SUGESTÕES PARA UM MELHOR
CONHECIMENTO DOS ESCRITORES BRASILEIROS REGIONAIS
Cunha e Silva Filho
RESPOSTA A UM IMPORTANTE ARTIGO DO ESCRITOR E
POETA GEOVANE MONTEIRO SOBRE A POSSIBILIDADE DE TORNAR MAIS VISÍVEIS ESCRITORES
BRASILEIROS DE TALENTO QUE AINDA PERMANECEM ILUSTRES DESCONHECIDOS
NACIONALMENTE:
Um artigo que mais parece um
manifesto de um moço ficcionista piauiense, que é o Geovane Monteiro.Seu artigo
pertence àquele tipo de escrita que nos obriga a prestar atenção ao que ele
acentua, enfatiza e chama à razão, ao debate, às discussões pertinentes e
momentosas. Sim Geovane. V. nos leva, assim, àqueles pontos nevrálgicos da
questão maior: como saber lidar com a minimo espírito de justiça com os
escritores regionais, deles alguns de grande valor que ainda não ultrapassaram
o apartheid (pegando o seu gancho vocabular) do eixo Rio -São Paulo e de outros
estados com intensa produção literária? Precisamos desregionalizar os
escritores menos conhecidos e procurar meios de os levar à visibilidade do
público brasileiro.Para isso, teremos que enfrentar uma batalha difícil e cheia
de meandros conexionados com a realidade editorial brasileira, e com todos os
óbices ainda a serem superados nessa luta contra o anonimato. Creio que as
universidades deveriam se empenhar nessa campanha de fazer uma espécie de
intercâmbio, através de encontros, conferências ou seminários, de escritores
regionais menos conhecidos e os aproximarem dos estudantes do ensino médio e
superior. O próprio MEC deveria jogar um papel importante nesse sentido,
alocando recursos e estabelecendo estratégias e logística a fim de tornarem
essas metas em realidades que só fariam avançar o conhecimento de todos os
envolvidos - escritores, alunos, professores, pesquisadores - para a
diversidade de nossos talentos ainda pouco ou nada visíveis no cenário
cultural-literário nacional. Esse assunto precisa ainda ser amadurecido junto a
outros interessados nessas novas descobertas de bons e ótimos autores
brasileiros. Deixo, pois, em aberto essas sugestões.
NOTA: VEJA ABAIXO O ARTIGO DO
ESCRITOR GEOVANE MONTEIRO
Das amenidades
Sempre a história dos literatos
injustiçados. Pior quando lembramos dos superestimados em detrimento dos bons
autores que inexistem a um público leitor menos acanhado - isso quando lhes
resta ao menos o acanhado na figura do pequeno ciclo de amigos. Nesse cenário,
também a crítica especializada parece buscar no midiático a rigor, salvo raras
exceções, o sentido de ser, porque "não lhe há outra saída".
Hoje, com o infindo espaço
virtual para publicações, não seria razoável desconsiderar o intento hercúleo
de um mapeamento, mesmo sério, sem as inevitáveis lacunas, mas que não
justificam uma elitização. Se antes havia os " missionários do
cânone", imaginemos agora com tantas produções nas redes sociais
especialmente em espaços mais particulares como blogs e sites. Entanto, o mercado
editorial no geral, sob a conveniência da " difícil tarefa da
demarcação" contempla - e por que não lembrar de seu marketing digital,
seu controle de dados!?- deliberadamente aqueles que escrevem com o carisma
para um público maior, e nem sempre a qualidade das obras faz a diferença nesse
processo . Os, digamos, mercadológicos - inclusive quanto a estratégias de
tertúlias com grandes divulgadores culturais. Estou frizando uma realidade
existente quando nem se imaginava um dia haver a era digital. Resultado nada
negociável : uma aritmética ainda maior de bons e dedicados autores fora de
cena....
A esse respeito, aludiu o crítico
literário Cunha e Silva Filho, uma exceção de crítico honesto porque não
falacioso, em seu ensaio intitulado Os autores desconhecidos e outras reflexões
sobre literatura brasileira :" Todas as histórias literárias são incompletas,
lacunosas e por vezes injustas e, ao procederem assim, privam o leitor de
entrar em contato com os autores dignos de reavaliação. Carecemos, em nossa
historiografia literária, de uma obra que se destinasse a propiciar uma visão
em síntese, mas de amplo espectro da literatura brasileira de autores
contemporâneos e que abarcasse pelo menos da última década do século passado
até os dias atuais. Poderia ser um trabalho coletivo". Mas como nem tudo
são espinhos, Cunha me informa, nessa mesma fonte, que há um trabalho com
propósito menos segmentário em "Ficção brasileira contemporânea", de
Karl Eric Shochhollhammer, livro que registra nomes de autores mais novos. Que
surjam muitos outros navegadores sem medo de piratas federais!
Uma outra intercessão interessante
me veio do escritor João Pinto, quando arrisca que os estados poderiam divulgar
seus artistas locais desde as universidades às escolas públicas através, por
exemplo, da adoção de obras de autores locais. Eis uma sóbria e simples e fácil
política pública que custaria iniciativa sem ônus, já que escritores já são
divulgados. Seria uma troca ( melhor falar em prioridade, para eu não cair no
pecado do rigor) sem nenhum risco, senão salvar muita gente boa do anonimato
inclusive local. Sim, na melhor das hipóteses, um pequeno número de escritores
longe dos ares Sul/ Sudeste são conhecidos somente em suas províncias, em seus
rincões - a exemplo de Nauro Machado, H. Dobal e Assis Brasil, entre outras
tantas grandes figuras praticamente desconhecidas do grande público. Quando
muito, alguns deles seguem pelos ventos como apenas nomes e não autores. Ventos
sem os dribles nas comodidades ideológicas, nas convenções históricas, nos
discursos geopolíticos em que o tempo já disse.
Quem mais ganharia com o fim
do" apartheid literário" com a " proteção das fronteiras"
seria o horizonte de leitores, no sentido de um incentivo a mais à leitura, já
que novas propostas na luta com as palavras nos levariam às diversas realidades
no viés da ficção. Assim, literatura não seria apenas conteúdo de vestibulares,
ordem dos bispos dos grandes centros.
Mas então, se podemos visualizar
iniciativas de percurso tão básicos, sem complexidades alguma, embora a médio
ou a longo prazo e não absolutamente corrigíveis em razão das infindas manifestações
anunciando o tempo; no raso do pensamento, no discurso até piegas, por que a
resistência com o que é tão possível, tão previsível? Por que divulgar, repetir
aqueles que já são festejados no país inteiro pela grande mídia? Até quando
tudo estará restrito ao insumo do mercado? Os artistas locais, num dia de
sorte, teriam então que estudar o mesmo evangelho da autoajuda, do
empreendedorismo, e de tudo que se busca para o carisma business? Acontece que
cantar a São Luís, versejar sobre o calor e a cajuína de Teresina (esquecendo
aqui o estrelato de um Caetano) não justificariam os Paulo Leminskis e os
Thiagos de Mello da vida.
O negócio então é ser visceral em
si e pronto!? Até porque ser visceral é indiferente a circunstâncias. Não se
trata de consolo, mesmo enquanto os muitos obstáculos durem... Escrever não
espiritualiza tal qual fazer uma prece em secreto dentro do quarto!? Eis o off
price!
( G. Monteiro a 24. 03. 2019)
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