O JUIZ RAIMUNDO CAMPOS
Elmar Carvalho
Em
virtude da reforma que será feita no prédio do Fórum Dr. Raimundo Campos, desta
Comarca de Regeneração, foi feita a mudança da repartição para uma casa antiga,
situada no centro histórico da cidade, mais perto da matriz de São Gonçalo,
santo de origem portuguesa, em cuja honra existiam as antigas rodas e cantigas
que levavam seu nome, hoje quase extintas, sem ninguém que as dance, sem
ninguém que as cante.
Há quem diga que São Gonçalo do
Amarante, tradicionalmente conhecido como alegre, festeiro e violeiro, não
chegou a ser canonizado, mas teria chegado apenas ao posto de beato nos
procedimentos católicos. De qualquer forma, o povo o canonizou e ele se tornou santo de fato, e como tal é reverenciado por clérigos e profanos.
O
Dr. Raimundo Campos foi juiz de Regeneração e Amarante por vários anos. Homem
sem jaça, de reputação ilibada. Nasceu em Oeiras, em 10 de agosto de 1881,
descendente de importante estirpe da velha capital. Era pai do grande
teatrólogo e professor piauiense José Gomes Campos, cuja obra prima é o Auto do
Lampião no Além.
Para que se tenha uma pálida
ideia desse magistrado, basta que se diga que ele recusou a governança do
Estado do Piauí e, posteriormente, o cargo de desembargador. Numa época de
muita ganância, muito egoísmo e ânsia por cargos, uma atitude como essa causa
admiração, senão mesmo perplexidade.
Era
ele um homem austero, talvez um tanto circunspecto, mas tratava todos com
cordialidade e fazia suas obras filantrópicas, sendo certo que tinha o respeito
e a consideração dos seus jurisdicionados. Contou-me Nileide Soares, que seu
pai fora amigo do juiz e falava muito bem dele, considerando-o um homem correto
e digno.
Dele ficou a memória de um caso
anedótico, em que teria dado uma decisão contra um homem por causa de um delito
de pequeno potencial ofensivo, como se diz hoje. O infrator o abordou,
insistindo para que ele desse um “jeitinho”. Pelo visto o chamado jeitinho
brasileiro já deveria existir naquele tempo. O Dr. Raimundo Campos, com
inegável senso de humor, respondeu-lhe que era formado em Direito e era juiz de
Direito, e, portanto, não poderia ser torto, e indeferiu a súplica verbal de
forma liminar e peremptória.
10 de fevereiro de
2010
Coincidentemente, meu caro amigo, hoje a imprensa traz um comentário da Presidente do Supremo, Ministra Carmen Lúcia, em que ela afirma que "a população está cansada de todos nós, inclusive da justiça". Juízes como o do texto são mais do nunca nunca necessários em um país em que a descrença é o principio e o fim de tudo.
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