PESSOAS COMUNS
MUDAM O MUNDO
Weliton Carvalho
a Ivo Dantas
Eu sou a flor que o vento jogou no chão
Mas ficou um galho
Pra outra flor brotar
A minha flor o vento pode levar
Mas o meu perfume fica boiando no ar.
[João do Vale. In. A voz do povo]
O
povo
– não o conceito clássico da
ciência política –
nem o alcance opaco das
constituições:
menos ainda o significante dos
discursos políticos.
Mas o povo,
tal meu vizinho,
o irmão do teu amigo,
teu filho
– tomaram as ruas do Brasil em
junho de 2013
e escreveram um poema datado
para o futuro.
De
repente,
o povo redescobriu
a praça,
os protestos na internet não bastavam:
no mundo virtual a vida
não transpira:
almas precisavam dos
corpos presentes.
A praça é do povo!
como o céu é do condor.
É o antro onde a liberdade
cria águias em seu calor
– relembra o poeta condoreiro.
E o povo sempre recita
os poetas
– que os verdadeiros poetas
cantam o povo.
E de há muito o
poeta sabe:
pessoas comuns mudam o mundo,
porque o fazem girar em
sonhos.
E
o governo atônito convoca os burocratas,
que
nada sabem do povo além das estatísticas
e
que bestificado – essa massa sempre amorfa –
recebeu
o Império e assistiu a República.
O que é o povo?
– indagam os palácios.
Os
cientistas sociais se debruçam sobre Siéyes.
A
praça, a velha ágora grega,
– não mais censitária –
nada
mais público e popular
ferve
num turbilhão de desejos
a dizer: o povo existe.
E agora?
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