fora José Lins do Rego. Disse ainda que era
até seu parente, declinando o seu nome a pedido do entrevistador. Animado, o
visitante perguntou se ele já havia lido algum livro do parente; Ele respondeu
que havia começado a ler um, mas não havia terminado. Foi uma ducha de água
fria.
Foi depois de
ver o documentário sobre esse autor nordestino que revolucionou a literatura
com a sua forma seca, direta, mas que abordava temas regionalistas de grande
importância, como o ciclo da cana e o cangaço, que me ocorreu escrever a
presente crônica. E antes de iniciá-la, eu já esclareço: somente quando iniciei
minhas pesquisas para o livro “Do Curador a Presidente Dutra – história,
personalidades e fatos”, soube quem havia sido o homem que deu nome ao colégio
em que fiz parte significativa do meu curso primário: Dr. Murilo Braga. Construído na gestão do prefeito Gerson
Sereno, nos idos da década de cinquenta, o grupo escolar Dr. Murilo Braga
continua sendo uma referência no ensino público da cidade de Presidente Dutra.
Quando para lá me transferi, por volta de 1960, deslumbrei-me com o tamanho do
prédio e a quantidade de salas de aula, oriundo que era da pequenina Escola
Rural, e depois da União Artística e Operária, ambas situadas na praça do mercado.
Naquele tempo a diretora do Murilo Braga era a professora Mariazinha Barros, e
a minha primeira professora naquele colégio foi a jovem Marli Sá, uma
Ludovicense, cunhada do Ailton Sereno, figura muito conhecido na cidade.
A professora
Marli era uma pessoa admirável, bonita, doce e muito atenciosa, que me adotou
logo de cara a ponto de algumas vezes me convidar para lanchar na pequena
lanchonete que existia na frente do colégio. O lanche era café com bolo frito
ou chapéu de couro, invariavelmente, e eu sempre dava um jeito de ficar ao lado
dela logo que a campainha anunciava o horário do recreio. Coisa de menino
pidão. E por ser o aluno mais novo da
turma e, modéstia às favas, tirar sempre algumas das melhores notas, ganhei a
amizade da minha professora e até uma fotografia sua, mimo que até poucos anos
ainda tinha comigo. Ganhei também o epíteto de caçula. Dona Marli era muito
culta e gostava de demonstrar isso ao entoar, em um francês que acredito
perfeito, e com uma voz limpa e aveludada, o hino nacional daquele país, a
Marselhesa. Só não me recordo se ela me falou quem foi o cidadão que deu nome
àquela escola, o tal doutor Murilo Braga.
Acredito até
que poucos alunos hoje, depois de indagados, responderiam saber quem de fato
foi o homem que emprestou o seu nome ao colégio em que estudam ou estudaram.
Vou mais além: aposto que poucos sabem quem foi o homem que deu nome a uma das
principais artérias da cidade, a Rua Magalhães de Almeida, ou mesmo a sua
cidade, o tal Presidente Dutra. Creio que já passa da hora de os nossos
educadores se preocuparem com coisas como essas. Discorrer sobre os nossos
principais autores, descrever quem foi o cidadão que deu nome ao colégio em que
ensinam, essas coisas. Melhor do que falar sobre o Presidente americano ou
Francês, ou mesmo Fidel Castro ou Che Guevara, tão ao gosto de muitos. Hoje os
políticos passaram a nominar os prédios públicos com os seus próprios nomes ou
o de alguém da sua família, ou mesmo um político do seu agrado, e isso talvez
desestimule a maioria a falar sobre o assunto. Mas já foi diferente.
O tal doutor
Murilo Braga, volto ao assunto, foi um advogado piauiense, nascido em
Luzilândia em 1912, que teve grande importância na educação do país, e que
passou a dar o seu nome prédios escolares em quase todos os estados da
federação. Murilo Braga foi diretor do Instituto de Educação do MEC, diretor do
Instituto de Estudos Pedagógicos do mesmo ministério e diretor Geral do DASP,
órgão federal responsável por todos os concursos para preenchimentos das vagas
do serviço público no Brasil, entre outros cargos por ele ocupados. Deve ter
sido o responsável pela liberação dos recursos para a construção do nosso
querido e importante Grupo Escolar Dr. Murilo Braga, daí merecer a homenagem.
Finalizo este
texto afirmando que, talvez por conta da vergonhosa participação dos alunos do
município no documentário acima referido, a secretaria de educação municipal do
Pilar, Paraíba, realizou em 2014 um desfile cívico em homenagem ao filho da
terra, José Lins do Rego. De estranho apenas o fato de ter sido outro colégio
quem homenageou o escritor nascido no Pilar, e não o colégio estadual que leva
o seu nome. Mas isso é o de menos.
(*) Romancista, contista,
cronista e historiador.
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