Estão
matando gente que nem se mata cachorro no Oriente Médio
Pádua Marques
Jornalista, cronista e romancista
Dia desses, há pouco mais
de um mês, um rapaz de seus dezessete anos, ladrão de pequenos objetos e
guardador de carros nas horas vagas, quase, por uma peinha de nada não acaba
sendo linchado no centro de Parnaíba por uma multidão de gente enfezada, feito
assim do tipo, comerciantes, clientes, desocupados e a sempre pronta milícia
dos mototaxistas das esquinas e da praça da Graça.
Pelo que se sabe o jovem
é morador de rua, natural de Fortaleza e já tendo na ficha técnica e no
curriculum vitae uma acusação de ter matado uma pessoa. Segundo testemunhas,
acabara de roubar uma caixa de som numa loja. Está naquele chamado, curso de graduação,
depois vem a pós e, coisa rápida, assim num esfregar de olho, algumas passagens
pela Central de Flagrantes deve tentar um voo mais alto, um mestrado no mundo
do crime.
O certo é que o rapaz de
iniciais J.A.C apanhou mais que galinha pra largar o choco. Foi taca pra todo
lado e em tudo que era parte do corpo. Cabeça, tronco, membros, os inferiores e
os superiores, entre as pernas, no solado dos pés. Pelo que fiquei sabendo uma
milícia de mototaxistas foi a que bateu mais e só não matou porque a uma altura
daquelas alguém havia chamado a polícia. Essa, chegando tratou apenas de
apreender o rapaz.
Mas pelo que se soube
deixou sem qualquer punição as pessoas que por pouco não cometeram um
homicídio. Sem querer ser advogado de defesa de um marginal, fico aqui pensando
a quantas anda a falta de segurança em todo o Brasil e na Parnaíba a ponto de
mais de trinta pessoas pegarem um aprendiz de ladrão, desarmado, magro,
faminto, usuário de drogas e, baterem na base do chute, golpes de pau e murros.
Mais um pouco e era capaz de terem capado ele.
Baterem nele mais que
cozinheira bate em bife. E este não foi o primeiro e certamente não será o
último caso de tentativa de linchamento de pessoas cometendo crimes aqui em
Parnaíba. E a gente que era acostumado a ver apenas nos filmes policiais ou nos
noticiários da televisão, agora nem precisa mais esperar por Hollywood. Todo
dia os portais e a televisão mostram. Desde as seis da manhã até às seis da
tarde na televisão.
A violência está solta.
Roubo e furto de celular a toda e qualquer hora do dia e da noite. Aliás,
ladrão, de terceira linha não e nem procura mais dinheiro entre as vítimas.
Procura o celular. Virou a primeira moeda, aquela de maior poder de troca no
mundo da criminalidade. E por causa de celular estão matando gente aqui que nem
cachorro nesses países muçulmanos.
Deus mesmo é que há de
livrar os cachorros daqui caírem na besteira de pender praquele lado. Diabo é
quem quer ser cachorro naquele fim de mundo. Por uma besteira de nada a pessoa
pode perder a vida. Ninguém tem mais segurança nem sentado na calçada pra falar
mal de quem passa. Ninguém se admira mais de ver gente morta, assassinada, ensanguentada,
desfigurada. E a gente da minha geração achando que a Segunda Guerra havia
terminado...
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