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As minhas Copas do Mundo de
Futebol (3)
José Pedro Araújo
Romancista, cronista e
historiador
A Copa do Mundo de 1986 deveria
ter sido realizada na Colômbia. No entanto, as dificuldades econômicas sofridas
pelo país à época, somada às exigências das marcas comerciais aliada às da
própria FIFA que solicitava, além de grandes estádios, inúmeras regalias para
os dirigentes da entidade, levaram o país sul-americano a renunciar à escolha
da sede. Assim, houve uma disputa entre México, Estados Unidos e Canadá para
definir o novo anfitrião do Mundial. Como o torneio havia sido realizado
dezesseis anos antes no país latino com enorme sucesso, os mexicanos venceram
de maneira unânime o pleito realizado em 1983, tornando-se os primeiros a
abrigar duas Copas diferentes.
Nessa copa do mundo já estava
residindo na minha própria casa, onde moro até hoje, e me preparei para ela
comprando uma televisão maior que a da copa anterior, de 20 polegadas, o maior
tamanho encontrado no mercado naqueles distantes tempos. Era uma Sharp com
controle remoto, e com uma imagem de tirar o fôlego. E o melhor: além da
mulher, tinha agora três filhos para animar a festa. Mas, apesar disso, e do
mundial ser disputado no México, país em que ganhamos a nossa última copa, não
estávamos tão confiantes assim, pois a seleção brasileira havia se classificado
sem brilho nas eliminatórias, enquanto a Argentina havia passado voando baixo
pelo seu grupo. E ainda contava com Maradona, o melhor do mundo na época.
Aquela copa haveria de ser deles, por tudo que o Pibe fez. Apesar de contarmos
com alguns craques da copa anterior, o time estava muito mudado, e já não
apresentava a mesma qualidade da anterior.
Até que fomos bem na primeira
fase: vencemos as três partidas jogadas. Sem muito brilho, é bem verdade, mas
mesmo assim, vencemos. 1x0 na Espanha, 1x0 na Argélia e 3x0 na Irlanda do
Norte. Parecia que melhorávamos jogo após jogo. Fui me empolgando, e os
preparativos para os jogos foram melhorando também em minha casa: bandeiras,
camisas, a música que antecedia aos jogos, e um grupo de amigos que aumentava
jogo a jogo. O campeonato agora tinha uma nova distribuição de fases. Assim,
passamos para as oitavas de final em jogo eliminatório, quem perdesse voltava
para casa, como acontece hoje em dia. Ganhamos de forma incontestável da
Polônia por 4x0, classificando-nos para a fase seguinte, as quartas-de-final. E
isso nos animou bastante. Fomos para o jogo contra a França de Michel Platini
com a maior confiança possível. A seleção estava engrenando dentro do torneio,
crescendo jogo a jogo, e a adversária, apesar de não ser uma carne-frita, não
era uma ganhadora de copas.
Foi um jogo nervoso e que
terminou empatado em 1x1. E como era eliminatório, fomos para os pênaltis e,
para grande desgosto, eliminados. Voltamos mais cedo para casa mais uma vez. As
festas acabaram aqui em casa. Os amigos não apareceram mais para ver os jogos
solidariamente. E ainda vimos os nossos piores adversários, a Argentina de
Maradona, ganharem a copa com uma vitória sobre a Alemanha. Decepção total!
A Copa do Mundo de 1990 foi
disputada na Itália, e não estávamos tão confiantes com o time que mandamos
para lá, a começar pelo treinador, um tal Sebastião Lazaroni. Apesar de tudo,
em casa preparamos tudo mais uma vez para festejarmos o evento com o maior
carinho. A nossa TV ainda era a mesma que fora adquirida para a copa anterior,
pois não havia necessidade de uma nova. A chamada seleção do Dunga não nos
empolgou na primeira fase, apesar de termos ganho todas as três partidas. O
placar apertado nos jogos sobre adversários fracos, ia nos preparando o
espírito para o pior. E isso aconteceu da pior forma possível: contra o nosso
adversário mais intragável, a Argentina. Até jogamos melhor, mas perdemos o
jogo por 1x0. A copa do mundo passou a ter a qualidade de uma festinha do tipo
tertúlia, com o mesmo sabor de quando temos que dançar com uma irmã.
