A existência de
Deus e os seus planos
Elmar Carvalho
Releio, pela
enésima vez, este texto de Epicuro: “Deus, ou quer impedir os males e não pode,
ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é
impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que,
do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e
impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa
compatível com Deus, donde provém então a existência dos males? Por que razão é
que não os impede?”
Nunca me
inquietei com essas indagações, e sempre tive resposta para elas. Apenas nunca
externei o que sempre esteve em minhas convicções e fé. Enfrentarei a
problematização da primeira parte da citação e tentarei encontrar uma resposta.
Em momento algum Epicuro negou a existência de Deus. Portanto, a admitiu.
Aliás, todas as perguntas partem do pressuposto de que Deus existe. Faz tempo
venho adiando escrever uma crônica, que forceja em meu cérebro, louca para ser
dada à luz da publicidade. Escrevê-la-ei agora, e com ela tentarei responder
aos questionamentos epicurianos.
Quando fiz
minhas primeiras viagens aéreas, tinha muito medo, e sequer olhava para as
belezas que poderia ver da janela, fosse uma bela e verdejante colina ou uma
caprichosa enseada marinha, ou fosse o celestial alumbramento das nuvens, nas
quais gostaria de deitar e rolar. Entendi que esse medo de nada adiantava, já que
eu era forçado a enfrentar a viagem. E se houvesse algum acidente, de nada me
valeria essa inquietação. Portanto, era inútil, e apenas me incomodaria durante
o voo.
Além do mais,
considerando que avião é o meio de transporte mais seguro, exceto elevador, eu
apenas sofreria por algo que dificilmente iria acontecer. Por outra parte,
raciocinei que o avião fora construído por quem sabia o que estava fazendo, por
quem tinha conhecimento, ciência, experiência, e a mais avançada tecnologia e
os mais adequados e sofisticados materiais.
Também pensei
com os meus botões: quem o pilotava sabia o que estava fazendo, estudara, tinha
um plano de voo e igualmente seria vítima de eventual erro que cometesse, pelo
agiria sempre com responsabilidade e prudência. Assim, decidi confiar, mesmo
porque não poderia fazer outra coisa, uma vez que resolvi entrar na aeronave.
Da mesma forma,
para responder às indagações do filósofo, direi que Deus, cuja existência ele
admite no enunciado de seu silogismo, tinha e tem pleno conhecimento de sua
obra e, certamente, tem um plano maravilhoso e perfeito, como só podem ser as
obras divinas. O que sucede é que nossa inteligência e nossos conhecimentos são
diminutos, para que possamos entender a mente e a inteligência infinita de
Deus, como igualmente não conhecemos os pormenores de seu plano.
Ora, quanto
mais o homem tenta perscrutar os umbrais do infinito, do infinitamente grande,
mais novas grandezas ele descobre no espaço sideral. E, quanto mais se volta
para o infinitamente pequeno das partículas e da mecânica quântica, mais se
surpreende com subpartículas cada vez menores e cada vez mais sutis.
Até já disse,
num de meus poemas, que atingi o infinito ao ficar infinitamente pequeno. Dessa
forma, entendo que não devemos nos preocupar com as indagações do velho
Epicuro. Confiemos no criador da aeronave, que é Deus, e confiemos no plano de
voo do piloto, que também é Deus. Talvez Ele, que é perfeito, não tenha
desejado criar uma obra pronta e acabada, mas uma em construção, em permanente
marcha para a perfeição, apesar dos momentâneos e aparentes retrocessos.
E, no final
dessa odisseia, que é a própria existência, chegaremos ao porto final, sãos e
salvos, puros e redimidos, recolhidos ao corpo místico de Deus, como pequeninos
agasalhados em colo aconchegante e protetor.
Para finalizar,
considerando que Epicuro fez várias perguntas, seguindo as pegadas e as lições
de Lavoisier, quero fazer apenas uma: será se algo ou alguém que obteve a
existência poderia algum dia perdê-la, ou haverá apenas uma transformação
existencial, uma nova dimensão do existir, do ser? Sem ansiedades, confiemos e
esperemos. Em Deus.
10 de março de 2010
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