E enquanto para nós transcorria
tudo na maior desanimação, íamos vendo a Argentina de Maradona crescer dentro
da competição, ultrapassando adversários poderosos até chegar a final contra a
Alemanha. Para nós, aquela copa ia ficando cada vez mais intragável, sem graça.
Preparamos uma festinha chocha, sem muito emoção, para vermos a final, todos
torcendo contra a nossa vizinha de América do Sul. Menos mal que a Alemanha
venceu e nos deu um pouco de alento ao bater a Argentina na final. Ficou aquele
gostinho aético de nos alegrarmos com a derrota dos outros. Mas gostamos do
resultado mesmo assim.
Em fim, chegamos à Copa do Mundo
de 1994 a ser disputada nos EUA, país sem nenhuma tradição no futebol. Filhos
já crescidos, foram eles que conduziram a animação, pois eu mesmo não comecei
muito empolgado aquela copa. E para demonstrar isso, basta dizer que fiz
reserva de hotel em São Luís para passar alguns dias de férias com a família
exatamente no período coincidente com as semifinais do torneio. Não acreditava
que o Brasil chegasse até lá. Mas, mesmo assim, comprei uma televisão nova de
29 polegadas, tela plana. Queria me utilizar das novidades que teríamos nas
transmissões, situação propagandeada pela Globo diariamente.
Passamos bem pela primeira fase,
com vitórias sobre a Rússia, Camarões, e empate com a Suécia. Apesar de tudo, o
Brasil jogava um futebol de pouco brilho, levado pela genialidade de um certo
baixinho letal, Romário, coadjuvado por outro azougue, Bebeto. Passamos para as
oitavas-de-final com certo louvor, em primeiro lugar do grupo. Encaramos os
donos da casa, os Estados Unidos, e passamos com um apertado 1x0. Enquanto
isso, os Argentinos foram eliminados pela Romênia: dupla vitória nossa.
Nas quartas-de-final enfrentamos
um adversário que se tornaria frequente em copas do mundo: a Holanda. Dessa vez
vencemos por 3x2. Estava começando a me animar com aquela copa do mundo, e a
torcida só crescia em casa. A decoração para as festas também. Mas, como já afirmei, tive que assistir às
partidas semifinais em um apartamento de hotel em São Luís do Maranhão. Assisti
aos jogos dessa fase sem festa e quase sozinho, pois os meninos preferiam
aproveitar a piscina do hotel. Passamos outra vez pela Suécia em jogo muito
difícil, adversário da primeira fase com quem havíamos empatado em 1x1.
Ganhamos o jogo com um gol de Romário. Sempre ele.
Animei-me para assistir à final
em um lugar mais alegre e festivo, e viajei para o meu torrão natal, Presidente
Dutra, a convite do meu irmão que praticamente inaugurava a sua casa nova. Lá a
festa estava armada. Na área da piscina estava toda a família, além de alguns
amigos queridos. Se a churrasqueira não parava de funcionar, o freezer não
fazia feio também e vomitava cervejas estupidamente geladas. Quanto à partida
contra a Itália, já faz parte da história: empatamos no tempo normal e na
prorrogação, e fomos ajudados pelo craque deles, Roberto Baggio, que chutou o
último pênalti para fora. Foi de Baggio o mote para o “gran finale”: fomos
todos comemorar dentro da piscina. Como coube tanta gente, não sei explicar.
Foi a única partida de Copa do Mundo que assisti pela TV na minha terra natal
até hoje. E foi inesquecível a comemoração do Tetra Campeonato buscado pelo
Brasil desde aquela festa monumental no México, 24 anos passados.
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